SFUA tem campeãs de Judo

“Deixar tudo no tatâmi!”

Pela primeira vez, um clube do concelho de Palmela alcançou o lugar mais alto do pódio, no Campeonato Nacional por clubes no escalão júnior (17 aos 20). O Novo Impacto falou com Andreia Zeferino, de 16 anos, e Carina Gouveia, de 17, duas judocas que compõem a equipa feminina de Judo da Sociedade Filarmónica União Agrícola (SFUA), de Pinhal Novo.



Sagrarem-se campeãs nacionais foi, para ambas, o culminar de vários resultados que obtiveram, no ano passado, enquanto clube. “Sentimos uma alegria muito grande, pois este título era praticamente o único, a nível nacional, que ainda não tínhamos ganho”, evidencia Andreia Zeferino, aluna do 10º de escolaridade na Escola Secundária de Alcochete.
Não obstante, e aplicando a analogia, por detrás de um grande atleta está sempre um grande treinador. “Se conseguimos obter estes resultados, não é só por nós mas por ele que nos incentiva e puxa por nós diariamente”, sublinha Carina Gouveia, referindo-se a Marco Morais que treina a equipa há pouco mais de quatro anos.
No tatâmi, as jovens vestem o cinto castanho, denominado 1º kyu, a cor da solidificação. Significa que estão a completar o processo de amadurecimento, tanto nos conhecimentos técnicos como na força mental. “O judo em si é uma modalidade muito importante. Transmite bons valores e garante uma grande disciplina, rigor e auto-controlo”, salientam.
Carina e Andreia já se conheciam de vista na altura do ciclo preparatório, no Pinhal Novo. Mas foram precisos mais uns anos para as suas vidas se cruzarem. Hoje treinam juntas e partilham a mesma ambição: entrar na Faculdade de Motricidade Humana, em Lisboa, beneficiando do estatuto de alta competição.
           
 “Os nossos pais são os nossos maiores patrocinadores”
Mas os desafios competitivos, sejam eles nacionais ou internacionais, implicam sempre um rigoroso regime de treinos que só dá frutos com muita vontade e persistência. Todos os dias, ao final da tarde, as duas judocas encontram-se no ginásio da SFUA para treinar e prepararem-se fisicamente. Os domingos são dias de descanso.
“Quando comecei a treinar diariamente, a minha mãe ficou preocupada com os estudos. Agora sabe que se formos organizadas, conseguimos conciliar as coisas e ter tempo para tudo”, explica Carina que pratica judo desde criança.

Mas, “infelizmente”, os apoios para a prática desta modalidade são praticamente nulos. E face à crise económica que afecta o país e que não dá às câmaras municipais capacidade de manobra para apoiar financeiramente o associativismo e o desporto, as jovens são claras quando afirmam: “os nossos pais são os nossos maiores patrocinadores”.
Segundo Andreia, ex-praticante de ginástica trampolins e acrobática, “são eles que financiam os equipamentos, cujo valor ronda os 150 euros, bem como as deslocações e estadias no estrangeiro que podem chegar aos 500 euros”. Por norma, “as viagens só são comparticipadas se os atletas representarem a selecção portuguesa, o que não é o nosso caso. Quando viajamos para fora de Pinhal Novo, nem uma carrinha nos disponibilizam. Temos que ser nós a pagar a viagem”, acrescenta Carina, aluna do 12º da Escola Secundária do Pinhal Novo.

Telma Monteiro: “um exemplo a seguir”
No entender das jovens, o judo era, há uns anos, uma modalidade pouco conhecida pelo público. Contudo, devido ao aparecimento mediático de alguns atletas de alta competição em Portugal, o judo sofreu uma grande dinamização junto da sociedade. “As pessoas começam a aderir ao desporto e isso é muito bom pois quantos mais, melhor”, salienta Carina.
Nomes como Telma Monteiro, João Pina e Ana Cachola são incontornáveis. “Ela [Telma Monteiro] é uma das melhores e um exemplo a seguir”, destaca Andreia. “Devemos mostrar aquilo de que somos capazes nos treinos e quando competimos resta-nos ganhar e deixar tudo no tatâmi”, completa.

 Última etapa: Jogos Olímpicos
Depois do trabalho árduo, colhem-se os frutos, diz o velho ditado. Carina ganhou o Campeonato Nacional de Juniores e conseguiu um excelente 7º lugar no Torneio da Hungria, no Verão passado, uma posição que lhe garantiu a presença no Europeu da Bulgária e no Mundial em Marrocos. Já Andreia, que compete “mais a sério” há cerca de um ano, guarda na memória o 1º lugar no Campeonato Nacional de Esperanças e o 3º lugar na Taça da Europa que decorreu em Fuengirola, Espanha. Participou, também, em duas provas no Circuito Europeu de Judo, tendo alcançado o 2º lugar em ambas as competições, o que lhe garantiu os mínimos para participar no Europeu da República Checa, no último Verão. “E agora este resultado nacional...”, reflecte.

A curto prazo, a atenção das judocas direcciona-se agora para a renovação do título nacional, cuja competição está marcada já para Fevereiro. “Este é o primeiro passo. Depois, é pensar no Internacional. Vamos ver como corre”, acautela Carina. E, claro, a vontade de representar Portugal nos Jogos Olímpicos é grande. “A partir de agora, é sempre a subir”, ressaltam.

O que é o Judo   

Foi em 1972, nas Olimpíadas de Tóquio, que o judo ganhou o estatuto olímpico. Por definição, esta arte marcial, recomendada pela UNESCO como um dos desportos mais adequados para crianças e adolescentes, constitui uma luta de domínio, cujo principal objectivo consiste em dominar e mobilizar o adversário usando a força do corpo e do espírito. A palavra japonesa “judo” consiste na junção dos ideogramas “Ju” (suave) e “Do” (caminho), ou seja, “caminho suave”.



Ana Cristina Rodrigues

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