Os recados de Cavaco Silva


“É nestas alturas que temos de nos manter unidos”

“Temos todos o dever de mostrar que somos um país credível e com potencialidades que tantas vezes são ignoradas”, disse Cavaco Silva, no discurso oficial do 38º aniversário do 25 de Abril, no Parlamento. Num discurso elogioso do país, Cavaco elencou os aspectos positivos da história política e económica do país, mas fez questão de frisar que “não se trata de alimentar um nacionalismo passadista” nem de “regressar a um discurso típico do regime deposto a 25 de Abril”. Direita e Esquerda dividem-se na avaliação do discurso oficial de Cavaco Silva por ocasião do 38º aniversário do 25 de Abril, no Parlamento. Mas parece unânime que o Presidente da República não falou das dificuldades, mas dos "sucessos" do país.

Presidente quer portugueses unidos

Defendendo que a imagem de um país é “um factor essencial para o seu sucesso”, o Presidente da República exortou os cidadãos a apostarem na projecção da imagem de Portugal no exterior, com apostas nos sectores do turismo e da investigação científica. E referiu, um a um, dezenas de motivos de orgulho para se ser português.
Mas são os portugueses o maior “activo” destacado por Cavaco Silva. “Numa altura como esta, o espírito solidário dos portugueses adquire uma dimensão que nos orgulha e comove”, disse.
O Presidente não deixou, no entanto, de reconhecer as dificuldades actuais: “Estou plenamente consciente da situação do país, dos problemas concretos dos portugueses: o desemprego ou a precariedade do emprego jovem, os novos pobres, o encerramento de empresas, os dramas que atingem famílias inteiras, as condições de solidão e de carência que afectam milhares de idosos”.

Sobre os problemas estruturais da economia, Cavaco insistiu na importância do crescimento económico “apoiado nas pequenas e médias empresas, em estreita articulação com a sociedade civil e com as autarquias, e de uma estratégia de revalorização do interior que combata o despovoamento e as assimetrias de desenvolvimento”.
Para o fim da sua intervenção, o Presidente guardou a referência ao momento político: “É nestas alturas que temos de nos manter unidos. Exige-se por isso um esforço permanente de diálogo e concertação entre Governo, os partidos da oposição e os parceiros sociais. Este tem sido, aliás, um dos nossos principais activos”, frisou. E acrescentou que “não é combatendo-nos uns aos outros que iremos combater a crise”.

PS saúda “opção” do Presidente
Direita e Esquerda dividem-se na avaliação do discurso oficial de Cavaco Silva por ocasião do 38º aniversário do 25 de Abril, no Parlamento. Mas parece unânime que o Presidente da República não falou das dificuldades, mas dos "sucessos" do país.
Carlos Zorrinho, líder parlamentar do PS, considerou que "o Presidente da República fez um bom discurso, optou por fazer um discurso positivo, realçando o que Portugal tem conseguido nos últimos anos". Zorrinho afirmou que o PS "saúda" a opção do Presidente, mas lamenta que Cavaco não tenha feito uma avaliação crítica sobre as boas e más opções do Executivo de Pedro Passos Coelho.

Discurso “quis unir portugueses” diz PSD
O líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, sublinhou um discurso que tentou “unir os portugueses”, dando “exemplos de sucesso” e colocando a tónica no crescimento económico e na criação de emprego. 

CDS-PP fala em discurso “realista e mobilizador"
Também Nuno Magalhães, líder parlamentar do CDS, elogiou o discurso do Presidente, que qualificou de “realista e mobilizador", considerando que Cavaco Silva "soube reconhecer o espírito de missão com que os portugueses têm encarado estas dificuldades". E sublinhou o apelo do Presidente da República para que Portugal se empenhe em passar "uma maior credibilidade externa", nomeadamente apostando em sectores como o turismo.

Cavaco Silva “fugiu às suas responsabilidades” comenta o PCP
PCP e BE foram os mais críticos ao discurso de Cavaco Silva

Jerónimo de Sousa criticou o discurso do Presidente da República por considerar que Cavaco Silva “fugiu às suas responsabilidades” e passou ao lado dos problemas do país como "um gato sobre brasas". O líder comunista defendeu que Cavaco devia olhar para o país e “colocar aos portugueses um novo rumo, uma alternativa” ao “pacto de agressão” assinado com a troika. 
“O grande registo a fazer é que o Presidente da República procurou valorizar os pequenos sucessos, o que é sempre meritório, mas omitiu e recusou os grandes problemas do país e as suas causas, particularmente no que respeita ao pacto de agressão. Creio que o Presidente da República falou do cisco e esqueceu o elefante. Passou como gato sobre brasas em relação aos problemas, fugindo às causas, às responsabilidades e às verdadeiras soluções", acusou Jerónimo de Sousa.

Cavaco, disse ainda o líder comunista, está “comprometido” com as orientações políticas do actual Governo e “não fez um discurso à altura das aspirações de Abril”.

Presidente esqueceu da austeridade, diz o BE
Também à esquerda, Francisco Louçã acusou Cavaco de se ter esquecido dos apelos que fez há um ano relativos aos limites dos sacrifícios que podem ser pedidos aos portugueses.
“Um ano depois não se lembrou das suas palavras, mas os portugueses, quem trabalha, quem está desempregado, quem está pobre, quem paga mais pela electricidade, pelo gás, pelos transportes, pela saúde ou pela educação, todos esses, sabem que os sacrifícios são insuportáveis", afirmou o líder do BE.

Louçã defendeu que o país precisa de mobilização e de compromisso. E de se focar em “dar resposta às dificuldades” e “acabar com a austeridade violenta e cruel que diminui a economia”.

Cavaco responde que está preocupado e atento
Presidente diz-se preocupado com situação social do país 

A estas criticas da esquerda parlamentar de que no seu discurso na sessão solene de comemoração do 25 de Abril esqueceu a crise que afecta o país, Cavaco Silva considerou que isso ou “é um mal-entendido ou um não saber aquilo que pode contribuir para a criação de emprego em Portugal”. 
“A prova de que não me esqueci é que coloquei todo o acento tónico naquilo que nas presentes circunstâncias pode criar mais emprego, que é promovendo as exportações de bens e serviços, promovendo o turismo e atraindo investimento estrangeiro. Só por esta forma, nas presentes circunstâncias, nós criaremos mais emprego”, diz o Presidente.
O chefe de Estado, que falava no final das comemorações do 38.º aniversário do 25 de Abril, considerou que “esse é o verdadeiro drama que existe na sociedade portuguesa”. 
“Eu não poderia expressar de forma mais clara a minha grande preocupação pela situação do país se não apontando aquele que é o caminho que todos reconhecem neste momento para conseguirmos reduzir o flagelo que atinge tantos cidadãos e tantos jovens”.

Falar para estrangeiro ouvir
Nas declarações aos jornalistas, no Pátio dos Bichos, no Palácio de Belém, Aníbal Cavaco Silva deixou ainda um apelo à comunicação social: “Há uma coisa que é clara em todos os estudos, o sucesso de um país depende também e muito da imagem desse país no estrangeiro, eu espero que também a comunicação social ajude a melhorar a imagem de Portugal no estrangeiro”. 

O Presidente da República salientou que o discurso que proferiu foi ouvido pelos “embaixadores de outros países estavam na Assembleia da República”, que tinham a ajudá-los “a tradução simultânea”. 
“Portanto, eles souberam muito bem aquilo que eu disse, ao mesmo tempo estava a ser transmitido para o exterior, para as comunidades portuguesas. Se nós nos mobilizarmos hoje para melhorar a imagem de Portugal no estrangeiro teremos mais produção, mais criação de riqueza e mais oportunidades de emprego”, concluiu. 

Agência de Notícias

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