O meu motivo de sorrir
Hoje entrei por aquela
porta cor de mel e encontrei uma enorme bagunça, havia livros espalhados pelo
chão, carros de corrida alinhados e prontos para ver quem venceria, bonecos de
peluche que sabe-se lá bem porque saíram do confortável papel que desempenham em cima da cama e peças de puzzel perdidas das suas caixas próprias, empilhadas por entre os peluches e carrinhos. Ajoelhei-me perante este mundo de brincar, agarrei um dos carros de corrida como se de uma peça valiosa se tratasse e dei por mim dois anos dois meses atrás.
Olho à minha volta e
apenas vejo paredes brancas e gélidas, há um barulho, um tal “pi” irritante e
intermitente que mede os meus batimentos cardíacos e os teus, insiste em
deixar-me nervosa. Lá fora ouve-se a correria das senhoras de bata branca,
falam todas ao mesmo tempo, não as consigo perceber. Tu estas calmo, deves
estar a aproveitar os últimos minutos de quentinho, em que nada mais importa, é
o teu mundo mas eu… eu tenho tanta sede… Será que ainda demora ate que me possa
deliciar-me com um copo de água?! Olho para o relógio e a passaram mais de 6
horas desde que aqui entrei… tenho tanto medo mas não demonstro, quero ser
forte, pela mente não me passa nada, mesmo que tente não consigo unir mais que
um pensamento seguido, a minha mente está tão confusa que não junta mais que
duas palavras ao mesmo tempo. E o tempo, esse, não passa, o relógio zangou-se
comigo, como se o ponteiro demorasse o triplo do tempo a concluir a sua volta e
eu, aqui estou, ansiosa para te ver. Entram pela sala dois dos milagreiros da
vida, os tais que andavam pelos corredores, trazem consigo a tal bata branca
que tantas vezes nos assusta e confunde. Estão habituados à situação e isso por
incrível que pareça deixa-me ainda mais nervosa, como se a criança fosse eu,
indefesa e temendo o tão famoso “Bicho papão”. Mas não te preocupes, quero
tanto ver-te e tocar-te que vou conseguir.
Preparam-me como se
alguém conseguisse estar totalmente calmo numa situação assim, o tal “pi” que
me diz que estamos bem, já não me incomoda mais… “respire assim, faça assim,
mexa-se assim…” tanta coisa para fazer ao mesmo tempo, estava na hora de saíres
do teu mundinho quente e aconchegante e dares o teu sorriso ao mundo. “Tenho
tanta sede”, lembro-me novamente de pensar, o que será que tu sentias neste
momento? Este é um acontecimento tão grande e tão magico que jamais conseguirei
descreve-lo na perfeição por palavras. Depois de muito trabalho, nasceste tu meu filho, eras
perfeito de tal maneira que nunca conseguirei arranjar comparação, senti dentro
de mim um misto de emoções que nunca pensei ser capaz de sentir, abracei-te
como todo o meu amor e beijei a tua testa, foi o nosso primeiro contacto. O teu
rosto foi a policromia que preencheu as paredes brancas que me rodeavam, foi
tão único, tão magico… E agora apenas peço a Deus que te abençoe, que ilumine o
teu caminho, peço aos anjos que nunca te deixem sozinho… És o meu mundo e
tantas vezes a força que preciso, um sorriso teu ou uma palavra apenas são
capazes de transformar todos os dias em dias de sol…
Volto a mim e ao quarto
e chamo-te prontamente para organizares toda esta bagunça, não resisto em
abraçar-te e encher-te de beijos por és o melhor de mim, és o meu filho…
Cátia Neves
Lisboa
Desejos & Pensamentos uma rúbrica onde
se misturam desejos intensos com pensamentos da vida. Sempre às segundas-feiras
ao fim da noite. Para ler, desejar e pensar. Com assinatura exclusiva de Cátia
Neves para o ADN.
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