Recontagem em Almada confirma Inês de Medeiros

O PS ganhou mesmo mas por mais 100 votos do que se pensava

A Secretaria-Geral da Administração Interna deu como terminada a contagem de votos das eleições autárquicas de domingo. O PS bateu o recorde ao conquistar 159 câmaras. Em Almada, após uma recontagem de votos esta segunda-feira, os socialistas venceram a CDU com uma diferença de 313 votos, mais 100 votos do que na primeira contagem na noite das eleições. Ambas as forças garantem quatro mandatos. Durante a recontagem de votos, que decorreu na freguesia da Costa de Caparica, a CDU chegou a estar na liderança, mas no final confirmou-se a vitória da socialista Inês de Medeiros. A futura presidente disse que a câmara "vai ser muito governável. Eu sou uma otimista e não estou preocupada. Estou certa que todos estarão disponíveis para esta viragem em Almada mas sobretudo para que isto seja de facto uma nova fonte de energia", disse a autarca. Já Joaquim Judas, o presidente cessante, considera que perdeu pelo "desencantamento das populações da Charneca e Costa de Caparica" e alertou para o que considera ser a "impreparação" da equipa socialista que venceu as eleições autárquicas no concelho de Almada. 
Candidata quer ir de cacilheiro para a Câmara de Almada 

Os 11 mandatos na Câmara de Almada são divididos pelo PS e pela CDU, que elegeram quatro vereadores, respetivamente, pelo PSD, que obteve dois, e pelo Bloco de Esquerda, com um mandato, o que permitiu também a eleição de Joana Mortágua para o novo executivo camarário.
Nas eleições autárquicas de 2013, a CDU tinha maioria absoluta ao eleger seis mandatos, o PS três e o PSD tinha dois vereadores na Câmara. Joaquim Judas era novamente o candidato da CDU à presidência. 
Com esta vitória socialista, a CDU perde a presidência da autarquia de Almada, distrito de Setúbal, 41 anos depois.
Quando Almada se foi deitar no domingo, uma vitória tangente do PS tinha retirado a Câmara das mãos da CDU, que há anos tomava conta da comunista Almada.
Mas a meio da tarde de segunda-feira, quando a CDU tentava já recuperar e ultrapassar o facto de ter perdido uma das suas mais queridas câmaras para a atriz socialista Inês Medeiros, a confusão instalou-se.Toda a gente tinha dúvidas e afinal a CDU tinha ganho, destronando a socialista, que durante um dia esteve na frente.
O site oficial do Governo, que tinha fechado a contagem de Almada já a noite ia longa, reiniciou a contabilização e a atribuição de mandatos. 
Joaquim Judas, o ainda presidente da autarquia, confirmou que houve de facto “problemas em duas mesas de voto”, onde o somatório “não batia certo entre a abstenção e o número de votantes”. Terá então sido o Ministério da Administração Interna que “chamou a atenção” para essas discrepâncias, levando a Assembleia de Apuramento Geral a ter de reabrir os votos já lacrados e a introduzir de novo a contabilização.
De todo o modo, nada feito. A câmara de Almada passou mesmo para as mãos dos socialistas. No resultado final saldam-se 20 mil 810 (31.28 por cento) votos para o PS, com 4 vereadores eleitos e 20 mil 497 (30.81 por cento) votos para a CDU e os mesmos quatro vereadores eleitos.


"Belíssima" vitória surpreendeu Inês de Medeiros
Nem que Cristo descesse à terra, seria de esperar que Judas, Joaquim de seu nome próprio, médico de profissão, perdesse a câmara de Almada nas autárquicas de domingo. Era o último de uma continuidade de autarcas que durante 41 anos mantiveram a autarquia sob o controlo das coligações eleitorais criadas em torno do PCP: FEPU, APU e agora, CDU.
Feita a festa e dormidas umas horas, a ex-deputada e candidata independente pelo PS em Almada garante agora que "já passou o efeito surpresa" e que regressou "à terra". Nomeadamente àquela que se prepara para presidir, conquistada por uma diferença de apenas 313 votos sobre a CDU. Uma margem curta, mas suficiente para traduzir um "factor muito importante" na vitória socialista. "Durante a campanha senti o peso da usura do poder pela CDU. As pessoas sentem que Lisboa e toda a região em redor está a avançar e desenvolver-se e que Almada está a ficar para trás", disse Inês de Medeiros ao jornal Expresso. 
"A capacidade de dialogar com os partidos à esquerda, acabar com a rivalidade com o PCP e mostrar que é possível negociar" são alguns dos factores que Inês de Medeiros admite que, pela experiência a nível nacional, possam ter influenciado as decisões dos cidadãos nestas eleições locais.
Apesar dessa análise, a futura presidente de Almada - onde o PS terá quatro mandatos, a CDU outros tantos, o PSD 2 e o Bloco 1 - assume que os habitantes do concelho "esperam que essa capacidade de diálogo não seja só com a CDU e com o Bloco". "O que os eleitores querem é um município com outra dinâmica e energia". E pode ser isso entendido como uma 'fuga' a replicar geringonças em Almada?
"Não creio que as pessoas estejam neste momento preocupadas em saber que tipo de acordo vamos fazer. Temos tempo para pensar com calma", resume, defendendo que, nesta fase, a gestão de equilíbrios entre os partidos da esquerda não é uma prioridade e manifestando-se tranquila quanto à capacidade de gerar entendimentos que tornem a autarquia governável.

As prioridades da nova presidente 
Inês de Medeiros  quer colocar Almada certa 
Quanto às suas prioridades para Almada, a futura presidente diz que o foco inicial terá de estar "naturalmente na negociação do orçamento". Um dossiê que beneficiará do facto de o município "ter finanças saudáveis". Sobre os restante projetos que pretende implementar na cidade, a seu tempo os abordará.
"Há um compromisso de todos os candidatos do PS para a mobilidade que passa por um passe intermodal para área metropolitana", lembra Inês de Medeiros, que destaca a questão dos transportes como das mais importantes para o concelho. Por isso, quer conduzir os destinos da Almada na "renegociação de dois contratos que vão ter de ser revistos com os TST e Fertagus".
Como qualquer autarca, Inês de Medeiros fala da necessidade de "dinamizar o turismo". "Almada tem 20 quilómetros de costa completamente ao abandono e uma frente ribeirinha muito importante". É criar mais emprego numa cidade que considera "muito mais do que um subúrbio, porque tem uma identidade própria".
A situação social é também das mais importantes. Há em Almada, casos de pobreza extrema com bairros de lata, bairros sociais, situações incompreensíveis numa zona metropolitana". 
Inês de Medeiros, oriunda de uma família de artistas (é filha do maestro António Vitorino de Almeida), antiga deputada do PS, e mais recentemente, membro da administração da Fundação Inatel, é a nova autarca socialista que reside em Lisboa e vai "governar" uma das câmaras mais importantes do distrito de Setúbal. 
"A margem sul é muito perto. Esta pode ser uma boa oportunidade para acabar com esse estigma do rio intransponível entre as duas cidades", disse em entrevista ao Expresso. O facto de residir na capital permitirá continuar a ser "uma grande defensora do cacilheiro". Isto porque, "por mim vou de cacilheiro para Almada. Só se não me deixarem...", confessa a autarca. 

Judas acha que obras na Charneca e Caparica traíram CDU em Almada
O presidente cessante da Câmara de Almada, Joaquim Judas, admitiu esta segunda-feira que o descontentamento das populações de Charneca e Costa de Caparica pode estar na origem da derrota da CDU, considerando que o PS “não estava preparado” para vencer.
A Charneca de Caparica é uma área onde há intervenções de grande significado que estão a decorrer. É o caso da escola primária, que já teve início, das intervenções na Avenida do Mar e da Estrada Nacional 377. As pessoas podem ter entendido que aquelas obras já deviam estar concluídas e, por isso, poderão ter decidido mudar o sentido de voto", disse à agência Lusa, Joaquim Judas, salientando que algumas destas obras foram adiadas para não interferirem com a época balnear.
Segundo Joaquim Judas, as mudanças que se verificaram em termos de votos no concelho de Almada, liderado desde sempre pela CDU, ocorreram fundamentalmente na Charneca de Caparica e na Costa de Caparica.
Em relação à Costa de Caparica, depois do abandono do programa Polis, fez-se este ano aquilo que nunca se fez em termos de investimento, mas a junta de freguesia, do PS, conseguiu capitalizar esses investimentos, que na esmagadora maioria dos casos correspondem a um esforço muito grande do município", acrescentou o autarca da CDU.

CDU diz que futura presidente está impreparada 
Judas teme impreparação do PS em Almada 

O autarca, que há quatro anos sucedeu a Maria Emília de Sousa e que vai agora ser sucedido por Inês de Medeiros, do PS, alertou para o que considerou ser a "impreparação" da equipa socialista que venceu as eleições autárquicas no concelho de Almada. 
Há uma enorme preocupação que nos chega de todos os lados, do movimento associativo, de particulares, sobre a grande impreparação que esta equipa do Partido Socialista revela em relação às responsabilidades de que vai ser investida", disse.
No seu entender, o PS “não estava preparado para que isto acontecesse", para mais quando há matérias de “enorme responsabilidade” em curso, como os projetos para a Margueira e o Ginjal e da Frente Atlântica
Joaquim Judas afirmou-se ainda convicto de que, tendo em conta "a experiência e a capacidade demonstrada ao longo de anos", os almadenses vão reconhecer brevemente que a "CDU terá de voltar a assumir responsabilidades maiores no concelho" e considerou prematuro dizer se vai continuar no executivo apenas como vereador.

Agência de Notícias 

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