Em Reportagem: Transportes vão mesmo mudar no final do 1º trimestre

Governo avança com reestruturação até março na rede de transportes 

Apesar de hoje ser dia de greve nos transportes e de quase paralisação total do setor, a restruturação de toda a rede de transportes vai mesmo mudar até final de março. Sérgio Monteiro, secretário de Estado dos transportes, deixou isso bem claro esta manhã na Assembleia da República e exige resultados já no final do ano. No setor fluvial – muito afetado pela greve de hoje – o grupo Transtejo anunciou que vai reduzir as ligações diárias entre a capital, o Barreiro, Cacilhas, Montijo e Trafaria. E quase que “garantiu” que será obrigada a despedir pessoal depois destas mudanças. Resultado, a greve pouco alterou o processo que está a decorrer. 

Apesar da greve, a reestruturação dos transportes avança



O Grupo Transtejo vai reduzir o número de ligações diárias entre as duas margens do Rio Tejo para ajustar a procura à oferta fora das horas de ponta e aos fins de semana. As alterações às cinco ligações asseguradas pela Transtejo e pela Soflusa entram em vigor até ao final do mês de fevereiro.
Na ligação entre Lisboa e o Barreiro, nos dias úteis serão suprimidas três ligações por dia em cada sentido. Ao sábado, haverá menos oito ligações em cada sentido e ao domingo serão suprimidas 11 ligações, ficando sempre garantido o transbordo com o comboio e o metro.
A empresa está a considerar a “eventual utilização de navios de menor consumo” nesta ligação e a redução de velocidade dos barcos atuais nas horas de vazio e fins de semana. Considerando apenas as reduções nesta ligação entre Lisboa e o Barreiro, a empresa estima conseguir poupar 432 mil euros.
Em declarações à Lusa, o presidente do grupo, João Pintassilgo, adiantou que será suprimida a carreira das 6h30, que passará a realizar-se juntamente com a das 6h35, evitando assim que dois navios se desloquem com pouco mais de 200 passageiros cada, podendo concentrá-los apenas numa viagem.

Cacilhas, Montijo e Trafaria também com menos barcos 

Entre Cacilhas e o Cais do Sodré, durante a semana vão ser eliminadas quatro ligações por dia em cada sentido, e vão acabar 18 ligações ao fim de semana. O grupo prevê também uma “menor utilização dos ferries”.
Entre o Montijo e o Terreiro do Paço, serão eliminadas duas ligações nos dias úteis, duas ao sábado e uma ao domingo. Haverá menos cinco ligações entre o Seixal e o Cais do Sodré nos dias úteis, menos seis ao sábado e menos seis ao domingo.
Na ligação entre a Trafaria e Belém, vão ser cortadas duas ligações nos dias úteis, três ao sábado e três ao domingo.
As alterações de horários vão provocar “algumas mudanças nas escalas de serviço, o que implicará redução de horas de trabalho”, diz a administração em comunicado, acrescentando que 
estes impactos “estão a ser internamente analisados”.

Transtejo vai avançar com despedimentos 
Transtejo anunciou menos barcos no Tejo e reestruturação de pessoal


João Pintassilgo admitiu que estas alterações poderão também provocar uma redução do número de trabalhadores, como temem os sindicatos, mas disse que isso só poderá ser percebido depois de uma “profunda análise do impacto” das novas escalas que a empresa irá fazer.
A administração do Grupo Transtejo esteve reunida ontem com as Estruturas Representativas dos Trabalhadores do Grupo, para os informar sobre a versão final do Plano de Adequação da Oferta do Transporte Fluvial.
Na nota enviada à imprensa, a empresa sustenta que a reestruturação das ligações visa “alcançar um transporte público saudável”.
A empresa aguarda ainda orientações do Governo quanto às medidas previstas no Plano Estratégico dos Transportes e “oportunamente analisará o seu impacto”, lê-se no documento.

Alterações na rede de transportes entram em vigor até final de março


Já esta manhã, o secretário de Estado dos Transportes anunciou que a reformulação das redes de transportes públicos das Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto entrará em vigor de forma faseada, consoante os operadores, desejavelmente até ao fim do primeiro trimestre deste ano.
Na Assembleia da República, durante uma audição da Comissão de Economia e Obras Públicas que decorreu esta manhã, Sérgio Monteiro revelou que essa reformulação vai permitir uma redução anual da despesa das empresas públicas de transportes de 85 milhões de euros. E isto, deixou claro o secretário de Estado, com a concretização de medidas que em seu entender terão "um impacto nulo ou até positivo na mobilidade" dos cidadãos.
Respondendo a perguntas dos deputados, Sérgio Monteiro afirmou que ao longo deste ano está também a contar com um acréscimo das receitas das empresas públicas de transportes de 25 milhões de euros. Esse valor seria alcançado à custa dos tarifários que ontem entraram em vigor, e antevendo que destes não advirá uma perda de utentes superior a cinco por cento, julga o governante.  
O secretário de Estado dos Transportes disse ainda, que esta medida tem o apoio da Associação Nacional de Transportadores Rodoviários de Pesados de Passageiros, que a partir de janeiro de 2013 serão estabelecidos novos contratos de concessão com os privados. Para tal, explicitou Sérgio Monteiro, serão lançados concursos públicos.

Empresas com prejuízo de 2500 milhões

Secretário de Estado quer empresas com lucro no final do ano

O objetivo, explica Sérgio Monteiro, é "terminar os vinculos precários" que existem hoje em dia e que em sua opinião têm sido usados pelos privados como "desculpa para não realizarem investimento" no setor dos transportes. 
Também a contratação estabelecida com as empresas públicas foi denunciada porque, diz Sérgio Monteiro, "não eram verdadeiros contratos de serviço mas sim de pagamento de indemnizações compensatórias". O secretário de Estado ainda disse aos deputados da Comissão de Economia e Obras Públicas que entre 2000 e 2010 as empresas públicas do setor dos transportes acumularam prejuízos operacionais de 2500 milhões de euros. E deixou claro que a sua meta é que dezembro de 2012 seja o primeiro mês em que esta realidade se altere e todas essas entidades tenham resultados operacionais positivos.


Paulo Jorge Oliveira

Comentários