Governo anuncia urgência regional de obstetrícia na Península de Setúbal

Centro Materno Infantil em Almada só em 2029/30: críticas ao atraso dos governantes 

O Governo garantiu que, a curto prazo, será criada uma urgência regional de obstetrícia na Península de Setúbal. O Hospital Garcia de Orta, em Almada, manterá as portas abertas 24 horas e o hospital de Setúbal passará a receber casos referenciados pelo SNS 24 e pelo INEM. A medida, porém, está longe de ser consensual e já levanta críticas de autarcas e profissionais de saúde.
Nova unidade ficará junto ao hospital Garcia de Orta 

O anúncio foi feito na manhã desta quarta-feira pela ministra da Saúde, Ana Paula Martins, durante uma audição no Parlamento sobre os constrangimentos nas urgências de obstetrícia e ginecologia. A governante admitiu que o atual modelo não responde às necessidades da população e sublinhou que o diálogo com sindicatos e ordens profissionais é essencial antes de avançar com a reorganização.
Ainda assim, a ministra assegurou que a resposta urgente na área obstétrica “está hoje melhor do que há um ano” e rejeitou que os relatórios da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde associem diretamente as mortes registadas no período crítico da greve do INEM, no final de 2023, à falta de socorro.

Autarcas contestam falta de profissionais
A presidente da Câmara de Almada, Inês de Medeiros, saudou a criação da urgência regional, mas considerou a medida “claramente insuficiente” face ao “problema gritante” da falta de médicos e enfermeiros. A autarca alerta que, mesmo com reorganizações, sem contratação de profissionais o cenário continuará preocupante.
De acordo com Ana Paula Martins, seriam necessários pelo menos mais 30 especialistas para garantir o pleno funcionamento das urgências do Hospital Garcia de Orta e do Hospital de Setúbal. O Garcia de Orta, inaugurado em Setembro de 1991 e integrado na Unidade Local de Saúde Almada-Seixal, conta atualmente com 10 salas de parto, 31 camas de puerpério e 15 de neonatologia, mas a ministra reconhece que “não é suficiente para a Península de Setúbal”.

Novo Centro Materno Infantil só lá para 2030 
A solução de fundo deverá passar pela construção do futuro Centro Materno Infantil da Península de Setúbal, a instalar no perímetro do Hospital Garcia de Orta. O concurso para o projeto será lançado em 2026, mas a obra poderá demorar “dois ou três anos, se calhar até um bocadinho mais”, admitiu a governante.
A construção será financiada pelo Orçamento do Estado, com previsão de conclusão até ao final da legislatura - ou eventualmente para além dela, consoante os prazos da obra.
Inês de Medeiros criticou o calendário, sublinhando que a abertura do concurso em 2026 significa que “não haverá resposta rápida e eficaz para a situação dramática que a Península de Setúbal enfrenta regularmente”.

Região com mais de 830 mil habitantes
A Península de Setúbal, com 834,6 mil habitantes em 2023 segundo dados do INE, é uma das regiões mais populosas do país. Abrange nove concelhos: Almada, Seixal, Barreiro, Moita, Montijo, Alcochete, Setúbal, Sesimbra e Palmela, representando um desafio crescente para os serviços de saúde locais que encontram respostas nos hospitais de Almada, Setúbal e Barreiro. 

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