Candidatura da Serra da Arrábida a património mundial


Jerónimo de Sousa solidifica apoio à candidatura da Arrábida a Património Mundial da UNESCO


Jerónimo de Sousa esteve, na última terça-feira, em Palmela, no sentido de solidificar o apoio do PCP à candidatura da serra da Arrábida a Património Mundial Misto junto da UNESCO, promovida pela Associação de Municípios da Região de Setúbal (AMRS). Durante a sua intervenção, que decorreu na Casa Mãe da Rota de Vinhos, o secretário-geral do partido voltou a insistir na revisão dos “critérios dualistas” que, por um lado, impedem actividades tradicionais na Arrábida e, por outro, autorizam a actividade da Secil e de outras pedreiras em Sesimbra.

Esta candidatura, que abrange o território da Cordilheira da Arrábida, “procura valorizar não só a natureza única e os aspectos culturais da serra mas também os imateriais. Deve ser respeitada a tradição, os costumes e a obra humana que é tão marcante na Arrábida, desde as questões relacionadas com a agricultura e a pesca que, infelizmente, não têm sido acauteladas. Neste sentido, o equilíbrio entre aquilo que é a beleza e a riqueza natural, cultural e também imaterial é um projecto que, a ser concretizado, irá valorizar muito a região”, aclarou Jerónimo de Sousa, ao Novo Impacto, mostrando-se empenhado em consciencializar a assembleia da República, no sentido desta manifestar o seu apoio à Candidatura da Arrábida a Património Mundial Misto.
Ainda assim, o líder do PCP levanta algumas reservas face ao actual Plano de Ordenamento do Parque Natural da Arrábida (POPNA), considerando que o mesmo deve ser cuidadosamente revisto.
Em resposta às questões colocadas durante a audição pública e concernentes às complicações que podem advir para a candidatura sobre a cimenteira e as restantes pedreiras da Arrábida, a secretária-geral da AMRS, Fátima Mourinho assegurou que a UNESCO não as considera “um impedimento”. E, neste contexto, o historiador Heitor Pato, que integra a comissão de acompanhamento da candidatura, não resistiu a fazer um breve parêntese, relembrando que a exploração de recursos na Arrábida “é milenar” e que a actividade, actualmente, é “bastante vigiada e controlada”.
Ana Teresa Vicente, presidente da Câmara de Palmela, que acompanhou a visita à serra da Arrábida, juntamente com vários deputados comunistas e entidades científicas, adiantou, ao Novo Impacto, a necessidade de conhecer a serra não só numa perspectiva ambiental, mas sobretudo do ponto de vista da sua história cultural e da ocupação humana. “No fundo, o grande objectivo passa por valorizar a região, porque estamos convictos que temos condições para vir a ser bem-sucedidos”, resumiu.
Com o objectivo de divulgar a candidatura, estará patente até ao dia 11 de Novembro, junto à Casa Mãe da Rota dos Vinhos, uma exposição interactiva, a cargo da AMRS.

Candidatura é para ir em frente


A visita à serra da Arrábida incidiu, numa primeira fase, no estudo do território, com o apoio de vários investigadores das áreas da geologia, flora, arqueologia, património cultural, edificado e património cultural imaterial, e que têm vindo a demonstrar as reais possibilidades desta candidatura. “Esta visita contou com participações muito amplas que demonstraram que não é apenas um acto de vontade mas uma questão que pode ser concretizada”, salientou Jerónimo de Sousa.
No ano de 2008, o processo de candidatura ficou em “banho-maria”, citando Ana Castelo Branco, responsável pelo Parque Natural da Arrábida, em consequência da alteração das Orientações para Aplicação da Convenção por parte da UNESCO, o que levou, em última instância, à reformulação dos critérios e procedimentos da candidatura.
Ainda assim, a AMRS, em parceria com o Parque Natural da Arrábida, lutou pela actualização do processo e avançou mesmo com o desenvolvimento da Candidatura da Arrábida, desta vez com um carácter mais reforçado, integrando critérios de ordem natural, cultural e imaterial. “Esta candidatura é um desafio estimulante, no sentido de demonstrar à UNESCO que a Arrábida merece o galardão”, comentou Cristina Coelho, responsável pela candidatura.

Primeiros hominídeos ter-se-ão instalado na Arrábida        



Sobre questões da flora, técnicos do Instituto Superior de Agronomia (ISA), salientaram a unicidade das matas da Arrábida. Neste contexto, destaca-se o carrasco-da-arrábida e os chamados endemismos arrabidenses, como o Convolvulus fernandesii e a Euphorbia pedroi, espécies singulares que só existem nas falésias entre Sesimbra e o Cabo Espichel. “Temos 1.400 plantas diferentes na serra, sendo que cerca de 25% das plantas que existem em Portugal estão concentradas na serra”, adiantou Dalila Espírito Santo, do ISA.
No que respeita ao património geológico da Arrábida, José Kullberg, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (UNL), referiu a sua “singularidade assinalável”, face à sua importância para o conhecimento e compreensão da evolução geológica do planeta.
No âmbito da arqueologia, Joaquina Soares, directora do Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal, asseverou que os primeiros hominídeos ter-se-ão instalado na zona há cerca de meio milhão de anos. “A Arrábida tem recursos de extraordinária importância e é por isso que o ser humano sempre habitou e modelou a serra de uma forma diferenciada, geograficamente e culturalmente”, explicou. A responsável considerou, ainda, que a paisagem da Arrábida tem sido, ao longo do tempo, menosprezada: “existe uma comunhão entre a serra e as necessidades humanas. A serra tem que estar ao serviço do desenvolvimento regional e não usá-la é quase criminoso”.
Heitor Pato, investigador sobre questões do património cultural e imaterial, teve ainda tempo para salientar a importância dos valores de herança e de património, a arquitectura militar, religiosa e civil, a construção naval em Sesimbra, as artes da pesca em Setúbal e as artes do queijo e do vinho, centradas em Azeitão e Palmela, respectivamente. “Temos um conjunto de condições fortes que valem por si, mas que valem muito mais em conjunto”, sublinhou.
             

Ana Cristina Rodrigues

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