Caso dos russos que receberam refugiados da Ucrânia está parado em Setúbal

Comissão eventual da câmara reuniu uma única vez e não ouviu ninguém. PSD e BE trocam acusações 

Nuno Carvalho, deputado do PSD e eleito da Câmara de Setúbal, assume que o “assunto esmoreceu por completo” e que, na verdade, a “Comissão Eventual de Fiscalização da Conduta da Câmara de Setúbal e dos Serviços Municipais no Acolhimento de Refugiados Ucranianos”, criada em Maio, “não deu em nada”. O social-democrata preside à comissão, aprovada por unanimidade na Assembleia Municipal de Setúbal, com os votos da CDU, PSD, PS, Chega, Iniciativa Liberal, Bloco de Esquerda, PAN e Livre, mas até agora ninguém foi chamado para audição ou recolhida qualquer documentação. Nuno Carvalho admite marcar nova reunião “a partir de Setembro”, mas o certo é que “o prazo máximo de 60 dias” para apresentação de um relatório [como consta da deliberação da câmara] já se encontra ultrapassado. Ou seja, qualquer decisão, a ser tomada, não tem suporte legal, refere o deputado ao jornal Expresso. Palavras que não agradaram ao Bloco de Esquerda.  
Refugiados ucranianos foram recebidos em Setúbal por russos 

As declarações prestadas ao jornal Expresso, pelo deputado municipal, Nuno Carvalho, eleito do PSD e presidente da “Comissão Eventual de Fiscalização da Conduta da Câmara de Setúbal e dos Serviços Municipais no Acolhimento de Refugiados Ucranianos”, são, na opinião do Bloco de Esquerda, preocupantes e uma total desresponsabilização da sua inércia, incapacidade de trabalho e de total desrespeito pelos que fazem parte desta comissão.
Afirma Nuno Carvalho, de que o “assunto esmoreceu por completo” e que, na verdade, a “Comissão Eventual de Fiscalização da Conduta da Câmara de Setúbal e dos Serviços Municipais no Acolhimento de Refugiados Ucranianos”, criada em maio, “não deu em nada”.
"Não pode o presidente falar em nome da Comissão quando, desde 6 de Junho, data da primeira e única reunião da comissão se candidatou ao lugar de presidente da comissão e que contou com o apoio da CDU e Chega para a sua eleição, não foi capaz de produzir qualquer trabalho para os necessários contatos com as entidades aprovadas em sede de comissão para audição, demonstrando uma total inércia e capacidade de estar à altura para o lugar a que se propôs", realça o Bloco de Esquerda em nota enviada à ADN-Agência de Notícias. 
Diz ainda o BE que não pode Nuno Carvalho, sem ouvir a Comissão, afirmar que face ao ponto deliberativo da proposta aprovada por unanimidade em Assembleia Municipal Extraordinária: Que a respetiva comissão apresente um relatório no espaço máximo de 60 dias, de que qualquer decisão, a ser tomada, não tem suporte legal. 
"A Comissão pode propor a prorrogação da sua continuação, se de facto existe interesse em manter esta Comissão, o que não parece ser o caso do presidente", sublinha o Bloco de Esquerda. 
"Podemos até entender que os holofotes mediáticos hoje não estejam a passar por aqui, certo é que os problemas e questões que se levantaram sobre esta matéria se mantêm e que é necessário esclarecer e apurar eventuais responsáveis por eventuais erros cometidos, não podemos é aceitar que alguns que até pediram a demissão do presidente, outros que apresentaram moção de censura ao executivo e outros que por conveniência política lhes dá jeito esta situação, não podem, pela sua inércia e incapacidade estagnar os trabalhos desta comissão", refere a mesma nota. 
A Assembleia Municipal e os seus membros, têm o dever cívico e político de responder perante os que neles votaram, demonstrando o respeito pelas decisões votadas, neste caso unanimemente, pelo que o Bloco de Esquerda "não pode pactuar com esta atitude de desresponsabilização política de quem quis assumir protagonismo apenas com intuitos políticos e que na prática nada tenha sido feito até ao presente para apuramento e clarificação deste caso que envolveu a autarquia de Setúbal", conclui o comunicado. 

"O Bloco de Esquerda é um partido que está sempre a contrariar" 
Prazo para elaborar parecer já terminou
Em sequência do comunicado do partido bloquista, Nuno Carvalho assegurou que “o PSD não vai servir de desculpa pelos complexos ou antagonismos do BE”, tendo o partido que se “autoesclarecer, mas não à custa dos outros”. 
“O Bloco de Esquerda é um partido que está sempre a contrariar aquilo que é a sua própria posição e que tem uma visão de apoio à Ucrânia diferente do resto dos países democratas. Acho que têm de correr atrás do prejuízo político das posições que tomam e que não são claras”, concluiu.
A polémica estalou depois de o Expresso revelar que um casal russo pró-Putin recebera os refugiados de guerra, recolhendo informação familiar e fotocopiando documentos pessoais dos ucranianos que chegavam a Setúbal, e ter levantado suspeitas de contacto com os serviços de espionagem da Rússia. 
O assunto fez manchete do Expresso, causando uma onda de indignação que atravessou todos os partidos e levou, inclusivamente, o Chega a apresentar um pedido para a constituição de uma comissão parlamentar de inquérito ao assunto. A iniciativa do partido de André Ventura acabaria chumbada, com os votos contra do PS e a abstenção das restantes bancadas parlamentares.

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