Cultura

Cinema - Sugestão da  semana

Águas Mil – um retrato magoado de Portugal 



A ditadura em Portugal semeou segredos durante 40 anos na família de Pedro (Gonçalo Waddington). Mas quando surgiu a liberdade, a 25 de abril de 1974, a sua vida não ficou facilitada. Pedro é, em 2008, um jovem adulto ainda à procura de respostas. Quando criança, o seu pai desapareceu misteriosamente para sempre, ao que tudo indica às mãos da extrema-esquerda. Foi criado por uma mãe que preferiu enterrar a realidade e as dúvidas foram crescendo ao longo da sua infância. Agora, com a ajuda da avó, decide partir em busca de respostas.
Em Águas Mil  faz uma viagem entre Portugal e Espanha, onde vai descobrindo aos poucos a sua história familiar que se cruza com a história política do país.
Nesta aventura conhece pessoas e locais que preferiam permanecer esquecidos até que chega ao momento do desaparecimento do seu pai, há mais de 20 anos, que não desvenda, sem correr ele próprio um grande perigo...
Águas Mil é a segunda longa-metragem assinada por Ivo Ferreira. O filme já rolou no Festival Internacional de Cinema Independente - IndieLisboa, e teve estreia mundial no Festival de Cinema de Roterdão, na Holanda.

Um filme histórico

Fascinado pelas pessoas que "dedicaram a sua vida a criar um mundo melhor" no período da revolução em Portugal - em pequeno conheceu algumas - e intrigado pela "ressaca que sucedeu ao 25 de Abril", Ivo Ferreira criou uma história em torno de um mistério de família: o filho que vai em busca do pai desaparecido. 
"Essa fatia da história foi eclipsada. A Revolução dos Cravos foi uma grande festa que deu uma grande ressaca, e eu queria saber o que se construiu depois disso", explicou o realizador de 33 anos, à Agencia Lusa. 

Decidiu contar a história no presente e que o personagem principal, Pedro, fosse gradualmente desenterrando a história do pai, ao mesmo tempo a do seu país, numa busca da sua própria identidade. Ivo Ferreira admira, confessa,  aquela época de ideais revolucionários de esquerda, de uma luta contra "um inimigo bem claro" - a ditadura, a censura - em torno de um sonho comum. 
Confessa  que, apesar de não aderir pessoalmente a qualquer partido, este filme "é político" e mostra um posição muito pessoal: "É pena que exista hoje um divórcio total entre a sociedade civil e a sociedade política". 
Hoje, diz Ivo Perreira, “não lutamos o suficiente. O inimigo é mais interior. Trabalhamos para uma felicidade-de-trazer-por-casa, descartável, que não se percebe bem, em vez de se trabalhar para a felicidade da comunidade", sustentou o também realizador de "Em Volta" (2002) e "O Homem de Bicicleta" (1997). 

Um  certo olhar magoado

A nova longa-metragem de Ivo Ferreira é um olhar, com "alguma mágoa, mas também com grande ternura", para a geração que fez a revolução de Abril. 
Mágoa, porque "eles queriam fazer mais, e eu exigia que eles tivessem feito mais" em Portugal no pós-revolução. Ternura, porque "foi importante para a transição do marasmo, da ditadura para a democracia. Eles (os que fizeram a mudança, e que hoje têm entre 50 a 60 anos) continuam a ser importantes e não quero que se vão embora". 
Produzido pela Filmes do Tejo, "Águas Mil" foi filmado em Lisboa, Alentejo e sul de Espanha, e tem Gonçalo Waddington no papel principal. O elenco envolve ainda Lídia Franco, Cândido Ferreira (pai de Ivo Ferreira), Joana Seixas, Hugo Tourita, Adelaide João e Juan Jesus Valverde. 
Um filme português a não perder numa sala perto de si. Uma sugestão, Novo Impacto.

TÍTULO: Águas Mil
ESTREIA EM: 2011-05-12


Trailer Águas Mil 



















Paulo Jorge Oliveira
 

Comentários