Setúbal muda de cor: Chega lidera em sete concelhos e arrasa na votação

Onda radical domina no distrito e destrona PS após quase 30 anos. Mas é a AD que venceu o país 

O partido de André Ventura conquista seis deputados e vence em sete concelhos do distrito. PS resiste em seis municípios e Bloco de Esquerda perde representação. O distrito de Setúbal assistiu a uma transformação eleitoral sem precedentes nas legislativas de domingo. O Chega liderou a votação com 26,38 por cento, ultrapassando o Partido Socialista (PS) e elegendo seis deputados. É a primeira vez, desde 1995, que o PS deixa de ser o partido mais votado no distrito nas eleições legislativas. A AD ganhou as eleições em Portugal e Pedro Nuno demite-se do PS que, no país, só ganhou no distrito de Évora. 
Ventura vence em Setúbal, Portalegre, Beja e Faro 

A ascensão do Chega confirma-se ainda mais a nível local, com vitórias em sete dos 13 concelhos do distrito: Seixal, Moita, Montijo, Palmela, Sesimbra, Setúbal e Sines — todos eles com maioria socialista nas eleições de 2024.
Apesar da derrota a nível distrital, o PS conseguiu manter a liderança em Almada, Barreiro, Alcácer do Sal, Grândola e em Santiago do Cacém. Esta resistência, embora insuficiente para segurar a maioria de deputados, revela ainda uma base sólida em concelhos históricos da esquerda.
No entanto, o concelho de Alcochete foi perdido para a coligação AD, sinalizando que a erosão do apoio socialista se faz sentir até em localidades tradicionalmente fiéis.
E os números não enganam: Em 2025, o Chega foi o partido mais votado, alcançando 26,38% dos votos (129.569) e garantindo 6 mandatos, um aumento significativo em relação aos 20,31% e 4 mandatos em 2024. A subida de mais de seis pontos percentuais e dois mandatos reforça a ascensão do partido liderado por André Ventura, que se afirma como a principal força mais à direita.
Este crescimento traduz-se também em termos absolutos: O Chega ganhou mais de 27 mil votos em apenas um ano, um feito que evidencia a mobilização do eleitorado conservador e  dos descontentes. 
Depois de ter vencido em 2024 com 31,27% dos votos (157.166) e 7 mandatos, o Partido Socialista caiu para 24,97% (122.679 votos) e apenas 5 mandatos em 2025. Esta descida de mais de 6 pontos percentuais e quase 35 mil votos perdidos reflete o desgaste do partido e um possível desânimo do seu eleitorado tradicional.
Apesar do recuo, o PS ainda mantém um número expressivo de votantes, ficando muito próximo do Chega em termos percentuais e em número de mandatos, o que mostra que continua a ser um dos principais atores políticos.
 
Quedas à esquerda, ganhos à direita
Pedro Nuno Santos deixou presidência do PS 
A AD [coligação PSD/CDS-PP] apesar de ganhar o país não teve grande fulgor no distrito. Obteve 21,01% dos votos (103.181) e garantiu 5 mandatos, mantendo-se praticamente estável face a 2024, quando a coligação (então com o PPM incluído) registou 17,17% e 4 mandatos. O ligeiro crescimento pode indicar uma recuperação gradual, embora continue ofuscada pela força crescente do Chega.
O Bloco de Esquerda, que tinha a deputada Joana Mortágua como representante no distrito, foi afastado do Parlamento após ver a sua votação cair de 6% em 2024 para apenas 2,66% este ano. O Bloco perdeu mais de 17 mil votos no distrito num ano.
A CDU, outra das forças históricas da região, manteve o seu mandato, com 7,12% (34.956 votos) em 2025, ligeiramente abaixo dos 7,73% (38.841 votos) obtidos no ano anterior.
O Livre inverteu a tendência negativa da esquerda, subindo de 4,29% (21.552 votos) e 1 mandato para 5,84% (28.700 votos), também com 1 mandato. A votação do Livre poderá sinalizar uma reconfiguração dentro do espaço progressista à esquerda.
A Iniciativa Liberal também reforçou ligeiramente a sua posição (de 5,36% para 5,51%) e assegurou a reeleição de uma deputada. Subiu dos 26.941 para 27.057 votos.
O PAN viu uma ligeira quebra, passando de 2,56% (12.856 votos) em 2024 para 1,88% (9.229 votos) em 2025, sem eleger deputados.

Partidos extra-parlamentares mantêm expressão residual
Outros partidos como ADN, PCTP/MRPP, R.I.R., VP, ND, entre outros, mantêm uma expressão eleitoral diminuta, não ultrapassando 1,5% dos votos individualmente, e permanecendo sem representação parlamentar. 
Os votos em branco e nulos também se mantêm estáveis: 1,24% em branco e ligeira descida nos nulos (1,01% para 0,91%), evidenciando uma participação eleitoral ainda significativa, mas com algum sinal de desilusão.
A taxa de participação desceu ligeiramente de 66,90% em 2024 para 65,09% em 2025, com 491.217 votantes em 2025, menos 11.370 do que no ano anterior. Esta quebra moderada pode refletir tanto o desgaste da classe política como o crescimento do voto útil em partidos mais polarizadores.

Deputados eleitos por Setúbal
  • Chega: Rita Matias, Patrícia Carvalho, Nuno Gabriel, Daniel Teixeira, Cláudia Estevão e Ricardo Reis
  • PS: António Mendonça Mendes, Eurídice Pereira, André Pinotes Batista, Margarida Afonso e  Carlos Pereira
  • AD: Maria Teresa Morais, Paulo Ribeiro, Bruno Vitorino, Sónia dos Reis e António Pedro Roque
  • CDU: Paula Santos
  • Livre: Paulo Muacho
  • IL: Joana Cordeiro
Portugal deixou o Luís trabalhar, Pedro Nuno diz adeus e o Chega declarou o fim do bipartidarismo
Luís Montenegro teve apoio do povo 
A AD venceu, mas longe de uma maioria absoluta, o PS e o Chega estão empatados e a emigração pode dar a vitória ao partido de Ventura. O Parlamento passa a ter 10 partidos, com a entrada do Juntos Pelo Povo. Esta segunda-feira, o Presidente começa a convocar os partidos para falar "calmamente". 
A coligação formada pelo PSD e CDS-PP obteve o maior número de votos (32,10%), uma subida de 4,08%, e de deputados (89), mais nove do que no ano passado. Ainda assim, a vitória da AD não foi suficientemente forte para permitir uma maioria na Assembleia da República e maior estabilidade governativa.
O Partido Socialista (PS) ficou no segundo lugar com 23,38%, quase menos 5% do que em 2024, o que se traduz em quase menos 420 mil votos e em apenas 58 assentos paralamentares, ou seja, perdeu 20. Trata-se do pior resultado eleitoral dos socialistas desde 1987, ano da primeira maioria absoluta de Cavaco Silva quando o PS granjeou somente 22,2% das preferências dos portugueses. Pedro Nuno Santos não resistiu e saiu de cena, já André Ventura celebrou a vitória "contra o bipartidarismo".
O Chega comandado por André Ventura sai empatado com o PS, em termos de deputados eleitos (58), mas acabou por ser o terceiro partido com 22,56%, menos 50 mil votos do que o PS (23,38%), mas obteve mais 175 mil votos face a 2024.
No entanto, a formação política liderada por André Ventura pode passar a ter mais mandatos do que o PS caso volte a prevalecer nos dois círculos da emigração.
Foi também uma noite de vitória para a Iniciativa Liberal e para o Livre que reforçaram os resultados e têm agora nove e seis deputados respetivamente.
A CDU perdeu um deputado (tem agora três), mas continua a ser a sexta força política. O Bloco de Esquerda foi o grande derrotado da noite: apenas conseguiu eleger Mariana Mortágua.
O PAN conseguiu manter uma deputada, Inês Corte Real, num parlamento que assiste também à chegada de um novo partido vindo da Madeira: o Juntos pelo Povo (JPP).

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