Casal de Setúbal morre em incêndio em Santa Comba Dão

Número de mortos nos incêndios não para de subir: 41 e uma pessoa desaparecida

Negro de cinza, negro de morte. O cenário repete-se a papel químico nas aldeias e vilas do centro e norte de Portugal. Em alguns lugares é difícil imaginar que alguém tenha escapado incólume aos incêndios que se multiplicaram nos últimos dias pelo país. São já 41, dizem as autoridades,  as vítimas fatais dos incêndios em Portugal. Dois irmãos que tentavam salvar lenha e animais do barracão do pai, uma grávida que fugia em contramão na A25 e um bebé de um mês são quatro desses casos. Mas há mais vitimas. Em Relvas, em Santa Comba Dão, num túnel junto ao IP3, as chamas apanharam no caminho um casal de Setúbal, com casa de fim-de-semana no distrito de Viseu. Perderam a vida dentro do carro, cercados pelas chamas, aparentemente de forma inesperada quando o fogo seguia imparável, empurrado por ventos de quase 100 quilómetros por hora, em direção a Tondela e a Nelas, a 60 quilómetros do local de partida, em Servis, no concelho da Lousã. O primeiro-ministro garante que é preciso fazer mudanças ao nível da reforma da floresta e das recomendações da comissão técnica independente.

Muitos foram apanhados pelo fogo nas estradas 
Seis pessoas dadas como desaparecidas desde os incêndios de domingo no Norte e no Centro do país já foram localizadas sem qualquer ferimento, avançou a SIC Notícias.
Segundo adjunta nacional de operações da Proteção Civil, Patrícia Gaspar, todos os seis desaparecidos encontrados são do distrito de Viseu, faltando encontrar uma pessoa no distrito de Coimbra.
A Autoridade Nacional de Proteção Civil anunciou na segunda-feira que estavam desaparecidas sete pessoas, uma na Figueira da Foz, uma na Pampilhosa da Serra (distrito de Coimbra), duas em Nelas, duas em Santa Comba Dão e uma em Mortágua (distrito de Viseu).
As centenas de incêndios que deflagraram no domingo, o pior dia de fogos do ano segundo as autoridades, provocaram pelo menos 41 mortos e 71 feridos, entre eles 16 em estado grave, além de terem obrigado a evacuar localidades, a realojar as populações e a cortar o trânsito em dezenas de estradas.
Horas antes, o número de mortos nos incêndios que lavram desde domingo no país tinha subido para 37 após se confirmar a vítima mortal de Coja (Coimbra), e mais três em Albitelhe, concelho de Vouzela, São Joaninho, onde um casal de Setúbal perdeu a vida, Santa Comba Dão, e Couço, Oliveira de Frades.
As vítimas mortais registaram-se nos concelhos de Viseu (19), Coimbra (14), Guarda (2) e Castelo Branco (1). Não é ainda conhecida a região onde se registaram as últimas mortes.
Em Penacova, no distrito de Coimbra, duas pessoas morreram devido ao fogo que deflagrou durante a manhã no concelho da Lousã. A notícia foi confirmada por Patrícia Gaspar, adjunta da Proteção Civil, que adiantou que as duas vítimas estavam no interior de um barracão agrícola, na povoação de Vale Maior, na freguesia de Friúmes e Paradela da Cortiça.
Os dois homens, irmãos, tinham cerca de 40 anos e, segundo várias testemunhas, estariam a tentar salvar a lenha e os animais guardada no barracão, que pertencia ao pai, quando foram cercados pelas chamas. A construção começou a arder e os dois homens já não conseguiram fugir por causa do fumo e das faúlhas.
Ao início da tarde, soube-se que o bebé de apenas um mês que estava desaparecido em Tábua tinha sido também encontrado sem vida. Os pais já tinham sido encontrado mortos esta segunda-feira de manhã, na Quinta da Barroca, em Tábua.
Nelas, distrito de Viseu: um morto. Pouco se sabe sobre esta vítima; apenas que se tratava de uma das duas pessoas que tinham sido dadas como desaparecidas numa aldeia da freguesia de Senhorim. Segundo Filipe Guilherme, comandante dos bombeiros locais, foi ainda registado um ferido naquele concelho do distrito de Viseu. A segunda pessoa continua desaparecida.Tinha cerca de 50 anos e foi encontrado carbonizado em Vale do Laço, concelho da Sertã, debaixo de uma estrutura que caiu. Seria, tal como a irmã, com que estava na altura em que as chamas deflagraram, deficiente auditivo. Terá sido por isso, diz o Expresso, que não se aperceberam tão rapidamente do avançar do fogo e que se deixaram surpreender por ele. A irmã foi
salva pelos bombeiros; o irmão não.
Oliveira do Hospital: um morto. Pouco se sabe também sobre esta vítima, cuja morte foi confirmada por Patrícia Gaspar, adjunta da Proteção Civil.
Uma jovem terá morrido na sequência de um acidente na A25, junto à estação de serviço de Vouzela, no sentido Viseu – Aveiro. De acordo com o Jornal de Notícias, que avançou com a notícia, dois carros terão colidido frontalmente quando, ao se depararem com as chamas junto à autoestrada, terão tentado voltar para trás, em contramão.
O comandante dos bombeiros de Oliveira de Frades, Fernando Farreca, disse ao jornal que a vítima mortal é uma jovem de 19 anos que estava grávida.
O acidente causou ainda quatro feridos graves. Um deles não resistiu e morreu durante a tarde de segunda-feira, no Hospital de Viseu.
 “Depois deste ano nada pode ficar como antes”
Parede de fogo e fumo aproxima-se de Vieira de Leiria 
"Está na altura de reformular o nosso modelo", disse o primeiro-ministro António Costa em conferência de imprensa, a propósito do atual mecanismo de combate aos incêndios. Objetivos primeiros: alcançar “uma maior resistência ao risco de incêndio” e estruturar “um melhor sistema de combate aos incêndios”.
Apesar de ter classificado o deste domingo como um “dia terrível”, com o sistema de Proteção Civil a ter de “responder a mais de 500 ocorrências”, com um grande número de “perdas de vidas humanas” a assinalar, António Costa frisou as diferenças entre os incêndios que neste momento assolam grande parte do país e os que devastaram a zona de Pedrógão Grande em Junho.
“Pedrógão será sempre um caso único”, sublinhou o primeiro-ministro, não só pela “dimensão trágica de perdas de vidas humanas”, mas também pela dimensão dos “danos materiais”.
Ainda assim, e tal como disse por ocasião dos fogos de Junho, voltou a repetir esta segunda-feira: não quer nem ouvir falar em demissões. “Este não é um tempo de demissões, é um tempo de soluções”.
Passarão - as soluções -, diz Costa, pela execução da Reforma da Floresta, mas também pela transformação em medidas das recomendações feitas no relatório da comissão técnica independente, entregue na passada sexta-feira ao Ministério da Administração Interna.
É para isso, lembrou o primeiro-ministro, que vai servir o Conselho de Ministros extraordinário do próximo sábado, dia 20. “A reforma da floresta não esgota as consequências a retirar deste verão dramático. A principal responsabilidade do governo é concretizar em medidas as conclusões e recomendações do relatório”, começou por dizer António Costa. Para logo a seguir garantir: “Depois deste ano nada pode ficar como antes”.
Sobre a questão dos fogos de origem criminosa, António Costa informou que as Forças Armadas foram chamadas ao terreno para “dissuadir o fogo posto”. E enalteceu o trabalho das autoridades nessa área: “É importante sublinhar que a GNR e a PSP quase duplicaram o numero de suspeitos identificados desde o ano passado”.
Questionado sobre se o Estado português vai assegurar o pagamento de indemnizações às vítimas dos incêndios deflagrados a 15 de Outubro, António Costa respondeu também com Pedrógão Grande: “Assumimos todas as responsabilidades que tivermos de assumir. O Estado tem de ser uma pessoa de bem. Como sabem, na Assembleia da República já está aprovado um mecanismo extra-judicial de apoio às vítimas de Pedrogão Grande, que é passível de alargamento a vítimas de incêndios noutras zonas do país”.

Marcelo fala ao país quando estiver fechado "balanço da tragédia"
Bombeiros de todo o país combatem os incêndios do Norte e Centro 

O Presidente da República vai falar ao País após fazer o "balanço da tragédia" dos incêndios, informou Marcelo Rebelo de Sousa, em nota publicada no site da Presidência da República, visitando em seguida os locais afetados.
Num comunicado intitulado "Presidente da República reafirma urgência de agir", Belém dá conta de que "tal como ontem, o Presidente da República está a acompanhar a situação dos incêndios em todo o Continente".
A mesma nota acrescenta que "o Chefe de Estado espera a rápida estabilização dos fogos e o balanço da tragédia, e falará depois ao País, bem como irá visitar, ao longo dos dias seguintes, as principais áreas ardidas, cancelando a agenda programada esta semana.

Comissão Europeia pronta a ajudar
O comissário europeu Christos Stylianides disse esta segunda-feira que o Mecanismo Europeu de Proteção Civil está pronto a ajudar Portugal e Espanha no combate aos fogos florestais.
A Comissão expressou ainda solidariedade a Portugal e Espanha devido aos incêndios que afetam os dois países desde o fim de semana.

Agência de Notícias

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