Greve Geral com confrontos em Lisboa

Uma greve de “todos para todos” diz CGTP

A greve geral decretada pela CGTP foi marcada ontem à tarde por confrontos entre a polícia e manifestantes nas duas maiores cidades do país. Em Lisboa, os incidentes decorridos junto ao Largo do Chiado provocaram vários feridos ligeiros. Também no Porto se registaram confrontos semelhantes na Praça Carlos Alberto, pouco tempo depois de o primeiro-ministro ter sido recebido por centenas de manifestantes em protesto na Reitoria da Universidade da cidade.

CGTP diz que adesão à greve  foi elevada 
A polícia e elementos da manifestação promovida pela plataforma 15 de Outubro envolveram-se ontem à tarde em confrontos junto ao Largo do Chiado, em Lisboa. O incidente provocou feridos ligeiros, incluindo um fotojornalista da agência Lusa, que se encontrava no local a fazer a cobertura do acontecimento e que necessitou de assistência hospitalar.
Segundo testemunhas no local, os confrontos começaram quando os manifestantes arremessaram objetos e pedras de calçada contra elementos da PSP junto à esplanada do café Brasileira, no Chiado, onde foram derrubadas cadeiras, mesas, chapéus-de-sol e os clientes que se ali se encontravam tiveram de fugir para não serem atingidos pelos objetos atirados. Entretanto, a PSP reforçou a sua presença na manifestação com elementos das Equipas de Intervenção Rápida (EIR) e do Corpo de Intervenção.

Três feridos a lamentar
Polícia teve de intervir para acalmar manifestantes 


Entretanto, a porta-voz do comando metropolitano da PSP de Lisboa (COMETLIS) confirmou a existência de um detido e pelo menos três feridos (um manifestante, um polícia e o jornalista da Lusa) na sequência dos confrontos. Segundo a subcomissária Carla Duarte, o detido é um manifestante que lançou um petardo e agrediu os polícias, tendo sido constituído arguido. A porta-voz do COMETLIS disse que houve necessidade de repor a ordem porque a situação "atingiu um nível elevado", adiantando que foi difícil acalmar os ânimos e repor a ordem. A subcomissária não confirmou a ocorrência de agressões a pessoas que não integravam a manifestação.
Contudo, a Direção de Informação da Lusa anunciou um protesto "com a maior veemência" contra "a agressão", por agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP), ao fotógrafo da agência José Sena Goulão.
Anteriormente, o grupo de cerca de 150 manifestantes já tinha provocado alguns distúrbios durante o desfile pela Av. Almirante Reis até ao Rossio, atirando ovos às instalações das instituições bancárias por onde passava e mesmo às pessoas que levantavam dinheiro nas caixas de multibanco. A polícia chegou a ser obrigada a intervir junto à sede do Banco de Portugal para acalmar os ânimos.

Grande adesão diz CGTP

O
 secretário-geral da CGTP vai pedir uma reunião de urgência ao primeiro-ministro com base na “grande" adesão à greve geral, da qual recusou avançar quaisquer números, para pedir a "retirada de propostas revisão laboral da administração pública e setor privado e políticas económicas que combatam a precariedade e o desemprego".
“De acordo com os dados recolhidos até agora, fizemos uma grande greve geral, com um envolvimento dos trabalhadores semelhante ao que se registou às feitas recentemente", disse ainda Arménio Carlos, numa conferência de imprensa ao final do dia, em Lisboa.

12 de abril param os trabalhadores das autarquias 


Greves irão continuar garante Arménio Carlos 


No encerramento da manifestação da CGTP frente à Assembleia da República, o secretário-geral da Intersindical já se tinha congratulado com as “grandes adesões” à greve geral desta quarta-feira e tinha anunciado novas formas de luta para os próximos tempos, incluindo uma greve parcial de duas horas dos trabalhadores do poder local para 12 de abril e protestos frente ao Parlamento na próxima semana contra o novo código de trabalho (que será discutido e votado na generalidade quarta-feira).
Durante o discurso, Arménio Carlos criticou o facto de Portugal estar no terceiro lugar dos países com maior precariedade no emprego, situação de "23 por cento" do total de trabalhadores, atrás apenas da Polónia e da Espanha. "Em 2003, a precariedade era de 9 por cento, e Portugal estava abaixo da média europeia", acrescentou. 
Também o líder do PCP, Jerónimo de Sousa, considerou em comunicado que a paralisação teve "um grande impacto" e constituiu "uma poderosa afirmação de descontentamento e protesto", destacando a forte adesão" na área industrial", no "sector dos correios", bem como "uma elevada adesão na administração pública, na administração local, na recolha de lixo, transportes urbanos municipais e sectores operários e auxiliares, na administração central, com centenas de escolas dos vários níveis de ensino e jardins-de-infância encerrados".

Governo faz as contas... no final do mês

Já o primeiro-ministro afirmou apenas que todas as greves e manifestações têm que ser respeitadas, sem fazer "nenhuma consideração particular" sobre a greve geral de hoje, preferindo reconhecer o "esforço grande que o país de um modo geral tem vindo a fazer". 
Antes, o secretário de Estado da Administração Pública, Hélder Rosalino, já tinha remetido para o final do mês um balanço da greve geral nos serviços do Estado, alegando não ter um registo de dados que permita ao Governo avançar com qualquer estimativa no dia de hoje. 
A este propósito, Hélder Rosalino recordou ainda que a há cerca de uma semana foi produzido um despacho que determinava que "o Governo não iria proceder ao registo no próprio dia da greve da adesão dos trabalhadores que exercer funções públicas". 

Os números da greve em Setúbal


Greve deixou cidades mais sujas 


A União de Sindicatos de Setúbal (USS) considera que a adesão à greve geral no distrito "superou algumas expectativas" e adianta que há setores, como a recolha de lixo, praticamente paralisados.
"Na recolha de resíduos sólidos urbanos há uma única viatura a trabalhar em todo o distrito e nos transportes a adesão à greve está entre os 60 e os 70 por cento", disse à Lusa o coordenador da USS, Joaquim Leitão.
De acordo com os dados avançados pela estrutura sindical afeta à CGTP, há muitas escolas fechadas na região e nos hospitais a adesão à greve situa-se entre os 53 e os 100 por cento, com maior incidência nos hospitais do Barreiro e de Almada, com 75 a 85 por cento. Relativamente à classe dos enfermeiros, Zoraima Prado, do Sindicato Nacional de Enfermeiros, admite “uma adesão de 73 por cento no turno da noite no Hospital Garcia da Orta, 84 por cento no Barreiro, cem por cento no Montijo, onde faltaram 61 por cento dos enfermeiros no turno da manhã, 80 por cento nos dois turnos do Hospital do Litoral Alentejano e 75 e 90 por cento no Hospital Ortopédico do Outão, nos turnos da noite e manhã, respetivamente”.
Zoraima Prado afirma que “muitos enfermeiros não aderiram à greve por razões financeiras e não poderem abdicar dum dia de salário para se juntarem à luta por que demonstram grande solidariedade”. 
No arsenal do Alfeite, a adesão à greve deverá rondar os 85 por cento, refere aquela estrutura sindical.
Em declarações à Lusa, Joaquim Leitão salientou ainda que, em algumas empresas do setor privado, a adesão à greve geral é superior à que se verificou na greve geral de 24 de novembro do ano passado.
"Na Lisnave estamos com uma adesão à greve de 90 a 95 por cento e na Parmalat, em Águas de Moura, de 85 por cento", disse.
"No Metro Sul do Tejo, das 22 carruagens que estavam para sair hoje de manhã, apenas cinco funcionaram", concluiu o coordenador da USS.
Segundo António Chora, coordenador da Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa, a "greve geral está a ter um impacto muito reduzido" na fábrica de automóveis de Palmela. A empresa prevê construir hoje um total de 600 veículos, apenas menos 25 do que o número inicialmente previsto.

Comboios e Barcos quase parados


Ao contrário do previsto houve alguns barcos no Tejo 


No que diz respeito ao serviço prestado pela CP no distrito, António Medeiros, dirigente do Sindicato Nacional dos Maquinistas dos Caminhos de Ferro (SMAQ), congratula-se pela “total adesão à greve por parte dos associados e de alguns não afiliados”. De acordo com o dirigente sindical “apenas estão assegurados os serviços mínimos no serviço de transporte ferroviário do distrito”.
 O porto de Setúbal, onde Luís Leitão admite uma “paralisação total”, ainda não confirmou qualquer número concreto de adesão por parte dos trabalhadores bem como o porto de Sines, Metro Transportes Sul e Transportes Sul do Tejo. Na Fertagus, Raquel Santos, diretora comercial, revela que a transportadora ferroviária “não sentiu os efeitos da paralisação”.
As ligações do Barreiro, Montijo, Cacilhas e Seixal para Lisboa tiveram, pelo menos até à hora de almoço, um barco a circular, o que o sindicato defende ser "uma situação menos boa" face ao que é norma na empresa.
"Não existe deceção mas à que reconhecer que é uma situação menos boa, mas que não nos vai desmotivar. Temos que compreender que as pessoas vivem um quadro difícil, mas ainda assim a esmagadora maioria dos trabalhadores está em greve", disse  José Augusto da Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações.
"Está um barco a funcionar nas ligação do Barreiro, Montijo, Seixal e Cacilhas. A adesão em Cacilhas é de 67 por cento, no Seixal de 95 por cento e no Montijo estão as duas tripulações a trabalhar. No Barreiro está um dos cinco barcos a trabalhar", disse o sindicalista.
José Augusto referiu que a empresa deslocou uma das tripulações do Montijo para o Seixal, o que permite que esta ligação também funcione mas lembrou que existe uma greve em todo o Grupo Transtejo, marcada para o dia 28 de março, que se vai realizar.
"Os trabalhadores vivem situações difíceis. Existem casos que não aderiram por uma questão de opinião, mas também temos muitas situações de trabalhadores que são forçados a não aderir pelas suas dificuldades, pois não podem perder mais um dia de trabalho", salientou.
Ainda assim... faltou passageiros. "Tem sido um número residual de procura, em que é possível contar. São cinco ou seis pessoas a ser transportadas nos barcos, até porque muitos dos utentes também aderiram à greve", disse.

Paulo Jorge Oliveira 

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