Fado reconhecido como Património Imaterial da Humanidade

Fado passa a ser do... mundo

O fado é Património Imaterial da Humanidade segundo decisão hoje tomada durante o VI Comité Intergovernamental da Organização da ONU para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Para celebrar, hoje às 18h, a muralha do Castelo de S. Jorge, em Lisboa, vai iluminar-se e passar imagens de fado. 


Fado prestígio como Património da Humanidade 




António Costa, presidente da Câmara de Lisboa, que se deslocou a Bali, na Indonésia, como elemento da comitiva portuguesa, colocou o telemóvel, onde tinha gravado "Estranha Forma de Vida", de Amália Rodrigues, perto do microfone e fez-se silêncio na sala. "Acho que foi a melhor forma de homenagear aqueles que têm de ser hoje homenageados. São aqueles que têm feito o fado e que são os fadistas e aquela "Estranha Forma de Vida" é uma homenagem a todos", justificou António Costa.
"Muita gente achava que o fado era triste. O fado é alegria", afirmou o autarca, logo depois, acrescentando que o reconhecimento do fado como património Imaterial da Humanidade é um reconhecimento para cantores, poetas, músicos e compositores.
Mariza e Carlos do Carmo foram os embaixadores desta campanha, cuja origem partiu do antigo Presidente da Câmara de Lisboa, Pedro Santana Lopes. Aprovada pela autarquia em maio de 2010 e apresentada ao Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, em Junho desse ano, a candidatura foi então formalizada junto da UNESCO. A Organização da ONU para a Educação, Ciência e Cultura  considerou "exemplar" a candidatura de Portugal, atribuindo ao Fado, este fim-de-semana, o estatuto de Património Imaterial da Humanidade. 

Muralha do S. Jorge ilumina-se hoje às 18h

"E ouviu-se o fado. Muito bom e muito bem. Estamos muito felizes e com imensa vontade de partilhar essa alegria com todos os que trabalharam nesta candidatura, com todos os que constroem o fado, com todos os nossos artistas, todos os nossos parceiros, as instituições envolvidas, os investigadores, a equipa do Museu do Fado. É uma alegria muito grande", afirmou a directora do Museu do Fado.
Sara Pereira disse também que a inscrição é uma "responsabilidade acrescida" no cumprimento do plano de salvaguarda que foi apresentado à UNESCO e que tem cinco eixos estratégicos: a rede de arquivos, o arquivo digital sonoro, o programa editorial, a implementação de roteiros temáticos de fado e o programa educativo.
A muralha do Castelo de São Jorge vai iluminar-se às 18h de hoje com imagens que celebram a distinção pela UNESCO do fado como Património Imaterial da Humanidade, anunciou a Câmara de Lisboa.
"Acender-se-á na muralha do Castelo de São Jorge, símbolo da cidade de Lisboa, uma projecção que celebra o fado como Património da Humanidade", refere a autarquia em comunicado, adiantando que as imagens poderão ser observadas a partir do Martim Moniz, da Praça da Figueira e do Miradouro de São Pedro de Alcântara.
Ainda para celebrar esta distinção, o Museu do Fado, por onde passaram desde a manhã de sábado mais de cinco mil pessoas, vai manter as portas abertas até às 18h.

Os fadistas...

O fadista Camané considerou que "a principal consequência será a maior divulgação que o Fado terá", uma questão que "já é visível desde que toda a campanha de promoção [da candidatura] arrancou". "Assim, mais pessoas ficarão a conhecer o que é o Fado e a sua riqueza", disse Camané.
A fadista Maria da Fé considerou a distinção "uma coisa maravilhosa para o Fado e para o nosso país". "Daqui para a frente é uma incógnita", afirmou a criadora de "Cantarei até que a voz me doa", referindo que "o fado já está, felizmente, com muita força e muito divulgado, mas nunca é demais e é muito positivo esta distinção".
Para a fadista, proprietária do restaurante típico Senhor Vinho, na Lapa, em Lisboa, "há esperança que [esta distinção] traga mais clientes, não só turistas como, muito especialmente, portugueses".
Ana Moura encantou esta semana  o público italiano 

Também a fadista Ana Moura ficou feliz com o novo título do fado. "O Fado sempre foi património da Humanidade", afirmou a fadista, acrescentando que a distinção "vai aconchegar a alma [dos portugueses] e encher-nos a todos de orgulho. Foi com imensa alegria que acabei de receber a notícia de que o nosso Fado foi considerado Património Imaterial da Humanidade", disse a fadista recentemente regressada de Itália onde o diário italiano Corriere della Sera qualificou-a de "extraordinária" e apontou Ana Moura como "herdeira de Amália Rodrigues", a propósito da sua actuação na sexta-feira.



Presidente da República e Governo felicitam

Segundo a Lusa, o Presidente da República já afirmou que esta distinção é "um motivo de orgulho para todos os portugueses: a partir deste momento, o fado é reconhecido como um Património de toda a Humanidade, um valor inestimável no presente e uma herança cultural importante para as gerações futuras", escreveu Cavaco Silva no site da Presidência da República. 
Por sua vez, o Secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, destacou a "alegria" proporcionada por esta distinção, "numa altura em que Portugal necessita como nunca de notícias positivas". Francisco José Viegas acredita que as "atenções do mundo" se irão, agora, virar "para um dos emblemas da nossa cultura e do nosso talento".

Alfama, a pátria do fado 

O VI Comité Intergovernamental da UNESCO aprovou hoje em Nusa Dua, (Bali), na Indonésia, a integração do Fado na Lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Cerca de uma hora antes do reconhecimento, o presidente da Comissão Científica da candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade, Rui Vieira Nery, queixara-se que o processo de inscrição das candidaturas estava a ser longo por incompetência da presidência da reunião na condução dos trabalhos.
Com oito horas de diferença entre a Indonésia e Portugal, temia-se que a discussão da candidatura do fado fosse adiada para amanhã, segunda-feira.
A parir de agora, o fado deixa de ser a canção de Portugal para ser uma canção de todo o mundo. Portugal já tem em marcha outra candidatura a Património Cultural Imaterial da Humanidade, o Cante Alentejano.

Paulo Jorge Oliveira  

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