Nós e as Cidades por Miguel Macedo


Nascer em Portugal ou ir abortar no Brasil?

Lembrámos-nos de Aníbal Cavaco Silva em 2012, o ano em Portugal com menos bebés de que há registo. Foi o presidente a apadrinhar, em Fevereiro do ano passado, o debate ‘Nascer em Portugal’. Para memória futura ficou, nesse mês, o apelo de Cavaco às políticas de promoção da natalidade para vencer o ‘Inverno demográfico’ que arrefece, ainda mais, a esperança de salvação do Estado social. Enquanto isso... uma menina de 15 anos resolve ir abortar no Brasil...


Presumimos que há um ano, Cavaco Silva se referisse à criação de uma rede séria de creches públicas, incentivos fiscais à maternidade – que não esmolas mascaradas com o nome de abono familiar – e à mudança de mentalidade dos empregadores (mas isso, sabemos, não se faz por decreto).
Transmitam àqueles que nos governaram e governam o que disse há pouco tempo, numa conferência em Fátima, o economista João Ferreira do Amaral: "A crise vai aumentar o envelhecimento da população, porque vai reduzir o número de jovens devido à queda da taxa de fertilidade e aumento da imigração".
Todos os que passaram por São Bento desperdiçaram a oportunidade de fazer ‘Nascer em Portugal’. Com a crise a abocanhar-nos as canelas, mesmo em Fevereiro era já tarde demais. Um ano passou e continua a ser tarde e ninguém de São Bento a Belém fala do assunto. As cidades e nós agradecemos que quem governa comece a pensar.
E com o país a ficar velho eis que uma notícia incomoda a opinião pública. Não é preciso ser pai para ficar arrepiado com as desventuras de uma cantora portuguesa, a que a Lusa chama Maria Adelaide, cuja filha de 15 anos está retida numa instituição para menores em risco no Brasil, após recorrer a pílulas abortivas para pôr fim à gravidez que manteve até aos três meses.
Além da tragédia da jovem, que deu entrada no hospital com hemorragias e cometeu um crime à luz da legislação local, isto sucedeu numa cidade do estado de Mato Grosso, onde a adolescente reside com o namorado seis anos mais velho, que conheceu em Cascais, pelo que se torna fácil ir buscar archotes e forquilhas e seguir em busca da mãe. Não só por aquilo de que a polícia local suspeita - cumplicidade na compra das pílulas abortivas -, mas sobretudo por consentir que a filha mais velha tenha ido viver para o sítio de Cuiabá com o namorado, de quem engravidou antes da idade legal para ter relações sexuais.
Mais difícil é constatar que este caso é só a consequência extrema da ‘vida moderna' nos jovens, para os quais o sexo e a vontade de independência chegam cada vez mais cedo, ainda que caiba aos pais comprar smartphones e assegurar sustento até aos 35 anos. Os ‘sacanas dos putos' já deram o seu ‘Grito do Ipiranga'. E o pobre país fica cada vez mais velho!



Miguel Macedo
Montijo 

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