Árvore Europeia do Ano é de Águas de Moura

Sobreiro português com 234 anos conquista a Europa 

É conhecido pelos pássaros que chilreiam nos seus ramos ao final do dia. É um barulho tão intenso que até lhe deu nome: sobreiro assobiador. Foi plantado em Águas de Moura, no concelho de Palmela, há 234 anos e foi agora distinguido como a árvore europeia do ano. Ganhou com 26 mil 606 votos, seguido pelos Ulmeiros ancestrais de Cabeza Buey (22 mil 332 votos) e pelo 'Ancião das Florestas de Belgorod' (21 mil 884 votos). O Assobiador deve o nome ao som originado pelas inúmeras aves que pousam nos seus ramos. Plantado em 1783, este sobreiro já foi descortiçado mais de vinte vezes. Com 234 anos, o Assobiador está classificado como 'Árvore de Interesse Público' desde 1988. No dia mundial da árvore, Nuno Calado, secretário-geral da União da Floresta Mediterrânica, recebeu - em Bruxelas - o original troféu de madeira que passa de vencedor a vencedor a cada ano. É agora o "orgulho maior" da aldeia de Águas de Moura, do concelho de Palmela e de Portugal inteiro que tem, pela primeira vez, a Árvore Europeia do Ano. 
Sobreiro Grande, em Águas de Moura, é a árvore do ano na Europa

“Ficámos muito contentes. Acho que é muito importante para a floresta portuguesa e para o sobreiro, que é o nosso símbolo”, reage à vitória Nuno Calado, engenheiro florestal e secretário-geral da União da Floresta Mediterrânea, responsável pela participação portuguesa. “Espero que este prémio alerte para a importância da floresta portuguesa e para os sistemas agro-florestais, como o sobreiro e o montado, porque são muito importantes para o Sul de Portugal”.
Ao todo, a árvore portuguesa teve 26 mil 606 votos. O engenheiro florestal, que esteve na cerimónia em Bruxelas, conta que virá para Portugal um troféu feito com madeira de diferentes espécies, que será entregue à Câmara de Palmela. Ficará um ano em Portugal e, para ano, será passado ao novo vencedor.
Os muitos pássaros que cantam intensamente enquanto estão pousados nos seus ramos, principalmente no fim do dia, valeram-lhe a alcunha “sobreiro assobiador”. Também lhe chamam “árvore casamenteira” porque era o local onde muitas vezes os casais aproveitavam para namorar. 
Mas não é só por isso. A presidente da Junta de Freguesia de Marareca/Poceirão, Cecília Sousa, recordou outras histórias em entrevista ao Jornal O Observador. “É conhecido assim porque as famílias de etnia cigana faziam ali dias e dias de festa quando se casavam. Como a árvore é muito frondosa, albergava a família toda”, explica a autarca, acrescentando que esta é uma tradição “antiga” e que já não acontece.
Tem 234 anos, 16 metros de altura e 29 metros de diâmetro. Este sobreiro é considerado árvore do interesse público desde 1988 e o livro de recordes do Guinness aponta-o como o maior e mais velho do mundo. É português - a sua morada é em Águas de Moura, no concelho de Palmela - e venceu esta quarta-feira o concurso da Árvore Europeia do Ano, uma iniciativa da Environmental Partnership Association. Teve mais de 26 mil votos num total de 186 mil 351.
"Estamos extremamente felizes em trazer reconhecimento a Portugal, através do concurso 'European Tree of the Year'. Este sobreiro representa uma enorme contribuição para a biodiversidade e os serviços dos ecossistemas, a luta contra as alterações climáticas, além da contribuição para a economia portuguesa", afirma Nuno Calado, secretário-geral da União da Floresta Mediterrânica. 
Referiu ainda que "o futuro dos sobreiros e dos Montados depende dos produtores agroflorestais, da escolha do consumidor por vinhos com rolhas de cortiça e de políticas públicas que possam promover elevados níveis de biodiversidade e atividades económicas sustentáveis".
Os vários países reuniram-se em torno das 13 árvores candidatas que competem pelo título 'European Tree of the Year', promovendo energicamente os seus candidatos favoritos durante o mês de Fevereiro.

As outras árvores
Também no pódio ficaram os ulmeiros ancestrais de Cabeza Buey, em Badajoz (Espanha) e um carvalho da Rússia chamado “ancião das florestas de Belgorod”. As árvores espanholas são bem velhinhas: os sete ulmeiros (Ulmus minor) têm cerca de 450 anos. E são considerados a última representação das florestas urbanas da Estremadura. “Apesar da ameaça da grafiose [fungo] do ulmeiro, uma doença que matou mais de um milhão de árvores em Espanha e mais de mil milhões no mundo, estas árvores conseguiram permanecer de pé, nos arredores da ermida do Santuário de Nossa Senhora de Belém, de grande valor histórico artístico e com origem templária”, refere o site do concurso.
Já o carvalho-comum (Quercus robur) tem cerca de 188 anos e cresceu numa área de protecção ambiental no Oeste da Rússia. “Sob a sua copa realizaram-se eventos públicos e celebrações”, lê-se no site, acrescentando-se que esta árvore testemunhou acontecimentos históricos ou que hoje se organizam 'flashmobs" para se formarem corações à sua volta. 
Esta é a 8.ª edição do prémio Árvore Europeia do Ano, organizado pela Associação de Parceria Ambiental e inspirado num concurso da República Checa, que foi transposto para a Europa em 2011. Se nesse ano concorreram apenas cinco países, este ano já foram 13. Além de Portugal, Rússia e Espanha, participaram a Hungria, Reino Unido, Eslováquia, Lituânia, Roménia, Polónia, Bulgária, República Checa, Croácia e a Bélgica.
Este foi o primeiro ano em que Portugal participou. “A União da Floresta Mediterrânea [membro da Organização dos Proprietários Rurais Europeus, que apoia o concurso e desafiou Portugal] entrou este ano enquanto entidade organizadora a nível nacional”, indica Nuno Calado. Como este era o “ano zero” para Portugal, a organização do concurso propôs que fosse a  União da Floresta Mediterrânea a escolher uma árvore. 
“Escolhemos um sobreiro porque é a árvore nacional de Portugal. Tendo de escolher um sobreiro, escolhemos o assobiador que é o mais icónico”, explica Nuno Calado, acrescentando que esta árvore está classificada pelo Instituto da Conservação da Natureza e Florestas como “árvore de interesse público”desde 1988. Além disso, é formalmente reconhecido como o sobreiro mais velho de Portugal e o maior do mundo que se conhece.

De Águas de Moura para o mundo inteiro 
Sobreiro é árvore de interesse público desde 1988 
De uma árvore não muito conhecida passou a ser a mais conhecida em Portugal. João Branco, que faz parte da direção da Confederação Portuguesa das Associações de Defesa do Ambiente, diz que este sobreiro começou a ser falado no ano passado: “Ele era apenas conhecido na aldeia de Águas de Moura, mas a maior parte das pessoas não fazia ideia de que existia. No ano passado começou a haver algumas notícias em jornais locais, que depois acabaram por ir parar ao Facebook. Foi o início de tudo, porque alguns canais de televisão acabaram por fazer reportagem sobre ele e foi assim que foi a este concurso”.
Para as associações que defendem o ambiente, esta é uma grande vitória. João Branco espera que este acontecimento leve a que as pessoas se interessem mais pelo património arbóreo que Portugal tem: “Fazemos votos para que isto seja um alerta e apelamos às pessoas para que comuniquem quando souberem da existência de árvores monumentais para que se possa proceder à sua classificação antes que sejam cortadas”.
Por todas estas razões escolheu-se o Sobreiro Assobiador ou casamenteiro. Estima-se que tenha sido plantado há 234 anos. Tem cerca de 30 metros de diâmetro de copa e mais de 16 metros de altura. É tido como o mais antigo e produtivo do mundo. Descortiçado mais de 20 vezes desde 1820, a extracção realizada em 1991 obteve 1200 quilos de cortiça, o suficiente para o fabrico de mais de cem mil rolhas.
A Câmara de Palmela remodelou a zona envolvente à árvore, que transformou o local num novo espaço de lazer e visitação. A obra inclui a colocação de uma plataforma em madeira para contemplação, placas interpretativas e sinalética, pilaretes adaptados ao local para evitar estacionamento abusivo e, junto do espaço de jogo e recreio contíguo, uma zona de ginásio de ar livre.
De acordo com o município, a intervenção foi concebida “numa lógica de associação de valências que se complementam, para garantir uma oferta de qualidade a quem vive na aldeia de Águas de Moura e atrair visitantes à localidade”.
A Câmara de Palmela diz ainda que a construção do novo parque pretendeu "proteger, valorizar e dar visibilidade a este importante espécime, criando, em simultâneo, melhores condições para a sua
contemplação e fruição".
Para rever as histórias das outras árvores em concurso, pode fazê-lo através do site do evento.

Agência de Notícias 
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