Greve Geral

O que pode parar amanhã

Serviços mínimos nos transportes públicos e aeroportos, transtornos em escolas, tribunais e repartições públicas, constituem o cenário que acompanhará a greve geral de amanhã, quinta-feira. O sector dos transportes públicos de passageiros dá início à paralisação ainda esta noite de quarta-feira, e prevê-se que seja o que mais afectará a normalidade do dia-a-dia.

Greve Geral é um "aviso" ao Governo 


Por ordem do Tribunal Arbitral, a Carris, por exemplo, apenas será obrigada a assegurar 50% dos serviços regulares, pelo que muitos cidadãos serão obrigados a recorrer a viaturas particulares, passando as principais cidades a ter mais tráfego do que o normal.
O Metropolitano de Lisboa, empresa que mais passageiros serve no país, já anunciou paragem entre as 23h00 de hoje e as 01h00 de sexta-feira, e o mesmo constrangimento de serviços está previsto para as transportadoras Soflusa e Transtejo, que garantem a travessia do rio Tejo, em Lisboa. 
Do lado das instituições de ensino, e de acordo com a agência Lusa, sindicatos de professores e funcionários, de escolas de todo o país reiteraram a promessa de uma “forte” adesão à greve geral, e que poderá forçar o encerramento, desde pré-primárias a universidades. 
Sobre os centros de saúde, os sindicalistas das duas centrais alertaram já para a possibilidade de cancelamento de consultas e adiamento de cirurgias programadas, garantindo apenas o funcionamento dos serviços de urgência - o mesmo registo serve igualmente para os sapadores bombeiros.
Os tribunais também deverão ser afectados, admitindo-se o adiamento de julgamentos e funcionamento das cadeias, apenas com os meios indispensáveis. A mesma compressão de serviços é esperada nas entradas e saídas do país, controladas pelo Serviço de estrangeiros e Fronteiras.
A paralisação dos trabalhadores surge como resposta às medidas de austeridade, anunciadas pelo executivo de Pedro Passos Coelho, e começou por ser convocada, apenas pela CGTP, a confederação sindical mais à esquerda, tendo sido depois apoiada pela UGT, tornando-se, assim, a terceira greve geral apoiada pelas duas centrais sindicais. 
CGTP e UGT esperam grande adesão e já avisaram que esta greve é um aviso sério ao Governo.


Transportes urbanos
Em Lisboa, a Carris prevê assegurar o funcionamento de 50% do regime normal das carreiras 12, 36, 703, 708, 735, 738, 742, 751, 755, 758, 760, 767 e 790, bem como do transporte exclusivo de deficientes.
No Porto, a STCP, irá garantir os serviços mínimos com o funcionamento de 50% do regime normal das linhas 200, 205, 300, 301, 305, 400, 402, 500, 501, 508, 600, 602, 603, 701, 702, 801, 901, 902, 903, 905, 907, 4M e 5M.
Os trabalhadores do Metropolitano de Lisboa vão aderir à greve geral. A empresa anunciou que o serviço vai sofrer uma paralisação total entre as 23h30m do dia 23 (quarta-feira) e a 01h00m de dia 25 (sexta-feira).
Nas ligações entre Lisboa e a margem sul do Tejo, a Transtejo/Soflusa não garante os serviços mínimos durante as 24 horas de greve, ficando o transporte dependente da adesão à paralisação. Nas ligações Cacilhas-Cais do Sodré e Barreiro-Terreiro do Paço, os últimos percursos de terça-feira e os primeiros de sexta-feira serão também afectados. A empresa vai encerrar todos os terminais, caso não haja condições de efectuar percursos entre as duas margens.
As empresas de transportes rodoviários de pesados de passageiros do sector privado não vão aderir à greve de amanhã.
Em comunicado, a Antrop, Associação Nacional de Transportes Rodoviários de Pesados e de Passageiros, revela que apesar da greve dos transportes convocada para amanhã, "o Sector Privado Rodoviário não irá ser afectado e irá estar em pleno funcionamento".
Quer isto dizer que por Lisboa, por exemplo, Transportes Sul do Tejo, Rodoviária de Lisboa, Vimeca e Scoturb não vão aderir à greve e podem ser uma alternativa de transporte para quem quiser chegar à capital.
A Antrop representa 114 empresas de transporte 


Comboios
A CP prevê perturbações na circulação e supressão de alguns comboios. Os impactos para os utentes deverão começar logo na quarta-feira ao final do dia e estender-se até ao início de dia 25 (sexta-feira). Haverá serviços mínimos nos comboios urbanos, regionais, de longo curso e internacionais, conforme definido pelo Tribunal Arbitral, correspondentes a menos de 20 por cento da oferta diária nacional (ver detalhes em www.cp.pt)
A Fertagus, responsável pelo transporte ferroviário de passageiros entre as duas margens do Tejo, já informou ter reunidas as condições para o normal funcionamento dos percursos. No entanto, admite que poderão ocorrer perturbações na circulação de comboios.




Aeroportos
A adesão dos controladores aéreos, dos tripulantes e dos técnicos de handling vai ter impactos significativos na aviação. Para já, estão apenas garantidas duas ligações aos Açores e uma à Madeira, ao abrigo dos serviços mínimos. A gestora aeroportuária ANA já aconselhou os passageiros a consultar as companhias antes de se dirigirem aos aeroportos. 
Os pilotos da TAP têm nova greve convocada para Dezembro (9, 10, 11 e 12) e para Janeiro (3, 4, 5 e 6). 





Escolas e universidades

As faculdades de Ciências da Universidade de Lisboa e de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova poderão não funcionar na próxima quinta-feira, segundo o Sindicato Nacional do Ensino Superior. Nestas duas faculdades, acrescenta, estarão piquetes de greve. Também se realizarão piquetes na Faculdade de Letras 
da Universidade do Porto e na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
No ISCTE, em Lisboa, está marcada uma assembleia para as 10h30, para docentes, investigadores, funcionários e alunos. Na Universidade da Beira Interior e no Instituto Politécnico de Portalegre os professores estarão reunidos a partir das 10h00. Na universidade do Algarve decorrerá uma concentração. 
No ensino básico e secundário, só no próprio dia é que se saberá quantas escolas estarão encerradas. As duas principais federações de sindicatos de professores aderiram à greve. O Sindicato dos Professores da Grande Lisboa também está a preparar piquetes de greve. 
Na última greve geral, os dados contabilizados pelo Ministério da Educação davam conta de que a adesão do pessoal não docente (38%) ultrapassou a dos professores (23%). Já a Federação Nacional de Professores situou a adesão dos docentes nos 75%.
Segundo a tutela, estiveram encerradas 32% das cerca de cinco mil escolas públicas existentes. A Fenprof indicou 80%.

Saúde
O Sindicato Independente dos Médicos fala em "urgências em pleno, consultas externas paradas, blocos cirúrgicos parados”. O sindicato espera uma forte adesão, mas não arrisca uma estimativa. Milhares de médicos ttrabalharão para cumprir serviços mínimos nas urgências, nos cuidados oncológicos, na diálise e outros serviços. 
A Federação Nacional dos Médicos também não quer avançar com uma possível percentagem de adesão. Mas a sindicalista Merlinde Madureira defende: “Há razões para uma maior adesão”. 
Considerando que é inevitável o efeito da greve no adiamento de consultas e cirurgias, Merlinde Madureira comenta que “as más administrações hospitalares conseguem esse mesmo efeito muito mais vezes no dia-a-dia”.
Já o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses espera uma adesão à greve entre os 75% e os 85%, menor do que a da última greve geral, quando chegou a valores próximos dos 90% "Nesta altura, um dia de salário pode fazer a diferença”, afirma a sindicalista Guadalupe Simões. A adesão dos enfermeiros deverá ser mais significativa nos hospitais do que nos centros de saúde.



Administração Pública
Os sindicatos esperam uma boa adesão dos funcionários públicos, que vão ser um dos principais grupos atingidos pelas medidas de austeridade previstas para o próximo ano. Além das escolas, dos serviços de saúde e dos tribunais, vários outros serviços públicos poderão vir a fechar portas ou a trabalhar a meio gás, como direcções-gerais, repartições de finanças, serviços autárquicos, de identificação ou da segurança social.
O Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado espera uma grande adesão. A Frente Sindical da Administração Pública considera que o impacto da greve na administração pública será muito espalhado e que as previsões são que todos os serviços de atendimento da administração pública tenham problemas.
Os serviços municipais de recolha de lixo correm o risco de parar e, segundo a FESAP, os sindicatos tentarão evitar “situações de ruptura” no fornecimento de água, electricidade e gás.
Administração Local

O Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local (STAL) afirma que "tudo indica" que a greve geral de quinta-feira levará ao "maior encerramento de serviços na administração local", numa altura em que se impõe às autarquias a redução de funcionários. "Creio que será o maior encerramento de serviços na totalidade da administração local. Tudo indica nesse sentido", afirmou Francisco Bráz, presidente do STAL, considerando que "esta greve quer ser um grito de alerta muito forte, porque não é possível continuar a sacrificar os trabalhadores desta forma", quando no ano passado já não tiveram aumentos e alguns tinham já sofrido cortes salariais.
Escolas, recolha do lixo, cemitérios, transportes urbanos em Coimbra, Braga, Évora,  Aveiro e Barreiro e o apoio administrativo das autarquias são alguns dos serviços onde a greve pode ser mais notada.




Justiça e segurança


Muitos tribunais encerrados. Muitos julgamentos adiados. É a expectativa de Fernando Jorge, presidente do Sindicato dos Funcionários Judiciais (SFJ). E embora as indicações apontem para uma paralisação superior à do ano passado (60 por cento) não alcançará uma maior dimensão, já que “muita gente vai trabalhar contrariada, mas não pode prescindir do dinheiro”, nota. 
A greve terá sobretudo efeito nos tribunais devido à falta dos funcionários que responderem ao apelo à paralisação feito pelo Sindicato dos Funcionários Judiciais. Os juízes, diz António Martins, presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, estarão nos tribunais, mas compreendem “a posição das pessoas” que fazem greve. 
Os sindicatos representativos da ASAE, Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e Corpo da Guarda Prisional aderiram à greve. Outros três sindicatos, em representação da PSP, GNR e Polícia Marítima, só não aderem organizadamente nos desfiles de rua porque tal lhes está vedado. Ainda assim, estima-se que muitos associados destes três sindicatos, estando de folga, possam vir a integrar as concentrações.

Comunicação social
O Sindicato dos Jornalistas lançou o repto para a greve há quase duas semanas mas não é fácil perceber os serviços que serão afectados porque a estrutura sindical não faz um controlo prévio da adesão, disse ao PÚBLICO o presidente, Alfredo Maia. Por isso, por exemplo, não se sabe qual será o impacto da paralisação na agência noticiosa Lusa, onde os jornalistas decidiram, em plenário, aderir à greve.
Nos canais da SIC – generalistas e de cabo -, assim como nos da TVI e nos grupos de rádio da Renascença e Media 
Capital não se prevêem alterações de programação.
Na RTP e RDP, a braços com os planos de restruturação, é possível que esta greve se faça sentir nos programas emitidos em directo, como a informação. Porém a administração diz desconhecer o impacto. Como prevenção, tem efectuado algumas reuniões de forma a minimizar os efeitos da greve nas várias emissões de rádio e televisão.
As revistas semanais Sábado, do grupo Cofina, e Visão, da Impresa, normalmente publicadas à quinta-feira, anteciparam a saída para hoje de modo a evitar atrasos na chegada às bancas e aos assinantes – componente de peso nas vendas.
O canal de humor Q, que no ano passado encurtou a emissão, optou este ano por apenas fazer uma edição especial do programa Inferno, dedicada à greve.

Cultura
O Teatro do Bairro, em Lisboa, não vai abrir no dia da greve geral. O espectáculo MetropoLIS, pelo grupo de Teatro Ultimacto, agendado para esse dia, será antecipado para a véspera, à mesma hora (21h00).
Na Cinemateca Portuguesa, alguns trabalhadores vão aderir à greve. Contudo, a programação não sofreu qualquer alteração. Só no dia, dependendo da adesão, será possível medir as consequências.
O Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública do Sul e Açores espera, devido aos cortes anunciados, uma forte adesão à greve por parte dos trabalhadores do Teatro Nacional D. Maria II. A paralisação deverá estender-se a museus, palácios e outros teatros nacionais tutelados pela Secretaria de Estado da Cultura, situados na área da grande Lisboa.

Agência de Notícias 

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