Meros Desabafos por Beatriz Moreira da Silva

Se comunicar é uma necessidade expressar também faz parte 

A Arte é um meio de expressão comum à cultura de todos os tempos. Uma das grandes falhas do sistema educativo é, precisamente, a de estabelecer territórios separados e fronteiras invioláveis para a Ciência e para a Arte, quando não se pode fazer distinção entre uma e outra, salvo em métodos.


Sendo a linguagem natural, por vezes mais clara e significativa que a linguagem oral, com a vantagem de poder ser compreendida por todos, seja qual for o idioma, a expressão plástica pode e deve cooperar, em escala apreciável, na educação do sujeito. Hoje, representa um dos grandes recursos de libertação de tensões e conflitos frequentes na personalidade humana. A expressão plástica, na vida atual, assume um lugar de grande preponderância, ou seja, todas as atividades necessitam de ter um elemento estético ou descritivo.
Na escola, a expressão plástica favorece a atenção por encerrar a análise de múltiplas formas, a comparação de grandezas no sentido das proporções, a avaliação das relações espaciais, a perceção das posições relativas das linhas diretrizes de movimento, a estimativa das intensidades cromáticas, o conhecimento da natureza e do efeito das cores. No processo de criação de um trabalho intervêm diversos processos mentais complexos – visuais, motores e de associação. A criação de uma atividade constitui um instrumento de expressão objetiva, porque exterioriza o pensamento, assinalando-lhe valores e ideais. É um meio de expressão comum aos homens, no tempo e no espaço, porque em todas as épocas o Homem demonstrou possuir acuidade visual, capacidade de síntese e aptidão para focalizar graficamente a vida e o movimento.
A arte deve ser vista como uma forma de pensamento e não apenas como forma de manifestação dos estados infantis. Apesar de quando falamos em arte este ser o nosso primeiro denominador comum.
A arte infantil é considerada como um complexo semiótico que contém uma linguagem, esta é feita através de um sistema de signos e símbolos sujeitos a certos princípios. É por este motivo que a cognição é muito importante no processo artístico. Pois o pensamento pode ser expresso de várias formas sem ser o verbal.
Ao desenhar a criança quer comunicar algo, e fá-lo através das suas representações, pois estas são signos e esquemas concretos e observáveis aos quais ele pretende dar um significado que possa ser compreendido. Consciente ou inconscientemente a criança transmite uma mensagem através da linguagem plástica fazendo dela uma atividade social.
A criança deve ser livre de se expressar sem que seja impelido por nós qualquer ideia ou ideal. Assim ela terá a oportunidade de estabelecer as suas próprias relações com as suas experiências e o contexto em que as realizou. Devemos assim como professores criar as condições psicológicas e matérias que estimulem a descoberta e promovam a emoção estética ligada a processos cognitivos que se mostrem através da imagem.
As artes são elementos indispensáveis no desenvolvimento da expressão pessoal, social e cultural do aluno. São formas de saber que articulam imaginação, razão e emoção. Elas perpassam as vidas das pessoas, trazendo novas perspetivas, formas e densidades ao ambiente e á sociedade em que se vive.
A vivência artística influência o modo como se aprende, se comunica e como os interpretam os significados do quotidiano. Desta forma, contribui para o desenvolvimento de diferentes competências e reflete-se no modo como se penso, no que se pensa e no que se produz com o pensamento.
Cabe ao adulto/educador e ao professor uma adequação pedagógica perante diferentes níveis de desenvolvimento das crianças, uma vez que à mesma idade cronológica pode não corresponder o mesmo grau de conhecimento plástico-visual. Assim, as evidências de evolução na aquisição de conhecimento verificam-se através do grau de concretização das ações de uma mesma dimensão da aprendizagem, nomeadamente no que se refere à aquisição da linguagem utilizada, aos modos expressivos, aos materiais e meios tecnológicos envolvidos, ao aperfeiçoamento da composição plástica e intencionalidade expressiva, ao grau de autonomia manifestada e à capacidade de argumentação fundamentada.
A imaginação e o poder de criação estimulam-se pela continuidade que a execução de um trabalho plástico estabelece entre mecanismos motores e o pensamento, fazendo surgir a sensação de alegria nos indivíduos que criam e produzem, sensação essa que o Professor deverá manter através de uma orientação capaz.
De tudo isso, podemos concluir que, entre os objetivos próprios de todo o processo educativo, há alguns que, intrinsecamente, são mais bem alcançados através da expressão plástica, porque, se comunicar é uma necessidade, expressar também faz parte.


Beatriz Moreira da Silva 
Ribeira Grande
Académica da Escola Superior de Educação de Castelo Branco

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