Otelo é para levar a sério?

Criticas Soltas - by Joana Teófilo Oliveira
Otelo é para levar a sério?



O Inverno chegou quente, como foi o Verão de 1975 e todo um ano de convulsões que ameaçaram levar Portugal para outros rumos. Na altura evitaram-se extremismos, mas não a percepção de um país de gente estranha que faz coisas estranhas.
Nunca fui grande adepta de revoluções, por me rever numa atitude mais pensada, que busque equilíbrios e rigor. Com o passar do tempo, como muitos, temo desesperar e duvido da capacidade e virtudes de quase todos os sistemas. Mas não abdico do bom senso, que por estes dias, no mínimo, vai escasseando entre nós.
Otelo Saraiva de Carvalho defendeu há pouco que, “ultrapassados os limites”, os militares devem “fazer uma operação militar e derrubar o Governo”. Terá um Outubro anormalmente quente, condicionado a sua opinião? Não sei. Mas sei que a responsabilidade de alguns, entre os quais se encontra Otelo, os obrigam a medir as palavras. O mesmo Otelo que há ainda bem pouco tempo afirmava que se soubesse como o país ia ficar, não teria realizado o 25 de Abril. Isto em resposta aos que se lhe dirigiam na rua, “pedindo uma nova revolução”. Em que ficamos então? É para baixar os braços, ou pegar nas armas?
Não fui até agora, como já referi, grande adepta de revoluções. Mas posso reconhecer e até entender as suas motivações. Como percebo os que a fizeram de forma desinteressada e muitas vezes com elevados custos pessoais, dando voz a sentimentos comuns e generalizados. E o 25 de Abril pode, ao contrário das FP25, ser visto desta forma. Essas (as FP25), continuam no âmbito da tão portuguesa ”trapalhada”, em que são praticados actos extremos, com enorme confusão nas suas motivações, execução e posteriormente na forma como são julgados por uma sociedade, ou parte dela, que pareceu não entender mas perdoar (ou parte dela).
A reacção de Vasco Lourenço à bomba lançada por Otelo é de assinalar, ainda mais por se tratar de um ”irmão de armas”. Segundo ele, Otelo “ofendeu-se a ele próprio como militar de Abril e ofendeu-nos a todos nós”.
O camarada Vasco parece perceber que deitar gasolina para cima da fogueira é uma jogada de risco e não pode ser usada de forma leviana. E as revoluções ou as revoltas não são armas de arremesso pessoais.
A inércia é uma realidade nacional, contra a qual alguns procuram agora “marchar”. Só é pena não se terem visto muitos (salvo excepções) a revoltarem-se contra o que nos trouxe até aqui. E até mesmo contra salários, subsídios, ajudas e o enormíssimo conjunto de benefícios que se atribuíram a muitos que precisam e outros tantos que nem por isso.
É que por muita unanimidade que exista sobre o estado social, de nada serve criar um monstro que depois não conseguimos alimentar. Porque não está escrito que não nos podemos revoltar contra medidas populares. Só é muito improvável que aconteça. Em semana de greve geral era bom parar uns minutos e perguntar que caminhos queremos trilhar. Repensar o nosso futuro é, cada vez mais, uma estratégia que todos teremos de ter.


Joana Teófilo Oliveira


Estudante de Ciências da Educação

Quinta do Anjo


(Escreve todas as segundas-feiras na rubrica Criticas Soltas) 





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