Reticências da Sociedade por Ana Sofia Horta


Também pensei que nunca me acontecesse… Sempre com um sorriso na cara, até ao dia…

Não querer sair da cama, muito menos de casa, falta de apetite, choros, por todas as razões e por nenhumas em concreto, repentinos e repetitivos. Angústia, ataques de pânico, sentimento de solidão, falta de apoio. Falta de sentido na vida.  Pensamentos e atos suicidas. Desilusões contínuas. Perda de amigos por falta de paciência. Incompreensão. Pesadelos sobre o mesmo assunto todas as noites.


Estes foram alguns dos muitos sintomas que convivi e vivi durante 2 anos, 1 deles ou outro, perdemos a noção do tempo, sem trabalhar sequer.
O nosso querido povo não está pronto para apoiar, é necessária muita compreensão e apoio, as depressões são diferentes e não existe termo de comparação. Devo ter conhecido 4 psicólogos, receitada por uma médica de clínica geral e agora, desde do Verão adeus medicação. Amigos despareceram, porque talvez fosse maluca ou aos olhos deles fraca demais e por isso ter uma depressão que foi arrastada por confundir ataques de pánico com quebras de tensão. Nervos e perda de peso com problemas de estômago. Cheguei a pesar 45 kg, a não me conseguir ver ao espelho, a querer que tudo acabasse, a querer dormir através da cura do sono, a querer ajudas espirituais, a renegar a existência de um Deus. Só as músicas que relatavam casos idênticos me davam a algum consolo depois de a ouvir repetidamente e deixar cair lágrimas até me doer a garganta.
Talvez a depressão tenha sido uma prova a mim mesma em como sou capaz, não acredito no acaso. E agora sou outra, gosto muito mais daquilo que sou e apesar da desilusão que tive com o Mundo, hoje acredito que é possível mudar, educar e ao pouco conseguir melhor.
Porque ainda existem pessoas humildes, compreensivas e com valores.
E por isto eu defendo tanto uma educação virada para os valores. E menos palavras e mais ações.
Sim, as mulheres são mais predispostas a ter depressões e porquê?! Pelo acumular de tarefas, tanto profissionais como domésticas. Para as mães os filhos são a raiz que as prende ao Mundo. Para as outras ou há muita força e muita paciência ou então já sabemos o fim…
Não vire as costas a estas pessoas às vezes quando não queremos é quando mais precisamos.


Ana Sofia Silva Horta
Educadora de Infância no Desemprego
Oeiras 

O terceiro dia semana tem sempre uma reticência. O mundo pula e avança mas, à Terça-feira, Ana Sofia Horta chega ao ADN com uma história de vida ou uma estória pessoal. Uma visão muito pessoal e uma opinião muito real da sociedade. Para ler, saborear, pensar e analisar. 


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