Morrer por estupidezes...
A notícia é triste, mas não teria novidade num mundo injusto: os
acidentes acontecem. Uma jovem de 17 anos caiu de uma varanda, que baloiçava lá
em cima, num nono andar de uma cidade americana. Morte imediata, infelizmente.
Mas eis que me apercebo dos pormenores do fatídico instante. E, embora continue
a pertencer à categoria de acidente, é daqueles que se estava mesmo a ver que poderia
correr muito mal. Não, a jovem não se debruçou simplesmente, para ver algo,
chamar alguém. Não, a jovem não foi apanhada por uma forte e inesperada
rabanada de vento. A jovem, compreendo pouco depois, era adepta de uma das mil
"brincadeiras" das redes sociais da internet. Chama-se, pelos vistos,
planking. A jovem... caiu de um escadote numa varanda,
quando tentava que lhe tirassem uma foto para publicar no Twitter!
E o que é isso, fui ver. O planking consiste, estúpida e simplesmente,
em partilhar fotografias. Mas não umas quaisquer. Seja qual for o cenário,
devemos fotografar-nos completamente deitados, de barriga para baixo, com o
corpo hirto e firme. Obviamente que a brincadeira passou rapidamente do singelo
banco de jardim às acrobacias mais perigosas, cretinas e desnecessárias. Já tinha
matado o ano passado um jovem de 20 anos e voltou a matar de novo.
Fui pesquisar mais e descubro que, por exemplo, no Gloogle (onde tudo se
explica), dois funcionários de uma companhia posaram para a posteridade em
equilíbrio altamente instável, na boca de chaminés. Foram punidos
disciplinarmente, sem apelo nem agravo. O que se compreende, aceita e aplaude.
Era o que faltava uma empresa ter má publicidade às suas condições de segurança
só porque alguns funcionários são adeptos, nas suas vidas privadas, de
modalidade perigosa.
O caso do jovem que faleceu no ano passado, já foi mais sério. Excitado
com proezas de outros, contava equilibrar-se, à força de peito e barriga, num
exíguo varandim. A coisa correu mal, sem surpresa, e a queda foi fatal. Talvez
não seja a melhor pessoa para me pronunciar, uma vez que tudo o que sejam as
famosas "redes sociais" me passa completamente ao lado, mas é
impossível não constatar que se trata de um verdadeiro mundo virtual, com regras
próprias, mas que, em grande medida, me parece ter-se tornado na única vida de
que algumas pessoas são capazes. Ou seja, não um acrescento de vida, devido à
sua inquestionável rapidez e utilidade, mas a única vida. Uma vida enganadora,
parece-me, e sobretudo com demasiados laivos de vazio e estupidificação.
A jovem, de 17 anos, tentou ficar hirta e firme em cima de uma escadote
na varada de um nono andar em San Francisco. Ora, estava-se mesmo a ver no que
ia resultar... a Sophie, assim se chamava, prometeu que era capaz e até apostou
500 dólares com uma amiga de que antes da meia noite a foto estaria a “rolar”
no twitter. Óbvio, que a foto que “rolou” foi aquela que lhe tiraram “esmagada”
em cima de um carro, uns metros cá em baixo. Uma morte estúpida de uma acção
ainda mais estúpida. E tudo por causa de modas na internet.
Que se utilize a internet para contactos importantes, mensagens úteis,
troca de conhecimentos, acho óptimo. Nem sequer me causa confusão que se
aproveite para a marota espreitadela do outrora fechado mundo porno, ou que se
alimentem "relações" e flirts. Acho pobre, mas cada um sabe de si.
Já me causa estranheza esta moda dos vídeos e fotos partilhados por tudo
e por nada. Sobretudo quando se começa, como neste patético planking, a atingir
as raias da estupidez. É triste que haja tanta gente interessada em ver
milhares de outros deitados ao comprido nos sítios mais absurdos. E
infinitamente triste que, na procura de ser comentado como o mais original e
ousado, alguém acabe por perder a vida. E já agora, como estará a amiga da
Sophie, a tal que apostou, depois de tudo isso? Afinal, já era tempo de alguém
punir a estupidez a sério.
Joana Teófilo Oliveira
Estudante de Ciências da Educação
Quinta do Anjo
Estudante de Ciências da Educação
Quinta do Anjo
O
homem que não aceita crítica não é verdadeiramente grande. É tão incomum isso na nossa imprensa que as
pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é
estúpida. Outras irónicas. Tantas vezes desiludida e incompreendida. O leitor
que julgue. Acho que quem ofende os outros é o jornalismo em cima do muro, que
não quer contestar coisa alguma. O tom das Críticas Soltas às vezes é
sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou,
até, se quiserem, a irritação perante a vida, a política, a sociedade… o mundo,
enfim. À sexta-feira por Joana Teófilo Oliveira para o ADN.
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