Mais de sete horas de concentração terminaram de
forma pacífica
Poucos manifestantes mantinham-se concentrados junto ao
parlamento cerca das 00:01 de hoje para tentar "manter vivo" um
protesto que começara há mais de sete horas e que foi essencialmente pacífico,
apesar de alguns momentos de maior tensão.
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Centenas de pessoas concentraram-se às portas da Assembleia |
Ao fim da tarde de ontem as grades de
protecção da Assembleia da República (AR) voltaram a ser derrubadas, à imagem
do cerco ao parlamento de 15 de Outubro, mas houve também polícias agredidos
com garrafas de vidro, queimaram-se caixotes e ouviram-se mais de uma dúzia de
petardos rebentar entre os manifestantes e entre os mais de 100 elementos da
PSP destacados só para a segurança à escadaria do edifício.
Num dia em que pela rua de São Bento
passaram três manifestações distintas – duas contra o Orçamento do Estado 2013
e uma de apoio aos estivadores do porto de
Lisboa –, Alcides Santos, do Movimento Sem Emprego, responsável pela
organização da última acção do dia, juntamente com a Plataforma 15 de Outubro,
disse, de acordo com a edição do Jornal I, que “tendo em conta o desrespeito
deste governo pela Constituição da República, e na medida em que estamos a ser
votados à miséria, reservamo-nos o direito à desobediência civil”. Sem
concretizar as palavras, o activista disse apenas que o movimento “pretendia
chamar a atenção dos responsáveis políticos para o facto de que isto não
acabou, ainda agora começámos”.
Enquanto carregava uma das grades que
pouco antes tinha ajudado a derrubar, João Manuel, 34 anos, escondido por baixo
de um capuz, considerava a acção como um gesto normal de protesto: “As grades
vieram abaixo, porque esta é uma maneira de protestar como outra qualquer”.
Pouco depois, Donsília Fernandes, reformada de 66 anos, gritava na direcção dos
polícias que “o povo está a morrer à fome”. “Eu própria estou a passar fome.
Tenho uma reforma de 900 euros – que nem é das piores –, mas entre a renda, os
medicamentos, as despesas de casa e a ajuda ao meu filho que está desempregado,
fico sem nada”, dizia a manifestante, enquanto, ao lado, outros reuniam o
material de propaganda preparado para a manifestação e pegavam fogo aos
cartazes e cartões, ao fundo da escadaria da Assembleia. Rostos colados aos
capacetes das forças de segurança, algumas dezenas de pessoas gritavam “não
pagamos”, “o povo unido, jamais será vencido” e, sobretudo, “demissão,
demissão, demissão”, num protesto que continuou pela noite dentro.
“Eles já perceberam que a maioria do povo não os apoia”
Protesto durou para lá da meia noite |
Ambos os movimentos se demarcaram dos
gestos mais violentos. Entre os manifestantes houve mesmo quem se opusesse à
utilização de passa-montanhas e das máscaras que cobriam a cara. “O Klu Klux
Klan também tapava a cara”, gritou uma das presentes na manifestação.
“Eles estão convencidos de que o povo come
isto”, comentou António Costa Santos, que acusa o governo de não ouvir a rua.
“Eles já perceberam que a maioria do povo não os apoia, mas não têm outra
opção. As responsabilidades foram assumidas com o exterior, não com o país”.
Um pequeno grupo de manifestantes estava na Calçada da Estrela tentando
condicionar o movimentos dos carros provenientes da AR, mas a polícia de choque
foi chamada para os conter mantendo aberto o corredor.
Basílio Horta, deputado independente do PS, foi alvo de impropérios ao
deixar de automóvel o parque de estacionamento.
Cerca de 250 estivadores ficaram junto à porta lateral da AR e prometem ser
os últimos a sair.
Agência de Notícias
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