Impressões Digitais por Paulo Jorge Oliveira


Maquinistas da CP e as greves sem fim

Os maquinistas e a CP estão em conflito há vários anos. Depois de uma paralisação imoral no Natal e no Ano Novo, no ano passado, os maquinistas iniciaram já este ano greve ao trabalho extra e na semana passada a paralisação aumentou de tom. O prejuízo já é de milhões à empresa do Estado [paga por todos nós] e os passageiros são os maiores prejudicados. Do Governo há um silêncio absoluto. Até quando?



Não se retire daqui um manifesto antigreve. Entenda-se, antes, uma resistência à banalização desta forma de protesto consagrada na Constituição Portuguesa. Não é necessário ser nenhum iluminado para perceber o quão danoso representa para as contas da empresa, para os próprios trabalhadores e para os utentes a utilização indiscriminada deste direito. Trata-se de um jogo singular com um resultado conhecido ainda antes do início da partida. O resultado é que todos perdem.
Refiro-me aqui à greve dos maquinistas da CP. Não está em causa o uso desse direito. O que se questiona em termos de ética social é a oportunidade e a manifesta desproporcionalidade de uma luta – ou lutas – que prejudicam sistematicamente quem precisa de viajar para trabalhar. Isto porque os esses ditos “trabalhadores do Estado” não perdem, absolutamente nada com a greve, já que o seu sindicato lhes paga os dias e as horas em que fazem greve. Ao contrário de todos os outros.
Em primeiro lugar, a CP é uma empresa que presta um importante serviço público, sendo financiada pelo seu negócio, mas também beneficiando do esforço dos contribuintes. Depois, trata-se de um grupo de profissionais que, embora constituindo uma parte minoritária dos trabalhadores da empresa, pode paralisar substancialmente a actividade da mesma.
Além do mais, os maquinistas abusam da circunstância monopolista da empresa onde trabalham. Houvesse concorrência e a situação apresentar-se-ia bastante diferente. Na realidade este é um problema sem fim à vista e, ao que parece, sem ninguém se importar com isto.
Segundo a CP, houve uma greve todos os dias desde o início do ano. Já foram suprimidos 15 mil comboios – qualquer coisa como 55 por dia – e a empresa [já de si muito descapitalizada] terá perdido 3,5 milhões de euros. Os prejuízos dos utentes ninguém contabiliza – como os de uma mulher que mora na Moita e trabalha em Sintra e raramente consegue apanhar os três comboios mais barco que utiliza diariamente e, por isso, tem o seu emprego em risco.
Os maquinistas que ganham, em média, entre mil e quatro mil euros mensais reclamam por direitos difíceis de aceitar em tempos de crise ajuda e instabilidade social. As greves, prejudicam sobretudo as pessoas mais vulneráveis e com rendimentos modestos que não têm alternativa de transporte próprio e assim se vai descredibilizando um importante instrumento laboral que devia ser usado como derradeiro e proporcionado recurso. Nunca como norma habitual.
E o Governo disfarça, assobia para o ar, como se nada tivesse a ver com o assunto. Não vi, até hoje, Álvaro Santos Pereira ou Passos Coelho a “mexer uma palha” para resolver o assunto de vez nem vi o Presidente da República – perante tantos silêncios políticos e abusos grevistas – a chamar uns e outros à razão em nome de quem paga o passe e tem de trabalhar.
O prejuízo da CP aumenta com as greves. Montante que, portanto, não será utilizado para abater à dívida pública. E que, portanto, todos nós cidadãos iremos pagar com mais impostos, menos estado social, ou outra qualquer solução troikiana. Ou seja, são greves em que toda a gente perde. A única excepção é o sindicato, o qual ganhou umas rosas cujos espinhos ficam bem espetados na pele e na carteira dos cidadãos contribuintes deste país.
Como reconhece Vítor Gaspar, “o povo português é o melhor do mundo”. Aguenta isto tudo! Até quando?



Paulo Jorge Oliveira
Director da ADN – Agência de Notícias 

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