Nós e as Cidades por Miguel Macedo


Discutir Portugal à porta fechada

O primeiro-ministro  apelou aos cidadãos para participarem na discussão do Documento do FMI, destinado a refundar o Estado Social. Como cidadão interessado procurei dar o meu cotributo, tendo-me dirigido, para tal fim, ao Palácio Foz para assistir à discussão das propostas apresentadas pelo FMI (a pedido do Governo). No entanto, os mestres de cerimónia (Moedas e Sofia), avisaram logo que, daquele debate, nada transpiraria cá para fora, ou seja, a imprensa não estava autorizada a publicar nada do que ali fosse debatido, nem sequer imagens do evento. Um verdadeiro lock-out à informação. Afinal é isso que chamam debater o país? À porta fechada!


Enquanto escrevo estas linhas, uma suposta emanação colectiva da “sociedade civil” discute o futuro do nosso Estado. O evento deu logo que falar, não pelo que lá será falado, mas por não se poder falar do que ali se fala. Até deixam entrar jornalistas, mas nada de gravar os brilhantes pensamentos que por certo se multiplicam naquele salão como cogumelos alucinogénicos num pântano. Dada a “natureza do debate”, só poderão ser reproduzidas as ideias de génio com autorização expressa dos seus autores.
Não sei se esta original proibição já representa em si um modelo de organização do Estado, se pretende dar tempo às luminárias para registarem as patentes das suas inspirações antes que alguém as venda aos chineses, ou se é apenas uma prudente demonstração de vergonha antecipada, sabendo-se já o que muitos dos crânios arrebanhados para o convénio produziram antes.
Apesar de tudo a situação é séria e é grave. Como se pode discutir o futuro de uma nação à porta fechada e entre amigos?
Esta certo: nós, comuns mortais, poderemos depois admirar o “clip de um minuto”, talvez com música de um rapper coreano, com que os competentes assessores resumirão a alguma coisa mais logo. Isto também é o nosso triste estado. Lá longe o país vai-se derretendo sem ligar a nada disto: previsões económicas em queda, mais banqueiros investigados por lucros indevidos. O país real que temos.




Miguel Macedo
Estudante de Arquitectura
Montijo 

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