Rapper Ghoya detido em plena estreia de documentário no cinema de Setúbal

Aparato policial interrompe sessão de “Complô” e leva Ghoya para a prisão para pagar uma multa 

O rapper Ghoya, nome artístico de Bruno Furtado, foi detido pela PSP durante a apresentação do documentário sobre a sua vida, no Cinema City do Centro Comercial Alegro, em Setúbal. A polícia considerou necessário aproveitar esta rara aparição pública para cumprir um mandado de detenção relacionado com uma pena subsidiária por condução sem carta.
Artista foi detido durante a exibição do seu filme em Setúbal

A Esquadra de Investigação Criminal da Divisão Policial de Setúbal deteve o artista na semana passada, interrompendo a sessão onde “Complô” estava a ser exibido. O Comando Distrital da PSP de Setúbal explicou que sobre Bruno Furtado pendia um “mandado de detenção para cumprimento de 160 dias de pena de prisão subsidiária”.
A força policial justificou a operação afirmando que, devido ao comportamento habitual do suspeito, era fundamental “aproveitar um momento de aparição pública, na cidade de Setúbal, para proceder à sua interceção”.
 
Pagamentos em falta e críticas ao aparato policial
A detenção resultou de um processo por condução de viatura sem carta, situação que originou a pena agora acionada. A PSP esclareceu ainda que o rapper tinha em dívida 1440 euros, valor que não conseguiu liquidar no local. Por essa razão, foi conduzido ao Estabelecimento Prisional de Setúbal para início do cumprimento da pena.
A interrupção da sessão gerou surpresa na sala. Num comunicado conjunto, o realizador João Miller Guerra, a produtora Uma Pedra no Sapato e a distribuidora Magenta afirmaram que o espaço foi tomado por um “aparato policial” que consideram “desproporcional tendo em conta o motivo em causa”.

Libertação após pagamento da multa
De acordo com os mesmos responsáveis, esta sexta-feira, depois de intervenção da advogada do rapper, o montante em falta foi pago e Furtado acabou por ser libertado após 12 horas de detenção.

O percurso duro retratado em “Complô”
O documentário “Complô” resgata a história de vida de Ghoya, descrito como “órfão de um país onde nasceu, órfão do Estado. Encarcerado metade da sua vida, sempre livre”. Nascido em Portugal, filho de mãe santomense e pai cabo-verdiano, o rapper cresceu sem direito a cidadania portuguesa. A ausência de documentos empurrou-o para um percurso marcado por institucionalização, prisão, violência e abandono.
Estes temas foram também abordados na mais recente edição de “O Tal Podcast”, do Expresso, onde o rapper e ativista foi convidado a relatar o seu passado.

Um filme necessário para os tempos atuais

“Complô” surge num momento em que o debate sobre racismo, imigração e cidadania está mais atual do que nunca. Através da história de Ghoya, o documentário convida à reflexão sobre o papel do Estado, a exclusão social e a urgência de políticas públicas mais inclusivas.
A obra destaca-se não apenas pela sua relevância temática, mas também pela sensibilidade com que retrata a vida de um homem que, mesmo diante de inúmeras adversidades, encontrou na arte uma forma de resistência e transformação.

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