Meros Desabafos por Beatriz Moreira da Silva

Meros Desabafos 

Manhãs de nevoeiro. Ainda sinto a brisa a bater-me no rosto. Salgada e humedecida era aquela saborosa brisa. Brisa. Acho que é o que melhor define aquelas manhãs. Manhãs que tenho saudades por as ter tanto amado. E a tarde? Tarde ou meio-dia, nem sei bem. Na realidade é indiferente, não havia meia estação. Devem ter sido os melhores momentos da minha vida, aquelas tardes ou meios-dias bem passados. 


Noite ou fim de tarde é novamente a mesma arte. Arte, porque eram doces e acolhedoras, quando eu chegava a casa já com as estrelas. Ainda penso naquelas estrelas, que não são as mesmas de agora. Parte de mim ficou gravado nelas. Estrelas que me  fizeram companhia enquanto partilhava pensamentos.
Tudo isso são apenas memórias de quem admirava os seus dias, de quem não tinha preocupações, de quem sonhava muito alto. Na verdade, eu era feliz somente a sonhar e nem dava conta disso. Era como se fosse, não um sonho, mas a minha realidade.
Provavelmente a esta altura devem achar que eu sou meia louca, mas isso até me  faz sorrir. Lanço gargalhadas só de imaginar. Sim! Sorrir, gargalhadas, altas gargalhadas, porque na realidade só tenho saudades da minha adolescência que de loucura não tem nada. Já pensaram neste termo vulgar que designamos saudade? Já pensaram que fazemos dele algo tão duro e que na realidade só nos faz crescer? Dramatizamos demasiado, não é verdade? Eu compreendo-vos. São demasiados desabafos, memórias ou vivências daquilo que era mágico. Evidentemente, isso é apenas um resumo de um sentimento – saudade. Saudade que me apresentou dois grandes amigos, o papel e a caneta. 
Imagino, novamente, o que estarão a pensar e lanço outra gargalhada. Alta gargalhada de sinceridade. Não, eu não sou louca ou meia louca. Estes dois queridos amigos, quase melhores amigos, provindos de saudade, dizem o que sou já que eu nem sempre consigo expressar-me na totalidade. Tenho pena, pena de nem todos entenderem o que a escrita fez de mim. Eu que, em tempos, não tinha como preferência a leitura, e agora vivo rodeada de livros e de palavras. Afinal a minha felicidade estava mesmo ao meu lado, naquelas estantes que eu não ligava e que agora acordam e dormem comigo.



Beatriz Moreira da Silva 
Ribeira Grande
Académica da Escola Superior de Educação de Castelo Branco 

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