Seca preocupa produtores de arroz em Alcácer do Sal

Produtores do Vale do Sado estimam quebra de 20 a 25% da área de cultivo


A produção de arroz no Vale do Sado, no concelho de Alcácer do Sal, a segunda região do país nesta cultura, está em risco a prazo, por causa das alterações climáticas, se a água do Alqueva não chegar em quantidade suficiente e a preços que os produtores possam pagar. Os períodos de seca são cada vez mais frequentes [nos últimos cinco anos, três foram de seca] e atingem a bacia do Sado de forma particularmente dura, com as reservas hidrográficas mais baixas do território nacional. O Agrupamento de Produtores de Arroz do Vale do Sado estimou já "uma quebra entre 20 e 25 por cento" da área de cultivo de arroz, devido à seca.
Produtores preocupados com seca 

“O nível de água nas barragens de Pego do Altar e Vale do Gaio, no concelho de Alcácer do Sal, está a cerca de 50 por cento da sua capacidade, o que nos leva a prever, aqui nesta zona, uma quebra de 20 a 25 por cento da área de cultivo normal”, explicou à agência Lusa o diretor do Agrupamento de Produtores de Arroz do Vale do Sado, João Reis Mendes.
Com 7.500 hectares de arroz para cultivar, o dirigente da Agrupamento de Produtores de Arroz do Vale do Sado indicou que, devido à falta de chuva no último inverno para “garantir o abastecimento das barragens”, vai ser necessário “fazer um rateio da água” para rega.
“Em Março choveu muito pouco, por isso, prevejo que vai haver necessidade de fazer um rateio da água de rega porque não temos água disponível. O que nos safou ainda foi a água que caiu em Março, Abril e Maio do ano passado, que encheu as barragens que estavam praticamente secas e isso permitiu fazer a nossa campanha de arroz quase normal”, acrescentou.
No entanto, alertou o dirigente, “aquilo que sobrou do ano passado é o que temos disponível, porque este inverno foi seco e estamos, mais uma vez, com necessidade de reduzir a área de arroz”.

Campanha deste ano em risco 
Apreensivo em relação à campanha deste ano, João Reis Mendes disse temer pelas consequências que a escassez de água nas barragens pode causar na economia do concelho de Alcácer do Sal, no litoral alentejano, que “é dependente do cultivo do arroz”.
“Significa prejuízos para os produtores, porque grande parte das áreas onde se cultiva o arroz é salgada por causa das marés e esta é a única cultura que consegue resistir ao sal. Portanto, se não fizermos arroz não podemos fazer mais nada e a economia de Alcácer do Sal depende essencialmente do arroz”, alertou.
De acordo com o representante dos orizicultores, a grande maioria das empresas “gira à volta” desta atividade e “muitas famílias que vivem desta realidade”, como a venda de produtos, pesticidas, oficinas ou secadores de arroz, “ficam sem atividade se houver redução da área”.
O ano passado, os produtores “conseguiram atrasar as sementeiras” e, graças à chuva que acabou por cair e encher as barragens, foi possível “cultivar praticamente toda a área e salvar a produção”, lembrou.
“Com a sementeira em maio, temos de tomar decisões sobre a área cultivada, encomendar as sementes e os adubos até ao fim deste mês, porque depois já não há sementes suficientes para ir ao mercado comprar. Ainda conseguimos atrasar as encomendas até à primeira semana de Abril, mas não mais do que isso”, referiu.

APA vai falar com agricultores de arroz 
Com mais um período de seca a bater à porta dos produtores de arroz do Vale do Sado, o dirigente defendeu “soluções de curto, médio e longo prazo” para minimizar os efeitos da falta de água, desde a “admissão de água da Barragem de Alqueva para o Pego do Altar” à “colocação de diques no rio Sado para reforçar as duas grandes barragens”.
“No ano passado foi criado um grupo de trabalho, coordenado pela Associação de Regantes do Vale do Sado e pela Agência Portuguesa do Ambiente e associações de produtores, no sentido de equacionarmos as pistas para obviarmos esta situação no futuro, mas, infelizmente, só no início deste ano é que se começou a trabalhar nesse sentido”, lamentou.
O grupo de trabalho prevê entregar, até ao verão, ao ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, um conjunto de medidas para posterior “avaliação técnica e financeira” e a sua implementação no terreno.
A Agrupamento de Produtores de Arroz do Vale do Sado tem 30 sócios e trabalha com “cerca de 170 produtores”, maioritariamente de Alcácer do Sal, mas também dos concelhos de Montemor-o-Novo, Grândola e Santiago do Cacém.
Com uma “produção média anual de seis toneladas por hectare” e com “um preço médio de 280 euros por tonelada”, o cultivo do arroz é uma das principais atividades económicas de Alcácer do Sal, que, quando explorados os sete mil hectares, pode chegar a valer cerca de “10 milhões de euros”.
“A questão é séria e muito grave e é uma falta de respeito não haver qualquer reunião passado quase um ano”, disse Vítor Proença ao jornal Público, na quinta-feira, depois de na reunião pública de câmara ter informado que dias antes enviou uma carta ao ministro porque, o município “tentou várias vezes contactar a APA [Agência Portuguesa do Ambiente], sem nunca obter qualquer resposta”.
Após esta insistência do autarca junto do Ministério do Ambiente, os produtores e a autarquia receberam, no mesmo dia, à tarde, um email da APA para agendamento do encontro em falta há quase um ano.

Agência de Notícias com Lusa 

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