Onde “plantar” o novo aeroporto de Lisboa?

Impressões Digitais by Paulo Jorge Oliveira
Onde “plantar” o novo aeroporto de Lisboa?


A noticia tem passado despercebida na opinião pública. A “crise”, a “troika”, os “crimes” de Duarte Lima e afins preocupam mais a “grande informação”. Mas a notícia é importante.
As últimas notícias sobre uma eventual nova infra-estrutura aeroportuária nacional, em que volta a assumir grande destaque a solução ‘Aeroporto da Portela + 1’ para solucionar os problemas da saturação de tráfego no actual Aeroporto Internacional de Lisboa, recuam, pelo menos, quatro anos. Já tínhamos ouvido falar disso em 2007, no auge da discussão das alternativas para a capital portuguesa.
Mas há, pelo menos uma dúzia de anos, que o processo tem-se arrastado na opinião pública. Gastaram-se milhares em estudos para decidir se o Aeroporto seria em Rio Frio ou na Ota. Ficou na Ota. Depois surgiu dúvidas e voltou-se a gastar mais dinheiro (muito dinheiro) em estudos para achar um novo lugar para o Aeroporto de Lisboa. Acabou por cair no Campo de Tiro de Alcochete.
Durante todos estes anos, os vários Governos da República, não tem sido capazes de definir um plano, nem arquitectar um projecto convincente que aproveite as valências nacionais, adaptadas às necessidades e características de cada zona, adequando os aeroportos existentes às necessidades de tráfego de cada uma das regiões. Mesmo tendo em conta a activação de aeródromos regionais de segunda linha que possam ter alguma importância para o crescimento da actividade económica local.
O último ‘elefante branco’ nasceu em Beja. A obra de adaptação da Base da Força Aérea Portuguesa demorou muito tempo a ser feita, o projecto foi uma manta de retalhos, desenhado e programado para agradar a clientelas políticas alentejanas, com custos incríveis, e agora entregue à ANA, Aeroportos de Portugal, com a obrigação de o gerir. Resultado: não tem tráfego, não criou emprego, não está a gerar riqueza, sendo antes um pesadelo para quem tem agora a obrigação de o gerir e de absorver os custos de uma infra-estrutura aeroportuária que não foi promovida como deveria ser, nem correspondeu a uma necessidade de tráfego.
Em Lisboa o cenário é conhecido. Arrasta-se desde, há muitos anos, quando um governo de pendor social-democrata se lembrou que a nova infra-estrutura poderia desenvolver-se na Ota, a cerca de 40 quilómetros do centro de Lisboa. Os estudos feitos então mostraram algumas limitações na operacionalidade da solução. Não apareceu dinheiro para seguir adiante e a ideia hibernou numa gaveta do Ministério das Obras Públicas e Transportes. Entretanto, começou a especulação imobiliária, a compra de terrenos por parte de individualidades ligadas ao aparelho de Estado que acreditavam na solução e até de pessoas ligadas profissionalmente às companhias aéreas que sonhavam já em mudar-se para a área da Ota.
Passados alguns anos, chegaram os socialistas ao poder e o projecto foi desenterrado. Seguiu-se um braço de ferro que se arrastou por cerca de dois anos, em 2006 e 2007, em que os técnicos conseguiram demonstrar a um governo teimoso que a melhor solução seria deslocalizar toda a infra-estrutura de Lisboa para a zona de Alcochete, na outra margem do Tejo, onde hoje está o campo de Tiro da Força Aérea Portuguesa. Mas já nesse debate, que assumiu foros de tema nacional prioritário, diversos sectores de actividade e associações de classe, mais com os pés no chão, e fora do ‘grupo dos empreiteiros’ que sempre se mexem bem nos corredores ministeriais, achavam que a melhor solução seria o ‘Aeroporto da Portela + 1’, tendo então tomado destaque a hipótese de colocar um dos três aeroportos militares da zona de Lisboa – Montijo, Alverca e Sintra – no lugar do +1.
Há estudos feitos, alguns bem explícitos e descritivos das vantagens e desvantagens de qualquer uma das opções. Passaram-se quatro anos, e agora que não há dinheiro para seguir com a opção Alcochete, o Governo opta por criar uma nova comissão para estudar qual dos três aeroportos é o que melhor serve para a opção.
Não sou técnico de aeroportos, mas pelo que conheço e tenho lido, e conheço alguns desses estudos de forma exaustiva, quase que aposto que Montijo é a hipótese melhor, mais consistente e, sobretudo, mais barata.
O Governo deu um prazo de um ano a uma nova comissão de trabalho que vai estudar a questão. Mais um ano. E, depois disso, será que será a opção final ou vai-se continuar a “estudar” onde plantar um aeroporto?


Paulo Jorge Oliveira
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