Portugueses infelizes por uma troika feliz da vida

Críticas Soltas por Joana Teófilo Oliveira
Portugueses infelizes por uma troika feliz da vida

Os técnicos da troika vieram a Lisboa, após a sua terceira acção de fiscalização, e apanharam o avião de regresso satisfeitos com os resultados que encontraram. Estamos no bom caminho – concluíram. O governo rejubilou, pela voz do primeiro-ministro e do ministro das Finanças, e os partidários da “austeridade custe o que custar”, afinados, acompanharam o coro. Contudo, a realidade não permite tanta excitação.



Desde a anterior acção de fiscalização todos os indicadores económicos se degradaram muito para além das previsões – repito, para além das previsões – do governo, da troika e da senhora Merkel: o desemprego está à beira dos 15%, e vai, inevitavelmente, continuar a subir; as receitas fiscais caíram significativamente no mês de Janeiro, a recessão para 2012 foi revista em baixa, situando-se nos 3,2%, por agora; as falências de empresas e as insolvências de famílias dispararam por aí acima; mais de cem mil portugueses têm parte dos seus salários penhorados. Mas, apesar de tudo isto e, sobretudo, o que isto significa em pobreza e sacrifício para milhões de portugueses, o governo e a troika mostram-se satisfeitos com os resultados. Nem a anormal subida da mortalidade desde o começo do ano – mais 500 mortos por semana –, os desperta para o desastre humano em que estão a enterrar o país e a diminuir as condições de existência da população pobre e idosa, com o descabelado aumento do preço dos serviços de saúde, da electricidade, do gás e de outros bens de elementar necessidade.
Dizem os defensores da “austeridade custe o que custar” que todas estas medidas são necessárias, que os portugueses têm de amargar a sua existência, para que a economia portuguesa volte a crescer. E muitos outros sacrifícios ainda nos esperam nos próximos tempos até “arrumar a casa”. Não há outra solução – vaticinam com ar cândido. É preciso ter paciência – acrescentam. No entanto, avaliados os oito meses deste governo, as “gorduras” do Estado – aquelas que eram o suposto alvo dos actuais governantes, enquanto oposição, para nos aliviar de todos os males – continuam praticamente intocáveis, como sempre estiveram. Esqueceram-se de tudo o que disseram no dia em que ganharam as eleições, descredibilizando a democracia e a o nobre exercício da política e dos políticos.
A multiplicação de comissões sobre tutela ministerial, até para resolver problemas do futebol, com pagamentos chorudos aos nomeados, a tímida reforma do poder autárquico e das empresas municipais (que não têm a menor razão de existir), a remunerações dos administradores das empresas públicas, ou a escandalosa privatização do BPN, onde o Estado tem de pagar para entregar o Banco a privados, são alguns exemplos de como só há menos Estado para os pobres (na saúde, na assistência social, na reforma), mas continuará a haver mais Estado para os ricos e para uma nomenclatura que circula nos partidos políticos, que elege os seus dirigente e que, depois, exige o pagamento do serviço prestado. O Estado não emagreceu, como prometido. Os portugueses, esses sim, emagrecem e morrem cada vez mais, às mãos da cega austeridade deste governo, porque lhes carece o essencial para a sobrevivência. E ao que parece nada destas medidas vão ter importância porque já se fala em mais empréstimos e alteridades estúpidas.

Joana Teófilo Oliveira
Estudante de Ciências da Educação
Quinta do Anjo 


(Escreve todas as segundas-feiras na rubrica Criticas Soltas)




Outros artigos da autora

Desapareçam daqui, não vêem que só atrapalham os charters de chineses

Comentários