Carga pesada: PJ desmantela rede de corrupção nos portos de Setúbal e Sines

Tráfico escondido em comida: cocaína entre bananas e latas de feijão vindas da América Latina 

Cinco inspetores fiscais que prestavam serviço nos portos de Setúbal e Sines foram detidos pela Polícia Judiciária por suspeitas de corrupção ativa e passiva, tráfico de droga e branqueamento de capitais. A operação, designada “Porthos II”, revelou como a cocaína chegava camuflada entre produtos alimentares, como bananas e latas de feijão, vinda da América Latina.
Detidos por facilitarem tráfico nos portos de Setúbal e Sines

A Polícia Judiciária (PJ) avançou este domingo com mais uma etapa da operação “Porthos”, com a detenção de cinco funcionários públicos ligados à fiscalização alfandegária nos portos de Setúbal e Sines. Os suspeitos são apontados como peças-chave numa rede que facilitava a entrada de cocaína em Portugal, ocultada em produtos alimentares, como caixas de bananas ou latas de feijão.
Segundo a Direção Nacional da PJ, os detidos são inspetores fiscais da Autoridade Tributária, suspeitos de atuarem em conivência com redes criminosas internacionais para permitir a entrada de grandes quantidades de droga através dos portos marítimos nacionais. A cocaína era importada por via marítima a partir da América Latina e dissimulada em contentores com cargas legais.
Por cada quilo de cocaína que entrava, os funcionários recebiam uma percentagem. Chegaram a ganhar cerca de quatro mil euros por quilo, revela fonte da investigação.  

Rede com ligações ao PCC e ao tráfico nacional
A PJ suspeita que os inspetores tenham mantido ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC), a maior organização criminosa do Brasil, com mais de 40 mil membros, além de estarem ligados a outros cartéis sul-americanos. De acordo com o jornal Expresso, um dos detidos teria até ligações à rede de Rúben “Xuxas” Oliveira, um dos maiores traficantes portugueses, condenado a 20 anos de prisão em 2023.
A operação decorreu em várias localidades da Área Metropolitana de Lisboa, bem como em Setúbal e Sines, e envolveu 30 inspetores da Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ. Foram cumpridos cinco mandados de detenção fora de flagrante delito e seis mandados de busca domiciliária e apreensão.

"Porthos II" dá seguimento à megaoperação de Fevereiro
Esta nova ação é uma continuação da operação “Porthos”, desencadeada em Fevereiro deste ano, que levou à detenção de quatro indivíduos - entre eles dois inspetores da Autoridade Tributária - e à constituição de 15 arguidos. Nessa fase, a PJ apreendeu mais de meio milhão de euros em dinheiro, 10 viaturas e cinco armas de fogo.
De acordo com o comunicado da PJ, os factos investigados estão diretamente ligados “à beneficiação de organizações criminosas internacionais, dedicadas à exportação de elevadas quantidades de cocaína por via marítima, a partir da América Latina”.

Mais detenções poderão acontecer
A Polícia Judiciária afirma que a investigação está longe de terminar e que vai continuar a recolher provas e a identificar outros envolvidos. A ação da PJ contou com a participação de 30 inspetores e elementos de segurança, e foi realizada em coordenação com forças policiais internacionais. 
Os cinco detidos, todos em funções nos portos de Setúbal e Sines, serão apresentados esta segunda-feira a primeiro interrogatório judicial, onde poderão conhecer as medidas de coação a aplicar.

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