Sines pode ser a porta de entrada do gás na Europa

O porto alentejano tem uma localização estratégica no Atlântico

O embaixador dos EUA em Lisboa considera que o porto de Sines pode transformar Portugal na "Singapura da Europa Ocidental", ao receber o Gás Natural Liquefeito norte-americano, assegurando a independência energética do continente face à Rússia.  Em entrevista à Lusa, George Glass afirmou que "Portugal tem a oportunidade de ser a Singapura da Europa Ocidental, ser o ponto de entrada para esse produto", Gás Natural Liquefeito, nas redes europeias de gás que estão a ser negociadas nos próximos meses.  No final do mês, realiza-se em Lisboa "uma cimeira de gás entre Portugal, Espanha e França" que terá como objectivo a criação do mercado europeu de gás natural, com a ligação das redes ibéricas ao resto da Europa.
Gás dos Estados Unidos pode chegar a Sines 

Esta solução, com ligação pelos Pirenéus permite abastecer a Europa via Sines (EUA) e via Argélia, criando uma opção ao gás natural russo, a único sistema de abastecimento que serve o norte da Europa.
Quando as "interconexões do gás ocorrerem, o gás pode ser bombeado para qualquer ponto da Europa", afirmou George Glass, salientando que a ligação das redes "tem tudo a ver com a segurança energética" do continente.
"Os Estados Unidos passaram de ser o maior importador para o maior exportador de gás natural" e o melhor porto para receber este produto é Sines, desde que ligado às redes europeias, explicou o embaixador.
O objectivo é, disse, "fornecer opções à Europa no que toca à independência energética em relação à Rússia, um ponto muito crítico para esta administração" de Donald Trump.
Actualmente, um terço das importações de Gás Natural Liquefeito na Europa passam por Sines, mas o objectivo é privilegiar no futuro ainda mais este porto.
"As reuniões estão a correr bem", mas é "necessário atravessar os Pirenéus", salientou o representante dos EUA em Portugal.
"No mundo da energia as coisas movem-se muito lentamente e olhem para o quão rápido isto está a ocorrer", acrescentou, salientando que o sector está muito "entusiasmado" com a capacidade e localização do porto de Sines.
Além do porto de Sines, a saída do Reino Unido da União Europeia ('Brexit') deve ser vista como outra oportunidade para Portugal ganhar mais peso internacional, salientou o diplomata.
"Os portugueses tendem a ser humildes, mas este é o tempo de deixar cair um pouco essa humildade e ser grande e ousado", disse à Lusa George Glass, admitindo que muitas empresas norte-americanas que tinham em Londres a sua base de actuação terão de procurar outras opções porque "há uma necessidade de chegar à União Europeia" e operar no mercado continental.
Até agora, "o Reino Unido era a forma de a América chegar à Europa", mas com o 'Brexit' abre-se "uma oportunidade excelente para Portugal". Contudo, esses investimentos não virão para o país "a não ser que (os portugueses) os agarrem".
O embaixador salientou que o governo português está "muito focado" no esforço de captar investimento estrangeiro, mas é necessário que a sociedade civil esteja também empenhada.

Google quer investir em Portugal garante embaixador 
No entanto, o diplomata vê sinais positivos de interesse norte-americano no país, como é o caso da área da tecnologia.
"A Google é o maior exemplo dessa aposta na tecnologia. Eles querem crescer e querem que Portugal seja o seu epicentro do crescimento na Europa", explicou.
O embaixador também revelou que empresas norte-americanas estão a investir no Alentejo por causa da fonte de água doce que constitui a barragem do Alqueva.
A albufeira que "foi construída no Alqueva é o maior reservatório de água doce da Europa" e constitui "uma oportunidade" para as empresas agroindustriais, principalmente da Califórnia, um Estado que tem sofrido muito anos de seca, afirmou Glass.
Em Portugal, esses investidores encontram "um preço muito razoável das terras com acesso ilimitado à água", afirmou o embaixador.
George Glass esteve com o primeiro-ministro português, António Costa, na viagem recente à Califórnia, na primeira quinzena de Junho, e foi confrontado com o interesse de investidores que já "estão no terreno".
"Vamos assistir a um imenso investimento norte-americano no Alqueva", feito por empresas privadas ligadas ao sector agroindustrial, disse, não querendo dar mais pormenores sobre este projecto.
"A água é um bem escasso e o maior reservatório de água doce da Europa está a uma hora e meia de distância daqui", acrescentou.


Agência de Notícias com Lusa

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