Transportes de Lisboa perdem passageiros


Qualidade no serviço público corre riscos elevados

Os transportes públicos na Grande Lisboa perderam milhões de passageiros durante o primeiro semestre de 2012. Só o Metropolitano de Lisboa registou menos 5,9 milhões de passageiros no segundo trimestre de 2012 do que em período homólogo do ano passado. A Transtejo perdeu  mais de 1 milhão e 630 mil e a Carris perdeu cerca de 26 milhões. Quebra de receitas pode ditar degradação de serviço.

Carris perdeu mais de 26 milhões de passageiros

A Câmara de Lisboa vai estudar uma forma de comparticipar os passes de transporte dos idosos, cujo desconto a que tinham direito foi reduzido em Fevereiro. Para ultrapassar a "injustiça social" que é "impedir os idosos de se deslocarem", disse o vereador da Mobilidade da autarquia, Nunes da Silva, em entrevista ao jornal Público. O vereador diz ainda que o município deve "desafiar o Governo a participar numa solução" para resolver o problema, por forma a que o desconto, que passou de 50 para 25 por cento, volte ao que era.
A questão assume particular relevância devido à elevada percentagem de idosos que vivem na cidade. A quebra de vendas registada nestes passes depois de o desconto ter sido abolido chega, nalguns casos, aos 55 por cento, refere Fernando Nunes da Silva num artigo publicado em Maio na revista de transportes do seu pelouro, a Mov Lisboa. "É dramático, porque as deslocações contribuíam para estas pessoas se manterem activas e saudáveis", observa. 
Dados divulgados este mês pela Carris dão conta de que foram mais de 41 mil as pessoas que deixaram de comprar o passe da terceira idade no primeiro semestre do ano. O aumento das tarifas é, a par do desemprego, outra explicação para a brutal redução do número de passageiros nos transportes públicos.
Lisboa recordista em perdas
O Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou ontem que só no Metropolitano de Lisboa viajaram, no segundo trimestre deste ano, menos 5,9 milhões de passageiros do que no período homólogo de 2011. Uma redução bem mais expressiva do que no Metro do Porto, que em idêntico período perdeu 572 mil pessoas. Especialista em transportes da Universidade do Porto, Álvaro Costa tem uma explicação para o fenómeno: "Os cortes de carreiras efectuados pela Carris foram bastante penalizadores para a mobilidade", que se ressentiu assim também no transporte subterrâneo. "No Porto isso não sucedeu, porque os operadores privados tomaram conta do mercado que até aí pertencia à Sociedade de Transportes Colectivos do Porto." 
E se em valores absolutos o metro de Lisboa surge como campeão de perda de passageiros, em termos percentuais o transporte fluvial bate esse recorde: enquanto o metropolitano registou quebras da ordem de 13,1 por cento dos passageiros, em carreiras fluviais como Lisboa-Cacilhas essa redução ascendeu aos 18,5 por cento no segundo trimestre de 2012, uma vez mais por comparação com o período homólogo do ano anterior. Ao aumento das tarifas as pessoas responderam com alternativas que vão desde a partilha do automóvel até a terem passado a andar mais a pé, observa Álvaro Costa.
Qualidade do serviço em risco
Qualidade do serviço de transporte público pode estar em risco 

"Há famílias que já não têm dinheiro para suportar as deslocações obrigatórias", observa Nunes da Silva, para quem se está perante um problema que chega a ser de coesão social. E se no caso dos idosos a câmara pode vir a abrir os cordões à bolsa, no dos desempregados o vereador entende que deve ser a administração central a comparticipar os custos de deslocação de quem tem de procurar trabalho.
Tanto o Metropolitano como a Transtejo atribuem o decréscimo de passageiros à conjuntura económica. A transportadora fluvial admite que o aumento do tarifário também se pode ter reflectido na redução das viagens ocasionais ou de lazer. Já o metro espera alguma inversão desta tendência com a abertura das estações do aeroporto e envolvente. Nunes da Silva alerta para o impacto que a redução da procura pode ter nas receitas das transportadoras: "Os aumentos de produtividade conseguidos aproximam-se do limite, após o que se seguirá uma degradação da qualidade do serviço de que será extremamente difícil recuperar", concluiu.

Menos passageiros
Há também menos pessoas nos barcos 

No primeiro semestre deste ano, comparativamente com o mesmo período de 2011, o Metropolitano de Lisboa registou uma redução de 11 milhões e 500 mil de passageiros, a Transtejo de mais de 1 milhão e 630 mil e a Carris perdeu mais de 26 milhões, demonstram os dados revelados pela agência Lusa.
Os mesmos dados revelam ainda que na Carris mais de 40 mil idosos, uma redução de mais de 17 por cento, deixaram de comprar o passe terceira idade no primeiro semestre deste ano, quando deixaram de usufruir de desconto. Além dos vários aumentos de preços que os tarifários sofreram no último ano, em Fevereiro o Governo decidiu diminuir o desconto que os idosos beneficiavam na compra do passe social, que passou dos 50 para os 25 por cento. Os dados demonstram ainda que a Carris perdeu 20,8 por cento dos passageiros.
O Metropolitano de Lisboa passou dos 92.174.086 registados nos primeiros seis meses de 2011 para os 80.662.283 registados este ano.
A Transtejo teve no primeiro semestre do ano passado 14.082.619 passageiros, número que caiu para os 12.451.820 este ano.

Agência de Notícias 

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