Recluso de Palmela ensina Português em prisão brasileira


Os sonhos, os desejos e as ambições de Luís Gomes 

A esperança de melhorar a conta bancária e o envolvimento com o tráfico de cocaína transformaram um recém-graduado em electrónica de Palmela, em professor de português na prisão para estrangeiros do estado de São Paulo, no Brasil. Gosta daquilo que faz mas confessa que quando voltar à rua “quer fazer um curso de engenharia domótica e trabalhar com casas inteligentes". Foi preso em São Paulo quando tentava trazer cocaína para Lisboa.

Trabalho é a imagem de marca da prisão do interior de São Paulo 


Aos 27 anos, Luís Felipe Francisco Gomes dá aulas de português a reclusos nigerianos e sul-americanos na penitenciária Cabo PM Marcelo Pires da Silva, em Itaí (interior de São Paulo), conhecida como "Torre de Babel" devido à convivência de dezenas de línguas.
"Para quem fala inglês como primeira língua é mais difícil [aprender português], pois a gramática inglesa é mais simples", conta Luís Gomes. Mas os alunos empenham-se nas aulas para melhorar a comunicação com os agentes penitenciários, colegas de cela e advogados.
A aula do recluso natural de Palmela não se restringe ao idioma. "Tem de começar pela história, a explicação da razão de se falar português aqui no Brasil", explica o preso, que percorreu o mesmo caminho do idioma mais de 500 anos depois da chegada do primeiro português à América.

A história de Gomes
Em Palmela, no início de 2009, Luis Gomes vivia a sete quilómetros da praia com a mãe, então doente, e estava desempregado após ter terminado o curso de electrónica numa fábrica de montagem de automóveis. "Estava num momento de sufoco quando embarquei [para o Brasil]", afirma.
Em Abril de 2009, Gomes foi capturado ao tentar viajar com cocaína para Lisboa, no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Os três mil euros que ganharia com o transporte transformaram-se numa condenação de seis anos e três meses de prisão no Brasil.
A cada "bom dia" e "obrigado" que ensina aos colegas da penitenciária, vê a sua pena diminuir.
No Brasil, três dias de trabalho na prisão dão direito à remissão de um dia no período de condenação.

Os sonhos por realizar
Luís Gomes conta que não dá somente aulas de português, mas também de história, geografia e biologia, sempre para a educação básica, com livros didácticos brasileiros. Usa o inglês que aprendeu com os pais e o castelhano que ouvia na fronteira com Espanha para ajudar na comunicação.
Antes de ser “professor”, o português trabalhou como faxineiro e serviu comida na prisão. Diz gostar de ensinar, mas não pensa em seguir carreira lá fora.
"Quero voltar a Portugal, fazer um curso de engenharia domótica e trabalhar com casas inteligentes", revela.
Cerca de 60 por cento dos 1597 dos reclusos da penitenciária de Itaí trabalham, segundo a direcção da unidade. Há as opções de confecção de uniformes, bijuterias, mostruários de jóias, pregadores, sacos de papel e bolas, além da monitoria educacional e dos trabalhos internos da prisão.
Os alocados nesses trabalhos ganham salários, depositados numa conta bancária que fica à espera do fim do cumprimento da pena.
Dentro da prisão, os reclusos podem usar até três quartos do valor recebido para comprar produtos vendidos uma vez por mês, como doces, cigarros e objectos de higiene pessoal.

Agência de Notícias 

Comentários