Festa de Pinhal Novo entre tradição e modernidade

 Sábado, a noite da tradição e da modernidade

A noite de Sábado das Festas Populares trouxe de volta as tradições. O tema das Festas deste ano lembrava a tradição e modernidade. Se o festival de Folclórico do Rancho dos Olhos d’Água, as marchas populares, a noite da sardinha assada e o bailarico popular, houve tempo para a modernidade trazida por um fantástico grupo que tem raízes pinhalnovenses. Um Zero Azul actuaram pela primeira vez no palco principal da Festa e, sem exageros, deram um dos melhores concertos deste ano das Festas Populares de Pinhal Novo.

Kapa de Freitas, vocalista da banda, soube agarrar o público 

Longe, muito longe, da enchente de sexta-feira, as pessoas iam chegando à beira do principal palco para ouvirem o primeiro trabalho da banda de Pinhal Novo, Moita e Alcochete. “Quem não quer ver?” é o nome do álbum que foi lançado no inicio do mês e, pelo que já se viu, é uma banda com enorme potencial de futuro. Algo que não é novo para quem já os conhece há muito tempo. Em 2009, ainda no já extinto Concurso de Música Moderna de Palmela, escrevi: “fixem este nome: Um Zero Azul. Fixou? Antes de tudo, de zero musical este trio de Pinhal Novo não tem nada. São bons – não exageramos se dissermos muito bons – e têm letras que facilmente ficam no ouvido e tocariam em qualquer rádio do país. Entre um “mundo cinzento” é só mais um dia para ficarmos todos “maravilhosamente maravilhados” com este pop rock moderno, audaz e bem dirigido”.
O tempo deu-me razão e a banda está ai. Convidou o vocalista dos Xutos de Pontapés, Tim, para gravar com eles uma das músicas – o tema que dá nome ao álbum – e a presença na banda sonora da novela mais vista em Portugal – Dancin´ Days na SIC – abriu-lhes portas maiores. E o trio musical não perdeu a oportunidade de chegar a mais ouvidos por este país fora.
E perante um público exigente, a banda da casa apareceu com uma super produção. “Façam barulho”, pedia Kapa de Freitas, o vocalista. E o público, ainda que timidamente, lá ia fazendo a vontade aos jovens músicos.  

O segredo dos Um Zero Azul
E qual é o segredo da fórmula Um Zero Azul? É “uma banda que deixa um bocado de lado o tecnicismo e toca canções para as pessoas cantarem e é isso que nos agrada: que as pessoas cantem connosco. Não estamos preocupados só em fazer solos de guitarra, baterias muito compostas. Às vezes, na simplicidade, está o melhor das bandas. Queremos evoluir para canções e letras em que as pessoas possam cantar connosco”, dizia Eurico Sequeira, numa entrevista no início da banda. E hoje, alguns anos depois, a fórmula funciona porque quem os segue já conhece as letras. “Adoro-os. Já os vi por duas ou três vezes mas sabe sempre bem ouvir”, dizia Nuno à boca do palco. Mas há casos inversos. De gente que não os conhece e ficou “apaixonada” pelo som. “Só conhecia uma das músicas da novela mas, com toda a sinceridade, desconhecia tudo o resto e hoje, ao passar pela Festa, fiquei a ouvir e estou apaixonada pelo som, pela voz, pelos temas simples que ficam no ouvido e pela forma como se apresentam. São sem dúvida do melhor que se faz em Portugal. Continuem por favor e é bom que mais comissões de Festas, um pouco por todo o país, abram portas a gente nova porque merecem”, contou Tânia Correia ao ADN.
Rock, Electrónica e Pop são alguns dos condimentos que temperam os poemas cozinhados na dualidade do dia-a-dia de uma sociedade que parece há muito ter esquecido o poder da palavra em Português! Entre os zeros e uns monocromáticos que compõem o mundo que nos rodeia, surge Um Zero Azul que marca a diferença!
Foi, desta maneira colorida e intensa, que a banda se apresentou ao mundo em 2009. E continuam com a mesma intensidade e a mesma força colorida nas vozes e no ritmo.
A noite decorreu em clima de modernidade. O público – mesmo não enchendo a praça – não arredou pé e aquilo que se ouviu foi, de facto, do melhor que Portugal tem a nível de música.
Veja a reportagem fotográfica do concerto AQUI

Folclore e Marchas Populares
Marcha dos Amigos de Baco apresentou "marcha das meninas" 
E em homenagem ao tema da Festa deste ano a noite de sábado foi bonita. A noite das tradições, com marchas populares e com um festival de Folclore do Rancho dos Olhos d’Água. Com o grupo da casa estiveram os ranchos da Sociedade Recreativa da Cabeça Veada, Porto de Mós, o Rancho da Casa do Povo de Cernache do Bonjardim, Sertã e do Rancho Folclórico da Casa do Povo Conceição de Faro, da capital do Algarve. E todos, sem excepção, deram vida enorme à noite das tradições, sempre com muito público por ali à beira do lago da principal praça verde da vila.  
Há mesma hora, quase ali ao lado, o Polidesportivo José Maria dos Santos encheu-se de cor e música para receber três Marchas Populares. Uma de Pinhal Novo [marcha Feminina dos Amigos de Baco] e duas do concelho da Lourinhã, das freguesias de Abelheira e Marteleira.
Não faltaram as imagens de Santo António, os manjericos e os vestidos rodados. A música marcava o ritmo da festa e numa onda popular embalava os presentes que, ao ouvirem repetidamente a mesma quadra, também já cantarolavam. A Abelheira trouxe a Pinhal Novo algo de simples mas de muito rico. A vizinha Marteleira trouxe à noite das tradições, um, cheirinho da sua terra e da sua génese. Falou da água, das plantas, das lavadeiras e da história local com muita animação.
Os Amigos de Baco optaram por mostrar – e cantar – o Pinhal Novo antigo à modernidade, tema das marchas que apresenta só mulheres.
Lá fora, uma menina de palmo e meio, gritava que a “tia estava linda com aquela sainha”. Pais, amigos e vizinhos, tiravam fotos para mais tarde recordar. “Mana estamos aqui lia-se num cartaz aquando a passagem da marcha das marchantes dos Amigos de Baco. Um homem chama o jornalista para “lamentar que as marchas tenham pouca divulgação na comunicação social. Deviam de fazer uma cobertura informativa e de reportagem das marchas”.  
Padrinhos, cantadeiras, marchantes, ensaiadores e público saíram felizes da iniciativa. A noite estava a ser de festa.

Do bailarico à sardinhada  
A noite acabou com uma sardinhada no Jardim 

Festa que continuou no bailarico popular no Polidesportivo com os Contraponto que agarrou o povo que queria dar pézinhos de dança. E eram muitos, a julgar pela afluência ao recinto. Meninas a dançar com meninas, mulheres de meia idade com senhores de gravata. Crianças, adultos, pares mais românticos com casais que destoavam do ritmo. Tudo alegre, tudo feliz... tudo em festa.
Num recanto escuro do jardim, oferecia-se sardinhas e vinho. Era a noite da sardinhada e muitos não deixaram de experimentar uma sardinha – ou várias – com pão e vinho. “Isto é o melhor da Festa”, dizia-me um senhor enquanto cuidava da sua sardinha não fosse ela “roubada por bocas alheias”. Não foi! Mais à frente, Teresa e Rafaela estavam de posse de um copo de tinto e uma sardinha a dividir pelas duas, porque “faz colesterol e temos que nos cuidar para o Verão”, diziam divertidas.
“As festas são isso mesmo. São alegria, encontros e boa comida”, contava Mário Augusto que vem todos os anos da Fonte da Vaca para as “Festas da nossa terra”.
Veja a reportagem fotográfica da noite das tradições AQUI


Paulo Jorge Oliveira    

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