Passos Coelho reitera que desemprego é uma “oportunidade”



Oposição critica palavras do primeiro-ministro

O primeiro-ministro apelou hoje aos portugueses para que adotem uma "cultura de risco" e considerou que o desemprego não tem de ser encarado como negativo e pode ser "uma oportunidade para mudar de vida". António José Seguro, do PS, e Jerónimo de Sousa, PCP, já criticaram estas palavras do líder do Governo. 

"Estar desempregado não tem de ser negativo" diz Passos Coelho 

 Durante a tomada de posse do Conselho para o Empreendedorismo e a Inovação, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, Pedro Passos Coelho lamentou que "a cultura média" em Portugal seja a "da aversão ao risco" e que os jovens licenciados portugueses prefiram, na sua maioria, "ser trabalhadores por conta de outrem do que empreendedores".
Numa intervenção de cerca de vinte minutos, o primeiro-ministro defendeu que "essa cultura tem de ser alterada" e substituída por "um maior dinamismo e uma cultura de risco e de maior responsabilidade, seja nos jovens, seja na população em geral".
Passos Coelho referiu-se em especial aos portugueses que estão sem emprego: "Estar desempregado não pode ser, para muita gente, como é ainda hoje em Portugal, um sinal negativo. Despedir-se ou ser despedido não tem de ser um estigma, tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida, tem de representar uma livre escolha também, uma mobilidade da própria sociedade".
Segundo Passos Coelho, a Europa e Portugal precisam de apostar em "modelos de desenvolvimento de valor acrescentado, de forte base tecnológica" para ganharem competitividade económica, e não nos preços baixos.
"Essa não é a competitividade que nos interessa. No curto prazo, no meio da crise em que estamos, claro que é preferível ter trabalho, mesmo precário, do que não ter, claro que é preferível trabalhar mais do que não trabalhar, vender mais barato do que não vender", mas "o modelo para o futuro tem de ser o de acrescentar valor", reforçou.
O primeiro-ministro terminou o seu discurso considerando que, para isso, "a economia pública tem de investir alguma coisa" na ciência, na tecnologia, na inovação, mas que também deve haver "uma participação crescente do capital privado" nestas áreas.

Falta de respeito, diz PCP
"Desempregados merecem mais respeito" diz Jerónimo de Sousa 

Em resposta, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, criticou as palavras do primeiro-ministro. O líder comunista recorda os "mais de 1,2 milhões de portugueses vítimas do desemprego", Jerónimo de Sousa considerou que, "pior do que isso, é ouvir Passos Coelho dizer que é bom terem sido despedidos".
E continuou o líder do PCP: "Dizia o homem, de forma ofensiva, que é bom terem sido despedidos porque ficam com montes de possibilidades e oportunidades nas suas vidas. É caso para dizer que o povo português, um dia, seguirá o seu conselho, despedindo-o, ao seu Governo e à sua política, porque são eles que estão a mais", sustentou durante uma manifestação do PCP no Porto contra o programa da 'troika' para Portugal.
Ainda assim, o líder comunista reconheceu, ironicamente, alguma "razão" a Passos Coelho: O primeiro-ministro, disse Jerónimo de Sousa, "mesmo que seja demitido e despedido terá sempre a tal oportunidade de ir para uma das empresas dos amigos que neste momento está a beneficiar na vida económica".

Mau demais, responde PS
"Foi mau demais" diz António José Seguro 

Quem também criticou as palavras de Passos Coelho foi o líder do PS. À margem da conferência do Laboratório de Ideias e Propostas para Portugal (LIPP), subordinado ao tema "Democracia e Participação Política", António José Seguro foi questionado sobre as declarações de sexta-feira do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, hoje reiteradas, de que o desemprego pode ser uma oportunidade.
"Foi mau demais e eu penso que os portugueses estão todos chocados com estas declarações do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho. Isto é próprio de um primeiro-ministro que está ausente da realidade e que não sente o sofrimento e o drama dos milhares de portugueses que neste momento não têm um emprego", condenou.
O secretário-geral do PS afirmou ainda que o desemprego "é um drama social e aquilo que os portugueses esperam do Governo é que tenha políticas e propostas para responder a este drama e a este flagelo".
"Quem fez as declarações foi o primeiro-ministro. Ele é o responsável por aquilo que disse e o que disse chocou os portugueses. Eu já tive oportunidade de ouvir muitas pessoas que na rua me cumprimentaram e se me dirigiram estavam profundamente chocadas e indignadas com estas declarações do primeiro-ministro", respondeu aos jornalistas.
Na opinião de Seguro, "o que é exigido" a Pedro Passos Coelho "é que acabe com este drama e nesse sentido as palavras do senhor primeiro-ministro são palavras que chocam os portugueses".
O primeiro-ministro afirmou hoje que "mantém" as afirmações sobre o desemprego poder ser uma oportunidade e acrescentou que Portugal "está cansado das crises artificiais" que querem "aproveitar qualquer coisa" para tentar criar "uma tensão enorme no país".
"Acho que o país está um bocadinho cansado das crises artificiais e desta tentativa de distorcer e de aproveitar qualquer coisa para querer fazer uma tensão enorme no país. Sei bem o que disse e mantenho o que disse", afirmou Pedro Passos Coelho, em declarações aos jornalistas

Declaração desequilibrada diz Marcelo Rebelo de Sousa
"Faltou compreensão para o lado negativo" diz Marcelo Rebelo de Sousa  

O comentador político Marcelo Rebelo de Sousa avaliou hoje a intervenção do primeiro-ministro sobre o desemprego como “desequilibrada” e explicou que lhe faltou uma palavra de compreensão para o “lado negativo” do que é estar desempregado.
Em Guimarães para uma conferência subordinada ao tema “Solidariedade em Portugal 2012”, o professor e comentador Marcelo Rebelo de Sousa afirmou no final à Lusa que Pedro Passos Coelho tem uma “deformação” por ser “muito explicativo”.
Segundo o comentador da TVI – e ex-lider do PSD - a “intenção foi boa” mas que “faltou um toque” que alterasse o discurso.
“Teve uma intenção boa. A de estimular jovens a criar microempresas, a serem criativos, a terem iniciativa, a não baixarem os braços”, disse, completando que, “no entanto, a intervenção feita tal como foi é incompleta”.
Segundo professor, faltou a Passos Coelho “uma palavra de compreensão para o lado negativo do que é estar desempregado”, estado que Marcelo considerou ser “uma provação, um sacrifício” para muitos jovens.
“O ter faltado esse aspecto, que é o aspecto complementar, fez com que ficasse uma declaração desequilibrada”, apontou.
Recusando a ideia de “falta de sensibilidade” por parte do primeiro-ministro, o professor afirmou que Passos Coelho “tem uma deformação” relembrando que já lha apontou anteriormente.
“É muito explicativo e racional. Quis explicar que mesmo numa situação de desemprego é preciso tentar vias de iniciativa individual”, acrescentou.
Só que, voltou a referir, “isto dito assim, a seco num momento em que as pessoas se sentem penalizadas, frustradas, não realizadas, pode ganhar um sentido que não aquele que se desejava”.

Agência de Notícias 

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