Moita está em festa até domingo


"A Moita é terra de fé e de diversão" 

É uma das mais importantes romarias a sul do Tejo. A Rainha das Festas do Sul, como os moitenses gostam de chamar à sua festa. Há largadas de touros até domingo e a maior Feira Taurina do país começou ontem à tarde e dura até sexta-feira. Nesse mesmo dia realiza-se a Tarde do Fogareiro, em que as tronqueiras ficam fechadas para o almoço com fogareiros na rua e música espontânea. A procissão em honra de Nossa Senhora da Boa Viagem, no passado domingo, foi a celebração religiosa mais marcante das festas, com a bênção das embarcações e de toda a população. Até domingo, último dia de festividade, ainda há muita coisa para ver.


Nossa Senhora da Boa Viagem percorreu as ruas da Moita 
Perderam-se no tempo as origens das festividades em honra de Nossa Senhora da Boa Viagem, na Moita, tal como hoje as conhecemos. Mas se não é conhecida a data exacta da primeira festa, o mesmo não acontece com a devoção a Nossa Senhora da Boa Viagem, pois em documento da época pode ler-se: “Em o ano de mil, seiscentos e trinta e três, em dia da Natividade [8 de Setembro] se disse a primeira missa pelo Padre Cura Rodrigo Afonso e nesse tempo veio [a imagem de] Nossa Senhora [da Boa Viagem] de novo [pela primeira vez] para esta igreja”. Se atendermos à data de 1631 referida na escritura ou “obrigação que fizeram os Moradores do lugar da Moita a sustentarem e terem em pé uma ermida que querem fazer no dito lugar”, concluímos que o culto a Nossa Senhora da Boa Viagem é simultâneo à construção da própria igreja (só a partir de 1719, esta passou a ser a igreja paroquial da Moita, porque até esta altura era a de São Sebastião). 
Então, como hoje, quem viajava corria inúmeros perigos e apelava à protecção divina. A Fé das gentes, que se ocupavam na faina da pesca ou no transporte de passageiros e mercadorias, e dos próprios viajantes justificava assim a grande devoção à Senhora da Boa Viagem, a quem recorriam nas horas de maior aflição.
A festa era, pois, o momento privilegiado de acção de graças por toda a protecção concedida e um momento alto de vivência cristã. Além da Missa solene com pregação e da imponente Procissão em honra da Padroeira, com a cerimónia da bênção das pessoas e dos barcos no cais da vila, a festa era ocasião especial para administração dos sacramentos, em especial o Baptismo e o Matrimónio, e para a prática da caridade, contribuindo os fiéis com as suas esmolas para as despesas do culto, para a manutenção da igreja e para o cuidado dos mais pobres. Foi assim desde sempre e voltou a ser assim este ano.

O momento de fé
A fé, uma das componentes essências na festa 
Barcos engalanados, janelas com colchas, mulheres de terço nas mãos a acenar à passagem de cada santo (e são muitos), uma multidão que se estendia por diversas ruas da vila da Moita, reflectiam a intensidade da vertente religiosa dos festejos
Junto ao Rio Tejo, a chegada da imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem, foi recebida com aplausos, muitos gritos e muita fé pelos homens do mar. Sentia-se uma forte emoção, no momento em que o Sacerdote, procedeu à cerimónia de bênção dos barcos no cais.
Antes da procissão centenas de pessoas cumpriam as suas promessas colocando velas, numa fila que se estendia, marcada por um profundo sentimento de religiosidade.
Sentia-se na multidão um sentimento de fé. Uma multidão onde se cruzavam diferentes gerações e os mais diversos extractos sociais.
“Sou de Lisboa mas é aqui que venho todos os anos. E pergunta porquê? Porque acredito nesta Santa, acredito na sua força e na capacidade que a nós têm de guiar para lá da razão”, dizia ao ADN, Armindo Leal sentado no Varino Boa Viagem. “Sou filho de pescadores e o meu avô fazia a viagem entre as margens do Tejo. Foi com ele que conheci esta ‘Boa Viagem’ que me faz regressar todos os anos. E olhe, já lá vão 78 anos seguidos que cá venho”. Com ele, já vêm duas filhas, três netos e uma bisneta de 12 anos que já diz ser “devota” da festa.

 Procissão pelas ruas da vila 
A Procissão saiu da Igreja Paroquial, pelas 17.30 horas, percorrendo as principais ruas da vila, acompanhada pela Charanga da Guarda Nacional Republicana a Cavalo, Fanfarra dos Bombeiros Voluntários da Moita, pela Banda Filarmónica 1º Dezembro de Cuba, pela Banda da Sociedade Filarmónica União Agrícola do Pinhal Novo e pela Banda Musical do Rosário e do grupo de Escoteiros.
A imagem da padroeira era acompanhada por um cordão humano com centenas de pessoas. Percorreu as ruas principais, o cais da Moita, protegeu os barcos e as gentes e regressou à sua casa já noite dentro.
“Foi uma das mais bonitas procissões” dizia Simone Patrício que veio do Alentejo em nome de um fé “apaixonada” pela padroeira da Moita e de todos os viajantes.

Sexta é a tarde de Fogareiro
A Festa, porém, não é só religiosa. Sexta, por exemplo, após a largada de toiros da manhã, as gentes da Moita, amigos e forasteiros, transformam a principal avenida da vila da Moita num local único de animação e convívio. Na rua, são colocadas mesas e cadeiras, seguidas dos indispensáveis fogareiros, com as brasas acesas prontas, para grelhar os petiscos. Com a chegada da animação pelo Grupo de Bombos de Santa Maria Jazente, de Amarante e a Charanga de Alcochete e a tradicional dança do Huga Huga, pela Charanga da Banda Musical do Rosário, fica completo o mais famoso almoço dos festejos populares que se prolonga pela tarde fora.
A Tarde do Fogareiro é já uma das mais fortes atrações da Festa da Moita, onde se esperam mais de 20 mil pessoas.
Até domingo, último dia de Festa, há mais toiros à solta nas ruas e na Praça de Toiros Daniel do Nascimento, muita música, [Aurea chega na noite de amanhã ao Palco principal, depois de por lá terem passado os Moonspeel e Quim Barreiros], muitos comes e bebes, muitos bailaricos nas ruas da Festa, o cortejo etnográfico no domingo e, também nesse dia, o fim da festa com um fogo de artificio junto ao cais da Moita.
Estas festas vão "mostrar o que de melhor a Moita tem: as suas gentes, as tradições, a gastronomia, o artesanato e muito mais”, dizia Alexandra Leite num quiosque da Festa.

Consulte AQUI o programa da Festa 
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Paulo Jorge Oliveira 

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