Novos horários já arrancaram na fábrica de Palmela

Autoeuropa começa um novo ciclo esta semana

Arranca esta segunda-feira  os novos turnos na Autoeuropa, em Palmela,  que serão aplicados até às ferias de verão, em Agosto, estando previstos 17 turnos semanais e onde já estão incluídos os sábados. Ainda assim, o braço de ferro entre a administração da fábrica e os trabalhadores mantém-se. A administração está intransigente em relação à proposta unilateral que apresentou em Dezembro. Compromete-se, no entanto, a pagar um prémio adicional de 100 por cento sobre cada sábado trabalhado (pagamento mensal) e um prémio adicional de 25 por cento sobre os sábados trabalhados no trimestre, de acordo com o cumprimento do volume planeado para o trimestre (pagamento trimestral). "A Autoeuropa deve sentar-se com a comissão de trabalhadores e sindicatos para conversar, ouvir e fazer como deve de ser", afirma o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, em  entrevista conjunta do Jornal de Negócios e Antena 1.
Novos horários começam esta segunda-feira em Palmela 

A Autoeuropa vai viver mais uma semana de tensão, entre negociações laborais, plenários de trabalhadores, novos horários e ameaças de greves.
O novo foco de tensão na fábrica portuguesa da Volkswagen é agora a proposta de aumentos salariais. Nas negociações que tiveram lugar na passada semana entre a comissão de trabalhadores  e a administração, com vista a um novo acordo laboral, a direcção da unidade de Palmela começou por oferecer aumentos de 2,6 por cento em 2018 e de dois por cento para 2019. Valores que a comissão de trabalhadores rejeitou, dizendo à administração que "são insuficientes e que é imprescindível elevar as condições remuneratórias dos trabalhadores", segundo um comunicado do órgão representativo dos trabalhadores.
Em resposta, a administração avançou com uma proposta de aumentos salariais de três por cento para este ano e de dois por cento para o próximo, voltando a comissão de trabalhadores a reafirmar a sua "posição de insatisfação" com os valores. Recorde-se que, no seu caderno reivindicativo, a Comissão exige aumentos salariais de 6,5 por cento para este ano. Apesar deste impasse, as negociações vão continuar a decorrer esta semana em Palmela.
Entretanto, a comissão de trabalhadores marcou a realização de plenários de trabalhadores para a próxima quinta-feira, 1 de Fevereiro, com o objectivo de discutir o "resultado obtido nas negociações", se já estiverem concluídas, ou fazer o ponto de situação das conversações.Já em relação aos turnos, os trabalhadores vão passar três semanas em cada um, uma vez que foi essa a escolha dos funcionários sondados diretamente pela administração para saber que modelo de turnos preferiam. Isto significa que a partir do final deste mês os trabalhadores passam a ter de cumprir uma semana de cinco dias, com apenas uma folga fixa ao domingo e uma outra rotativa a meio da semana. O primeiro sábado de trabalho arranca já dia 3 de Fevereiro.

Resposta para creches
Já com solução à vista parece a exigência dos trabalhadores que, tal como o i avançou, pretendiam ter creches a funcionar aos sábados, como resposta aos novos horários. A Segurança Social anunciou na semana passada que já tinha identificado as vagas em IPSS onde os trabalhadores da Autoeuropa poderão deixar os filhos nos sábados de trabalho, garantindo também a cobertura dos custos das creches nesses dias.
A Segurança Social irá compensar os encargos das IPSS através do "complemento de horário em creche" no valor de 503,59 euros mensais por criança à IPSS que gere a creche, garante o ministério. Este apoio irá durar "enquanto houver necessidades por parte dos trabalhadores".
Recorde-se que, em Dezembro, após uma reunião conjunta entre o ministro do Trabalho, Vieira da Silva, a comissão de trabalhadores da Autoeuropa e a administração da empresa, o governo garantiu que iria assumir «responsabilidades em algumas dimensões», como a criação e o reforço de «equipamentos sociais de apoio à família», para responder aos novos horários da fábrica.
Uma situação que já levou os trabalhadores do Parque Industrial – empresas que fornecem a Autoeuropa – a exigir as mesmas condições, já que também vão ter de mudar de horário, o que implica trabalhar aos sábados, para responder às necessidades da produção do T-Roc.
Confrontado com esta exigência por parte dos trabalhadores do parque industrial, fonte do ministério diz apenas que "este acordo de cooperação não é exclusivo para os trabalhadores da Autoeuropa".

O conflito interno continua 
A guerra não se limita à implementação dos novos horários de trabalho e estende-se agora à própria Comissão de Trabalhadores. Ainda no dia 21 deste mês, um grupo de trabalhadores fez uma vigília à porta de fábrica, garantindo que não se sente representado pela estrutura liderada por Fernando Gonçalves e já fez um abaixo-assinado para apresentar várias propostas alternativas às solicitadas pela comissão de trabalhadores.
Foi com base nesse documento criado pelo movimento Juntos que os trabalhadores aprovaram dois dias de greve marcados para dia 2 e 3 de fevereiro, altura em que já terão entrado em vigor os novos horários de trabalho, caso a administração da fábrica de Palmela não tenha recuado nas suas intenções. No entanto, para que a paralisação se concretize é necessário que seja convocada pelos sindicatos, como o Site-Sul, que foi o rosto da última greve.
Ao mesmo tempo, este grupo de trabalhadores defende que "em todos os passos no processo de negociação com a administração, a Comissão de Trabalhadores se apresente com um advogado".
O baixo-assinado recorda ainda que «o trabalho por turnos já é uma forma de organização do trabalho prejudicial à vida familiar e à saúde dos trabalhadores», lembrando ainda que, "segundo o contrato coletivo em vigor, a fábrica não tem permissão para impor laboração contínua e trabalho ao sábado à noite sem o consentimento dos trabalhadores".

CGTP diz este é um processo que se vem deteriorando nos últimos anos

"A Autoeuropa deve sentar-se com a comissão de trabalhadores e sindicatos para conversar, ouvir e fazer como deve de ser", afirma o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, em entrevista conjunta ao Jornal de Negócios e Antena 1. O líder da CGTP considera que ainda há margem para chegar a um acordo mas aponta o dedo à Autoeuropa pelo extremar de posições.
"O processo da Autoeuropa é muito simples. É um processo que nas relações do trabalho se vem deteriorando nos últimos anos. Não foi de agora. Já vem de trás. Porque já anteriormente houve uma ou duas vezes que a administração da Autoeuropa impôs unilateralmente determinado tipo de condições. E os trabalhadores contestando acabaram por acatar. E agora deu-se o processo que conhecemos. Esta greve que se realizou em Agosto do ano passado é o resultado da falta de sensibilidade social de quem está à frente da Autoeuropa para encontrar soluções, em primeiro lugar, e depois, da pouca maleabilidade para perceber qual foi o sentimento dos trabalhadores", argumenta Arménio Carlos.
Para o sindicalista não restam dúvidas: "a versão verdadeira sobre a Autoeuropa não chega à maior parte das pessoas".
O secretário-geral da CGTP diz ainda que a questão da fábrica de Palmela tem sido “manipulada” para evitar que se mexa na legislação do trabalho. E desafia o Governo a dialogar com a Volkswagen para que trace o futuro da Autoeuropa num horizonte temporal mais largo.

Agência de Notícias 

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