Anafre juntou 200 mil em Lisboa


Todos contra o corte de freguesias

 A manifestação contra a fusão de freguesias, neste sábado à tarde, em Lisboa, foi um desfile de diversidade, com ranchos folclóricos, associações culturais, recreativas e desportivas de todo o país. A contabilidade de participantes é feita pela Anafre, que reclama 200 mil pessoas presentes. Boa parte dos 600 autocarros que levaram os manifestantes até Lisboa foi paga pelas próprias freguesias.

Anafre juntou 200 mil pessoas contra corte de freguesias 


Hoje, Lisboa foi verdadeiramente a capital do país ao acolher grupos folclóricos, fanfarras e 'Zés Pereiras' vindos de sul a norte de Portugal numa manifestação que pretende convencer os partidos com assento parlamentar a voltarem atrás quanto à fusão de freguesias.
Entre bandeiras das suas freguesias, os manifestantes também usam bonés e camisolas, muitas delas pretas, numa alusão ao luto pelo fim das muitas freguesias impostas pela vontade da Troika e por vontade do Governo.
A música ambiente também é uma mostra das tradições populares portuguesas e faz-se ouvir com bombos, gaitas-de-foles e outros instrumentos que viajaram até Lisboa ao longo de várias horas e ainda mais quilómetros.
O protesto, organizado pela Associação Nacional de Freguesias (Anafre), é "uma grande afirmação da cultura e da etnografia" do povo português, demonstrativa das raízes, da riqueza e da representatividade das freguesias, e também "um grande brinde à cidade de Lisboa", disse o presidente da associação, Armando Vieira.
A iniciativa, agendada há algumas semanas, decorreu um dia depois de o grupo parlamentar do PSD ter apresentado uma proposta à Anafre segundo a qual os municípios podem fundir menos 20 por cento das freguesias em relação aos critérios definidos inicialmente na reforma administrativa, que previa a agregação de 1.000 a 1.500 destas autarquias.

200 mil a protestar

O presidente da Associação Nacional de Freguesias (Anafre) Armando Vieira esteve no Rossio, em Lisboa, a agradecer ao “mais de 200 mil portugueses” que se manifestaram hoje em defesa das freguesias.
No seu discurso, proferido enquanto ainda estavam manifestantes a descerem a avenida da Liberdade, o dirigente afirmou que “a causa primeira é a da gente com rosto”.
“São os que nos estendem a mão que apertamos, os que nos contam os seus problemas, que partilhamos e gente anónima para outros, mas a quem chamamos pelos nomes”, disse.
Armando Vieira garantiu que o caminho a seguir “não é por ali” numa alusão à reforma que o Governo quer seguir, que passa por reduzir o número de freguesias existentes.
A Anafre garante ter consciência que já levou a sua mensagem a todos os responsáveis e decisores do país e que esta reforma deve ser promovida com as freguesias.
Sobre a manifestação de hoje, que segundo a organização juntou na capital cerca de 200 mil pessoas, caracterizou-a como “grande afirmação” cultural, etnográfica, demonstrativas das raízes, da riqueza e da representatividade das freguesias”.
Entre gritos “Portugal, Portugal” e cartazes onde se lêem "O coveiro das freguesias" e "Relvas é piegas", Armando vieira concluiu que a manifestação foi, acima de tudo, “uma grande lição de força e humildade”.

Seguro quer que Governo oiça autarcas
Lisboa foi hoje a capital das freguesias 


O secretário-geral do PS desafiou o Governo a ouvir os autarcas e os «representantes da população» que se manifestaram em Lisboa contra a proposta de extinção de freguesias.
Já que o Governo não quis ouvir o PS, que agora, ao menos, ouça os milhares de autarcas e representantes da população que desfilaram em Lisboa”, afirmou António José Seguro.
A seguir, o líder dos socialistas reiterou as suas críticas ao Governo sobre o processo de extinção de freguesias.Durante tantos meses, o Governo não quis ouvir a proposta do PS para a reforma do Poder Local e não quis ouvir o PS a chamar a atenção para o disparate que estava a fazer com a proposta de extinção de freguesias, feita a régua e esquadro”, diz o líder do PS.
Para Seguro, ao longo dos últimos meses, o Governo “nunca se preocupou com a organização do território e com o respeito pela vontade das populações”.

Relvas tenta flexibilizar proposta

A primeira proposta do Governo, que também convida os municípios a juntarem-se, foi aprovada no Parlamento na generalidade, mas estava ainda em discussão na generalidade.
Os autarcas - principalmente eleitos de juntas de freguesias, mas também de câmaras municipais - têm mostrado esperança num volte-face por parte do Governo e dos partidos que sustentam a maioria.
Na sexta-feira, depois da reunião da Anafre com o PSD, Armando Vieira disse que a manifestação de hoje se manteria e que ajudaria a sensibilizar os deputados quanto "à necessidade de refletirem melhor, mais aprofundadamente, sobre esta matéria".
Segundo um documento distribuído aos jornalistas após o encontro, a proposta do PSD prevê "atribuir à assembleia municipal uma margem de flexibilidade de 20 por cento no resultado de redução de freguesias no respetivo município - só é aplicável à primeira pronúncia da assembleia municipal".
Armando Vieira apontou ainda que, apesar de "os parâmetros de flexibilidade serem de 20 por cento sobre os indicadores que constam da lei, pode haver situações que, devidamente fundamentadas, possam indiciar uma maior amplitude dessa flexibilidade".
Entre as alterações estão também "aumentar a barreira delimitadora do nível um para 1.000 habitantes por quilómetro quadrado (era de 500 habitantes por quilómetro quadrado)" e "aumentar de três para quatro o número de referência de freguesias por município em que não é obrigatória a agregação de freguesias".
Foi igualmente clarificado que "o resultado de redução em cada município é global e que há flexibilidade da assembleia municipal para alcançar o mesmo resultado com diferentes proporções", ou seja, um município que tenha de reduzir dez freguesias, das quais seis urbanas e quatro não urbanas, pode reduzir as mesmas dez, mas, por exemplo, quatro urbanas e seis rurais.

Agência de Notícias 

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