Ponte Vasco da Gama 15 anos depois


Os "condomínios-fantasma" da Margem Sul

Casas por acabar, casas por vender e "condomínios-fantasma", onde moram apenas duas ou três famílias, são também uma consequência do "boom" imobiliário que se deu nos concelhos de Alcochete, Montijo e Palmela aquando da construção da ponte Vasco da Gama.

Ponte Vasco da Gama completou 15 anos 


Numa visita por aquela zona são visíveis os novos bairros que foram criados e que foram ocupados por pessoas atraídas por casas novas a preços impensáveis em Lisboa e pela curta distância que a ponte veio trazer entre as duas margens.
Inaugurada a 29 de Março de 1998, a ponte Vasco da Gama aproximou Lisboa da Península de Setúbal, principalmente dos concelhos do Montijo, Alcochete e Palmela, o que se traduziu num aumento do número de licenças de habitação, na oferta de casas e na criação de grandes espaços comerciais, como o Freeport e o Fórum Montijo.
Mas são também visíveis as consequências do excesso de construção e da crise, nas muitas casas que continuam por vender e por acabar de construir.
No empreendimento "Villas de Alcochete", que deveria ter cerca de 55 moradias, estão construídas metade, outras estão por acabar e as restantes nem sequer foram começadas.
Todo o condomínio está vedado e os stands de venda abandonados, tendo um sido vandalizado.
Ao lado, um outro condomínio de dezenas de moradias está terminado, mas a grande maioria das casas está por habitar, sendo apenas visíveis "sinais de vida" em meia dúzia delas.
Nas restantes, as ervas já crescem junto à porta da garagem e da entrada, o pequeno portão de acesso à moradia está cheio de ferrugem e o parapeito do muro que rodeia a habitação está preto do pó, chuva e falta de manutenção.
Naquela zona existe também um outro condomínio de vivendas, separado pela estrada, onde de um lado há cerca de 40 casas construídas e poucas habitadas e, do outro, muitas mais por acabar a serem invadidas pelo mato, num cenário de desolação.

As urbanizações a meio em Pinhal Novo e Montijo
No Montijo, o cenário é idêntico, com empreendimentos por acabar, outros feitos mas com portas de madeira a tapar o "buraco" da porta principal e outros por começar.
Foi num desses "condomínios-fantasma" que a Lusa descobriu que mora apenas uma família entre as dezenas de casas construídas e por construir, mas que não quis prestar declarações.
Em Pinhal Novo, concelho de Palmela, o problema não é tão grande como em Alcochete e Montijo mas também há “muitas casas por vender” e muitas urbanizações feitas pela metade. No princípio do século, a autarquia de Palmela aprovou uma urbanização que abrangia uma área total de 57 hectares e iria ter no total 3034 fogos para cerca de 11 mil novos habitantes. Dos 57 hectares, 12 hectares estavam reservados para espaços verdes e espaços públicos. Os custos globais das “infra-estruturas extra urbanização” seriam suportados pelo promotor da urbanização segundo o protocolo assinado entre Câmara Municipal e os promotores. Hoje a urbanização Val’Flores é uma “pequena réplica do projecto original”, diz Alfredo Silva, que mora paredes meias com o lugar. As infra-estruturas foram feitas mas as casas não. Dos 3034 fogos do projecto só cerca de 100 estão habitados. A autarquia teve de substituir os promotores e arranjar os espaços públicos recorrendo às garantias bancárias dos promotores.  

É num condomínio acabado em Alcochete, mas com muitas casas por habitar, que reside há cinco anos Filipa Morgado, fugida da confusão da linha de Sintra.
"Já vim tarde", disse a residente à Lusa para mostrar o seu agrado por se ter mudado para aquela zona.
No entanto, lamenta que a câmara municipal "não faça a manutenção dos espaços verdes", que estão deixados "ao abandono" e apresentam ervas de altura considerável a crescer desordenadamente entre as pedras da calçada.
"Alcochete é o Freeport. Isso é que tem de estar verdinho e limpinho. O resto não importa", criticou Filipa Morgado, afirmando que "assim é difícil atrair novos moradores".

Construção parada

Várias urbanizações ficaram a meio em Montijo, Alcochete e Pinhal Novo
Segundo o Censos 2011, o concelho de Alcochete foi um dos que mais cresceu nos últimos 10 anos, com um aumento de 35 por cento da população: passou de 12 mil para 17.565 habitantes. No Montijo, os números do Censos 2011 revelam que, entre 2001 e 2011, a população cresceu 30,78 por cento.
A Lusa contactou várias imobiliárias da zona, que foram unânimes em dizer que a ponte Vasco da Gama atraiu novos moradores para a zona e em admitir que continuam por vender várias centenas de fogos.
"Na altura foram vendidas muitas casas. As últimas que se construíram é que foram mais difíceis [de vender]", disse Lurdes Teixeira, sócia gerente da CityVillage Imobiliária.
"Vendeu-se bastante e fez-se bastantes negócios até há dois anos. Agora só se vendem casas da banca ou de construtores que têm protocolos com a banca porque os 'spreads' são altíssimos e com os protocolos ficam mais reduzidos", acrescentou.
Cláudio Oliveira, da Imobiliária Tempo Válido, disse que "existia uma procura muito grande e tudo o que fazia, vendia", mas neste momento "a procura está em baixa, e mais do que se previa".
"A construção parou, existem alguns empreendimentos que não foram concluídos e a crise veio complicar tudo", afirmou.
No Pinhal Novo, Alcochete e Montijo há muitas urbanizações que ficaram por acabar. Prédios a meio que escondem a dura realidade dos territórios. Casas que ninguém sabe o que lhes vai acontecer e que são “ ruínas” em pleno centro urbanos. 

Agência de Notícias 

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