Presidenciais 2011 - Reportagem Final

“Uma vez mais o povo português não se deixou enganar” – Cavaco Silva 




Foi ao som de "Cavaco, Cavaco, vitória, vitória" que o reeleito Presidente da República se assumiu como vencedor, às 22h25. Acompanhado pela mulher – os filhos já se encontravam no Centro Cultural de Belém –, Cavaco não esqueceu o caos nas urnas provocado pelo cartão do cidadão e começou por saudar aqueles que tiveram "elevado sentido cívico para votar neste acto eleitoral realizado em circunstâncias de grandes dificuldades".
Na hora do aguardado discurso, não poupou críticas aos adversários, dizendo mesmo que a sua vitória constitui a "vitória da verdade sobre a calúnia". "Foram cinco contra um", disse Cavaco, acrescentando que "a honra venceu a infâmia". "Ganhei em todos os distritos de Portugal, incluindo as regiões autónomas", fez questão de sublinhar, lembrando que nestas eleições há vencedores e derrotados.
Numa campanha “cinco contra um”, “foi o povo que os derrotou”, disse o presidente candidato numa declaração muito critica no CCB.
“Esta foi a vitória da verdade sobre a calúnia” numa campanha muito difícil em que foram “cinco contra um”, disse o candidato presidencial Cavaco Silva na sua declaração de vitória no CCB.
Num discurso muito duro para os seus adversários nestas eleições, Cavaco Silva referiu que “vencidos são aqueles políticos que preferem a mentira e a calúnia ao debate de ideias. Foi o povo que os derrotou”.
“Uma vez mais o povo português não se deixou enganar e esta foi a vitória da dignidade. Os portugueses souberam ver de que lado estava a verdade e condenaram uma forma de fazer política que é imprópria para uma democracia adulta”, acrescentou o candidato presidente. “A Democracia ganhou. Venceram os que acreditam em Portugal, os que fizeram campanha com ideias e projectos”.
Nesta declaração de vitória, Cavaco Silva aproveitou para saudar todos os portugueses que foram votar. “Mostraram sentido de responsabilidade e merecem uma palavra de reconhecimento porque não se alhearam do futuro”. No entanto, aproveitou para comentar o tema do dia ao “deixar uma palavra a todos os portugueses que quiseram votar, mas não o fizeram por questões burocráticas”.
O Presidente agradeceu aos seus mandatários e apoiantes, bem como à família essenciais para a vitória clara em que ganhou em todos os distritos. “Agradeço a todos os que me deram a honra da sua escolha, serei Presidente de Portugal inteiro, de todos, porque comigo Portugal estará sempre primeiro”.
Para o futuro, Cavaco reforça que vai continuar a apostar na “confiança, estabilidade, solidariedade, sem abdicar dos poderes”, realizar uma “magistratura activa”, sempre em “defesa dos interesses nacionais”.
As prioridades são o combate ao desemprego e ao endividamento externo, bem como o reforço da economia portuguesa. Saúde, ensino e justiça são outras áreas também não esquecidas em que o Presidente estará sempre ao lado dos portugueses que não se resignam e dos empresários que apostam na inovação.
A fechar uma nota especial aos jovens para que “lutem pelo vosso futuro”. Cavaco Silva tinha entrado na sala do CCB onde estavam os seus apoiantes às 22h20 recebido por palmas e com gritos de “Vitória, vitória, vitória” e “Portugal, Portugal”.
O Presidente toma posse a 7 de Março.


“A derrota é só minha” – Manuel Alegre 




O capital de mais de um milhão de votos de 2006 perdeu-se em cinco anos. Manuel Alegre, desta vez apertado entre o apoio do PS e do Bloco de Esquerda, ficou aquém dos resultados em percentagem - conseguiu 19,75% dos votos, quando em 2006 tinha alcançado 20,72% - e em votos - pouco mais de 831 mil em 2010 - de há cinco anos, mas tal como há cinco anos encontra apenas um culpado: "Assumo pessoalmente a derrota. Rejeito qualquer comparação com outras eleições." Mais tarde concretizou: "O meu objectivo era passar à segunda volta. A derrota é minha, não é dos que me apoiaram."
No discurso da derrota, Alegre quis desresponsabilizar o governo e o PS pelo resultado nas urnas: "Não foi o PS que perdeu este combate." Depois de durante a campanha ter mesmo falado de uma "luta de vida ou de morte" pela democracia e dito que estavam em causa os direitos sociais, o histórico socialista apelou a que o Presidente da República "contribua para a estabilidade" do país. Alegre falou poucos minutos depois de José Sócrates, que, ainda na sede do PS no Rato, tinha usado cirurgicamente a mesma palavra. Depois das palavras duras em campanha eleitoral, o primeiro-ministro, na pele de secretário-geral do PS, preparou a convivência futura com Cavaco. "É legítimo dizer que os portugueses optaram por não mudar, pela continuidade e pela estabilidade política". Estabilidade que, durante a campanha eleitoral, disse estar em causa com a eleição de um candidato que não Manuel Alegre. No seu discurso na noite eleitoral afastou a possibilidade: "Nunca vi nenhum membro do governo fazer críticas, porque nunca se esqueceram das suas obrigações", disse.
No seu discurso, Alegre negou ainda ter pedido a união dos partidos da esquerda em torno da sua candidatura: "Nunca fiz apelo ao voto útil. Não é neste momento que vou mudar de opinião." Durante a campanha, Alegre combateu a abstenção à esquerda - que no discurso não mereceu honras de comentário - e apelou ao voto "de socialistas, bloquistas e comunistas", nem, chegou a dizer, que fosse "no vosso candidato". Emocionado depois dos aplausos, Alegre não respondeu quanto ao futuro. Pediu "desculpa por não ter conseguido fazer melhor" e garantiu que o seu "combate político será o mesmo de sempre", tal como, acredita, "aqueles que apoiaram continuarão a lutar pela defesa do Estado social. Em democracia não é vergonha perder, é vergonha fugir ao combate".
Descontentamento Alegre não o assumiu no breve discurso - disse mesmo que "não era o candidato do governo" -, mas no Altis, em Lisboa, o hotel usado pelo PS no fim de todas as campanhas eleitorais, houve quem não se importasse de o dizer: Alegre sofreu o voto de protesto pelas medidas do governo.
A colagem destes resultados ao governo foi no entanto feita fora. O antigo primeiro-ministro Santana Lopes disse mesmo na TVI que a "derrota de Alegre é, por tabela, do governo, pela aposta do seu líder nestas eleições.


Nobre, a surpresa da noite 

"Vitória! Vitória! Vitória!". Os gritos interrompiam amiúde o discurso de Fernando Nobre. O candidato não ganhou mas assumiu que a sua candidatura pela cidadania "foi a grande vitoriosa desta noite".
"Esta candidatura é da pura cidadania e acabou de ter um resultado histórico, tremendo que ninguém vai poder negar. Se houve um ganhador nestas eleições foi a candidatura da cidadania", afirmou Fernando Nobre.
Nobre alcançou 14,12% dos votos e o seu discurso assemelhou-se ao de Manuel Alegre, em 2006. Também Alegre referia, na altura, que não tinha o apoio de uma máquina partidária e criticava o silenciamento da sua candidatura. "Esta foi a candidatura que não teve nenhum apoio partidário, nenhum apoio de máquina partidária. Teve de vencer contra o silenciamento quase sistemático na comunicação social e contra uma manipulação para a qual não encontro nenhum adjectivo para identificar, contra a manipulação quase sistemática de todas as empresas de sondagens em Portugal", referiu Fernando Nobre. "Mesmo assim chegámos onde ninguém pensava que podíamos ter chegado", acrescentou.
"Cidadania" foi a palavra-chave no discurso de Nobre: "A cidadania portuguesa está viva, recomenda-se e o futuro do nosso país vai ter que ter isso em conta doravante". O candidato independente distanciou-se, ainda, da campanha negra que grassou nestas eleições presidenciais: "Foi uma candidatura que se ergueu unicamente em nome de valores, ideias, desígnios. Que não enxovalhou ninguém, não atacou ninguém e assumiu uma postura de frontalidade e honestidade".
Apesar de não ter ganho, o discurso de Nobre foi de um vencedor: "Não me arrependo. Saio destas eleições como sempre afirmei que saíria, de cabeça erguida, com a mesma dignidade com que entrei. Assumi um dever pelo país, tinha que fazer o que fiz e estou contente por tê-lo feito graças a todos vós." De "consciência cada vez mais apurada e crítica" o candidato deixou um aviso à navegação: "Continuarei a estar atento ao futuro dos portugueses, ao furuto de Portugal, a tudo o que verdadeiramente interessa, à nossa cidadania e ao nosso futuro colectivo." "Obrigada", ouviu-se na plateia.
Em 2016, segundo Marcelo Rebelo de Sousa, o candidato poderá voltar.


Veleu a pena, diz Francisco Lopes 





O candidato presidencial Francisco Lopes afirmou-se "de consciência claramente tranquila" com os resultados eleitorais, afirmando que "contribuiu para enfrentar" Cavaco Silva e para que a sua reeleição seja "com uma das mais baixas votações de sempre".
Numa declaração aos jornalistas cerca das 20:45, quando as projecções apontavam para um resultado entre os sete e os oito por cento, Francisco Lopes, apoiado pelo PCP e Verdes, garantiu que a sua candidatura "não foi tempo perdido".
"A decisão desta candidatura, a campanha que fizemos e o resultado que atingimos é uma vitória daqueles que não se resignam, daqueles que não baixam os braços, daqueles que com toda a confiança avançam por um destino melhor", afirmou.
Questionado sobre se a reeleição de Cavaco Silva representa uma derrota, Francisco Lopes afirmou ter dado "um contributo decisivo para confrontar e enfrentar" o candidato apoiado pelo PSD, CDS-PP e MEP, ao "mostrar verdadeiramente o percurso de Cavaco Silva e o que ele representa na Presidente da República e as consequências que tem de continuação e agravamento dos problemas nacionais".
"Estou de consciência claramente tranquila pelo papel que esta candidatura teve no combate para contribuir para enfrentar Cavaco Silva e para abrir e clarificar um caminho novo para o nosso país", sustentou o candidato comunista.
Para Francisco Lopes, a eleição de Cavaco Silva, "embora com a votação mais baixa, ou das mais baixas de sempre", para um segundo mandato, representa "a continuação e o agravamento dos problemas nacionais".
O candidato comunista falava na sede nacional do PCP, onde funcionou a sede de candidatura, acompanhado do seu mandatário nacional, Barata Moura, o deputado ecologista José Luís Ferreira, a dirigente da CGTP Deolinda Machado, Corregedor da Fonseca, da Intervenção Democrática, e responsáveis comunistas.


Um Coelho a surpreender... 



Foi a última candidatura a ser aceite pelo Tribunal Constitucional e poucos – ou quase ninguém – lhe levavam a sério. 15 dias de campanha bastou para ter 189 mil 340 pessoas a gostar das suas ideias. José Manuel Coelho que o resultado que obteve nas eleições presidenciais é "uma vitória do povo madeirense" e constitui um "basta" a Alberto João Jardim.
"Os madeirenses disseram agora basta ao Dr. Jardim e aos seus apaniguados porque ele está rodeado daqueles corruptos que têm enriquecido com o dinheiro que a República tem mandado para a Madeira enquanto os madeirenses passam fome", disse José Manuel Coelho.
Segundo o deputado do PND-Madeira, a votação de hoje é uma demonstração de que "o povo já está cansado de 30 anos de ditadura jardinista, já está saturado e isto é um sinal claro que eles dão ao Dr. Alberto João Jardim que está na hora de ele ir embora e cuidar dos netos".
Segundo José Manuel Coelho, "o povo madeirense quer mudar de política, quer uma política moderna, de desenvolvimento, de solidariedade de mais emprego, de mais direitos, de melhores condições de vida e isso passa pelo afastamento do jardinismo desta terra que já deu o que tinha a dar".
Concluiu que "os madeirenses querem uma sociedade virada para os valores de 25 Abril". O candidato madeirense criticou também a actuação da comunicação social que, segundo o candidato, não “cumpriu” o seu papel de “quarto poder”.
José Manuel Coelho diz que a este factor junta-se a agravante dos problemas técnicos com os cartões de cidadão, acrescentando que milhares e milhares de portugueses que não votaram”. José Manuel Coelho foi o segundo candidato mais votados nas eleições presidenciais na Madeira.



"Não felicito quem ganhou, porque sou coerente" - Defensor de Moura 




O último candidato a ir às urnas ficou em último lugar nas eleições. Sabor agridoce para o socialista que mais criticou Cavaco Silva. Durante a sua campanha, Defensor Moura admitiu sempre que não se candidatava às presidenciais para ganhar. Apesar disso, as expectativas de votos para o deputado do Partido Socialista eram mais altas do que as que se concretizaram ontem na ida às urnas. A contagem de votos para Defensor Moura foi uma das grandes surpresas da noite eleitoral: o antigo presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo ficou em último lugar, com 1,57% dos votos. Os números, contudo, não desmotivaram o candidato: "Estou tranquilo, porque acho que consegui quebrar o verniz do candidato Cavaco Silva, que daqui para a frente não será a mesma pessoa. Quebrei o verniz com que tinha sido maquilhado todos estes anos", disse no discurso de reacção às sondagens à boca das urnas.
Defensor Moura foi provavelmente o candidato a Belém que mais se concentrou em ataques ao Presidente. E por não ter conseguido evitar a vitória de Cavaco à primeira volta reconheceu que ontem foi um dos vencidos. Ainda assim, o discurso da derrota não fugiu aos hábitos de campanha. "Não felicito quem ganhou, porque sou coerente", sublinhou aos jornalistas e apoiantes na sua sede de campanha, em Viana do Castelo. "A minha candidatura foi um exercício de dever cívico, que era o de informar os portugueses, e foi isso que fiz", sublinhou, fazendo referência às denúncias de que o Presidente da República terá pactuado com as situações ilícitas do caso BPN-SLN.
No rol de críticas, o grande derrotado da noite lamentou também as campanhas mal orientadas, referindo que não foram debatidas as questões "profundamente" relevantes da sociedade portuguesa. Aí Defensor Moura fez referência à campanha do madeirense José Manuel Coelho, que "explorou a veia satírica da nossa sociedade e falou de temas de que os outros não quiseram falar". Foi o único elogio num mar de críticas. A crítica final ficou reservada ao vencedor que não felicitou. "O perfil de Cavaco Silva", voltou a sublinhar, "não se adequa à actual situação do país”.


Jornal Novo Impacto

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