Somewhere...Where the imagination takes me...? por Alexandra Lopes


Noite

Há sem qualquer dúvida, ansiedades que o tempo não nos sabe compreender, mas que nos ajuda a saber dar valor às pequenas coisas da vida, dando-lhes um sabor gratificante.


A noite que cai em segredo e silenciosa, em seu tom melodicamente noturno, onde as luzes da cidade a contemplam e o rio de fundo dá o seu toque luzidio reflectido pela lua. Já é verão, e fora das habituais quatro paredes a noite está amena, e por isso mesmo será o momento ideal para colocar ideias e pensamentos em ordem.
A noite já vai a meio, de vez em quando há uma pequena briza que de um pequeno sopro, presenteia com a sua rápida visita, voltando novamente à calma anterior. Hoje a noite está especialmente mais acolhedora, talvez tenha percebido a espécie de amargo num doce que se combinam, talvez tenha percebido que a ansiedade daquela noite a passar tão lentamente, deixe o coração mais apertado, mais vulnerável, mais carente e dependente de um outro igual a si mesmo. Insistentemente os olhos param para observar novamente os ponteiros do pequeno relógio de pulso, passou apenas meia hora. 
Tantas têm sido as noites de pensamentos embrulhados numa pequena caixinha onde nela existe também desejos para realizar. Tantas têm sido as noites que há a vontade imensa de ser apenas a última até ao desejado momento.
A imaginação ali é quem manda, e num longo suspiro fica a vontade de um abraço.
As estrelas são testemunhas, todas as noites, já habituais, estão lá para testemunhar as confissões, os suspiros, as palavras mudas, a saudade, as lagrimas deitadas sobre um sorriso. Ao fundo, onde o horizonte anuncia que o dia está perto de despertar, tal como um despertar de um sono, há certezas, as mesmas que um dia mais tarde serão recordadas com carinho, porque há o tempo de esperar, há aquele tempo em que na realidade ou afasta ou une, e no medo da primeira hipótese se sobrepôs muitas vezes a insegurança, aos poucos esse medo vai desaparecendo e tornando cada vez mais palpável a certeza de que tudo vale a pena esperar. O sabor de cada momento sozinho partilhado, cúmplices de nós mesmos, em que cada hora é uma eternidade que demora a passar.
Na dificuldade de agarrar a realidade, há a força insistente que domina corpos com sede de amar, com sede de dar a água para a vida, para o renascer de cada raio de sol, para cada anoitecer, para cada sonho para um sorriso.
Nunca será o céu visto da mesma maneira, como os raios de sol que atravessam e nos move para a frente, preenche com o calor do azul e deixa um calafrio no lugar, mas também desconhecemos a ignorância de muitas realidades, mas assim que as ilusões vão morrendo, vê-se que há muito para descobrir.
Inimigo de quem desespera, amigo da perfeição.



Alexandra Lopes
Setúbal
www.alexandralopes.blog.pt  

[Em cada um de nós existe uma lagarta feia... que nasce sempre uma linda borboleta... recomeçar nem sempre foi fácil. Todas as terças-feiras, Alexandra Lopes faz-nos a pergunta: Onde a imaginação me leva? Certamente… a tantos lugares]
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