Comunidade portuária debate futuro do porto de Setúbal

“Setúbal tem excelentes condições para vir a ser o grande porto da área de Lisboa”

O futuro do porto de Setúbal é sorridente. Pelo menos, é essa a opinião de Carlos Vasconcelos, que garantiu, esta quarta-feira, numa conferência sobre a possibilidade dessa infraestrutura vir a constituir uma solução para a região lisboeta, que o porto “tem excelentes condições para ser o grande porto da área”. Segundo o administrador da Medway, Setúbal beneficia de um bom estuário e “não tem a pressão urbanística”, que diz estar a condenar a margem norte da capital. Consensual é também a necessidade de o desenvolvimento do porto de Setúbal ser feito em harmonia com a envolvente, incluindo a própria cidade. Maria das Dores Meira destacou que a Câmara de Setúbal está ciente da importância dessa parceria e fez um breve apanhado do trabalho realizado pela autarquia nos últimos anos, o qual, salientou, tem permitido a captação de investimentos para o concelho.
Potencialidades do porto de Setúbal discutidas esta quarta-feira  

“A lógica mais elementar é que nós temos aqui uma estrutura que é excelente e exige um menor investimento [em relação à possível construção de um porto no Barreiro]“, explicou Vasconcelos. O representante da Medway deixou claro que o próximo passo deverá ser, deste modo, pensar em soluções logísticas, nomeadamente no que diz respeito aos acessos ferroviários, que precisam de ser melhorados. Neste ponto, as boas notícias são que “Sines demonstrou que a distância não é um problema”.
No mesmo painel que o administrador, Antoine Velger confessou o mesmo entusiasmo. O presidente da Associação da Indústria da Península de Setúbal sublinhou que “a indústria se guia pela competitividade, não pelos limites administrativos”, logo os ventos são favoráveis ao porto desta cidade. “Hoje, [o porto de Setúbal] é claramente competitivo. É mais barato que Lisboa e em termos de acessos é mais direto”, realçou. Ainda assim, Velger notou que as melhorias na ferrovia são imperativas.
“Não podemos encarar Lisboa vs Setúbal”, ripostou, no mesmo evento, a ministra do Mar. “Nunca haverá uma estratégia baseada no confronto entre Lisboa e Setúbal. Não sob a minha gestão”, reforçou Ana Paula Vitorino, que explicou que o porto desta cidade tem de ser considerado como uma parte fundamental de um plano conjunto.
De acordo com a governante, Mário Lopes, professor no Instituto Superior Técnico, que enfatiza que “a gestão conjunta dos portos de Lisboa e Setúbal é uma opção racional que permite otimizar os recursos“. A mitigar o entusiasmo sentido nesta sessão, António Andrade, da Tersado, alertou, por fim, para que os investimentos não sejam muito antecipados ou ainda se aumenta o risco de ineficiência. “É preciso ter massa crítica”, assinalou, reforçando que o desenvolvimento da estrutura portuária deve acompanhar o aumento da procura.

Porto aponta ao turismo em Setúbal 

O encontro, que decorreu no Fórum Municipal Luísa Todi, organizado pela Comunidade Portuária de Setúbal, contou, na abertura, com as participações do presidente daquela associação, Porfírio Gomes, e das presidentes da Câmara Municipal, Maria das Dores Meira, e da APSS – Administração dos Portos de Setúbal e Sines, Lídia Sequeira.
“O porto de Setúbal tem a vantagem competitiva de se localizar junto do maior centro de consumo do país e um dos maiores da própria Península Ibérica, além de estar próximo de um importante centro industrial. Estas são características de uma riqueza ímpar”, frisou Lídia Sequeira.
Consensual é também a necessidade de o desenvolvimento do porto de Setúbal ser feito em harmonia com a envolvente, incluindo a própria cidade.
Maria das Dores Meira destacou que a Câmara de Setúbal está ciente da importância dessa parceria e fez um breve apanhado do trabalho realizado pela autarquia nos últimos anos, o qual, salientou, tem permitido a captação de investimentos para o concelho.
A regeneração urbana efetuada, de que resulta um aumento de projetos públicos e privados de reabilitação no centro histórico e na frente ribeirinha, foi uma das medidas apontadas.
A autarca destacou ainda o desenvolvimento do plano de pormenor da zona industrial da Mitrena, com benefícios na qualificação das infraestruturas, na potenciação da oferta de novos espaços empresariais e na melhoria da qualidade ambiental da área.
Para que o porto de Setúbal, atualmente em quarto lugar no ranking nacional, dê um salto qualitativo mais acentuado em termos de crescimento de volume de negócios, é também consensual entre os intervenientes a realização de apostas estratégicas noutras áreas de atuação.
“O porto de Setúbal tem capacidade de resposta em todos os segmentos de carga”, mais-valia assinalada por Porfírio Gomes, embora “a capacidade dos terminais esteja com uma baixa taxa de ocupação, tendo sido identificados os acessos ferroviários e outros atualmente existentes como limitativos do seu desenvolvimento”.
Maria das Dores Meira sublinhou que a, apesar de a gestão dos transportes públicos só transitar para os municípios em 2019, a Câmara de Setúbal já está “em vias de iniciar o Plano Operacional de Transportes e o caderno de encargos para a gestão do estacionamento na cidade”.
A autarca recordou, ainda sobre esta temática, que Setúbal tem uma candidatura aprovada para poder “começar em breve” a construir o interface intermodal da Praça do Brasil, com os modos ferroviário e rodoviário.
A presidente da Câmara alertou, em contrapartida, que há setores em que é essencial o trabalho em parceria com várias entidades, caso da atual desclassificação da EN10-4 no Plano Rodoviário Nacional, ainda por integrar na rede municipal, o que significa que nenhuma entidade assume, neste momento, a sua qualificação.
Realçou, igualmente, a importância do apoio da Comunidade Portuária junto da IP – Infraestruturas de Portugal para requalificação do nó das Fontainhas, que serve de entrada na cidade e também como ponto de acesso à zona industrial da Mitrena.
A presidente da Câmara Municipal deixou ainda uma mensagem dirigida ao ministro do Planeamento e das Infraestruturas, “para a necessária visão integrada entre as obras ferroviárias programadas para servir o porto de Setúbal e a coerente e adequada reformulação do viaduto e da passagem de nível existentes”.

Porto de Setúbal mais perto... de Madrid
Uma das obras ferroviárias em causa é a ligação Évora-Caia, que, salientou Lídia Sequeira, está em fase de conclusão e será uma conexão que, “em termos práticos, irá fazer do porto de Setúbal o porto nacional mais perto de Madrid”.
O setor do turismo foi também destacado como um eixo que deve ser considerado essencial para o crescimento do porto de Setúbal, assim como do próprio concelho.
“O lazer e o recreio têm um papel fundamental no desenvolvimento deste porto, pelas características únicas que o Estuário do Sado apresenta”, frisou a responsável da APSS, para quem o porto de Setúbal possui “uma capacidade de expansão que tem de ser explorada”.
A criação de uma marina pode ser uma das chaves que permitirão materializar todo o potencial do porto setubalense, ao retirar proveito da localização geográfica em relação às rotas marítimas internacionais praticadas, das qualidades endógenas, propícias a turismo de natureza, da Serra da Arrábida e do Estuário do Sado, e da própria cidade de Setúbal.
“A Câmara Municipal e a APSS estão a desenvolver o trabalho necessário para a abertura do respetivo concurso de concessão” da futura marina, revelou Maria das Dores Meira.
A autarca adiantou que, no âmbito da recente transferência da gestão das praias da Arrábida para a Câmara Municipal de Setúbal, estão a ser desenvolvidos os respetivos planos de qualificação, bem como um plano de mobilidade, acessibilidade e estacionamento.

Agência de Notícias 

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