Rainha de gelo...

Pena Solta por  Lia Santos


Rainha de gelo...

Sabes aquele dia em que o coração aperta? Que os sentimentos se misturam dentro de nós e tudo vira uma grande confusão? Vem uma saudade retumbante no peito... um nó na garganta, as palavras que não saem , parecem que entalaram dentro de mim e não consigo expulsa-las....hoje é um daqueles dias em que eu quero sair por aí...sem destino, sem rumo, com a certeza de que jamais sentiriam a minha falta, já que sou apenas uma a mais no meio da multidão.


Coração tonto, coração parvo, coração sem juízo que não obedece aos meus comandos, porque sempre me põe em armadilhas? Vou arrancar-te do peito, jogar-te ao mar, no teu lugar colocarei uma pedra de gelo, daquelas que não derretem, que resiste as mais altas temperaturas e que quando derrete se transforma numa água impura, que sai correndo com destino as águas do mar, quero ser assim intragável. Quero ser fel, quero ser sal, quero poder dizer NÃO aos meus anseios, quero ser dona de mim, quero sair por aí me perder na madrugada fria, nessas ruas vazias, assim como o vento que sai por aí derrubando até as árvores mais antigas e resistentes, não quero mais sonhos eu quero a realidade nua e crua, essa verdade que dói, que fere, que mata...quero acordar e jogar fora minha fantasia de princesa de contos e vestir a minha armadura de RAINHA DO GELO...ah como eu quero mim libertar-me de mim mesma e sair por aí nas asas do ventos, como uma folha seca sem rumo, sem sentimento...sem destino...sem pensamentos...
Achei que era pra sempre, mas esqueci que o ''pra sempre'' sempre acaba, já gritei de felicidade, já olhei a cidade de cima, mas mesmo assim não encontrei o meu lugar, já confundi sentimentos, já corri pra não deixar alguém chorando, já conversei com o espelho, já fiquei sozinha no meio de mil pessoas sentindo falta de apenas uma, Já fiz juras eternas, já sofri para esconder uma lagrima, já senti medo do escuro, já chorei sentada no chão, já quis morrer de amor, mas renasci novamente para ver o sorriso de alguém especial, já tentei esquecer algumas pessoas, mais descobri que essas são as mais difíceis de esquecer, já chorei por ver amigos partindo, mais vi que logo chegam outros, a vida é mesmo um ir e vir sem razão, enfim, forma tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num baú chamado CORAÇÃO!

Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue...lembrança é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo...angústia é um nó muito apertado bem no meio do sossego...preocupação é uma cola que não deixa o que ainda não aconteceu sair de seu pensamento...indecisão é quando nós sabemos muito bem o que queremos mas achamos que devíamos querer outra coisa...certeza é quando a ideia cansa de procurar e para...intuição é quando o teu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido...pressentimento é quando passa o trailer de um filme que pode ser que nem exista...vergonha é um pano preto que eu quero pra me cobrir naquela hora...ansiedade é quando sempre faltam muitos minutos para o que quer que seja...interesse é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento...sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado...raiva é quando o cachorro que mora em mim mostra os dentes...tristeza é uma mão gigante que aperta meu coração...felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma...culpa é quando eu cismo, cismo que podia ter feito diferente mas, geralmente, não podia...lucidez é um acesso de loucura ao contrário...razão é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato...vontade é um desejo que cisma que tu és a casa dele...paixão é quando apesar da palavra ¨perigo¨ o desejo chega e entra...amor é quando a paixão não tem outro compromisso marcado? Não... Amor é um exagero? Também não...um dilúvio? Uma insanidade? Um destempero? Um despropósito? Um descontrole? Uma necessidade? Um desapego? Talvez porque não tenha sentido, talvez porque não tenha explicação. O sentimento do amor, que não sei explicar. Mas de almas sinceras a união sincera, nada há que impeça... amor não é amor...se quando encontra obstáculos se alterou e vacila ao mínimo temor. Amor é um marco eterno, dominante, que encara a tempestade com bravura...é astro que norteia a vela errante, cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora seu alfange não poupe a mocidade...amor não se transforma de hora em hora, antes se afirma para a eternidade.se isso é falso, e que é falso alguém provou, eu não sou poeta, e ninguém nunca amou...


Lia Santos
Lisboa 


(Lia Santos escreve todas as quartas-feiras a rubrica Pena Solta, pensamentos da alma)  

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