Utentes do Barreiro pedem demissão na Soflusa

Utentes pagam os seus passes e bilhetes para serem "servidos com dignidade"

A Comissão de Utentes dos Serviços Públicos do Barreiro considerou que o reforço de embarcações por parte da Soflusa "é insuficiente" e pediu a demissão do conselho de administração da transportadora que "nada fez pelos utentes". A Soflusa garante que a ligação fluvial entre o Barreiro e o Terreiro do Paço regressou à normalidade nas horas de ponta. O pedido da Comissão de Utentes do Barreiro surge na sequência do anúncio pela Soflusa de que estão disponíveis seis navios para assegurar todas as carreiras nas horas de ponta da manhã e da tarde. O Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda já endereçou uma pergunta ao Governo questionando a atuação do Conselho de Administração da Soflusa, a falta de oferta de meios alternativos de transporte e o PSD qualifica a anulação de carreiras da Soflusa como “inqualificável” e “vergonhoso” e exige que os utentes recebam o dinheiro do passe de volta.
Milhares de pessoas desesperaram por falta de barcos 

No início da semana, estavam a operar apenas quatro navios, o que causou diversos problemas aos utentes, tendo ocorrido vários desacatos que causaram feridos.
Em declarações à agência Lusa, Antonieta Fortunato, da Comissão de Utentes dos Serviços Públicos, que esteve, na sexta-feira, junto ao terminal do Barreiro para chamar a atenção dos utentes para a situação, pediu a intervenção urgente do Governo e a demissão do conselho de administração da empresa.
"Pedimos a demissão do conselho de administração da Soflusa que nada fez na defesa dos utentes, pedimos também a manutenção da frota que dirige e das condições da mesma. Exigimos que a frota esteja em condições de segurança e navegação e que a sua higiene e limpeza seja uma realidade", sublinhou.
Antonieta Fortunato reclama que o serviço público seja prestado aos utentes que pagam os seus passes e bilhetes para serem "servidos com dignidade".
A Soflusa é a empresa responsável pelas ligações entre o Barreiro e Lisboa, enquanto a Transtejo faz as ligações do Seixal, Montijo, Cacilhas e Trafaria/Porto Brandão com a capital.
Antonieta Fortunato lembrou à Lusa que no início de Outubro a comissão de utentes teve uma reunião com o ministério do Ambiente e dos Transportes na qual foi dito que o Governo ia tentar resolver a situação o mais rapidamente possível para não ter impacto junto dos utentes.
"Contudo, o que sabemos é que há dois anos tínhamos feito uma tribuna pública contra a venda de algumas embarcações. Na altura, dissemos que a venda de embarcações iria trazer estes constrangimentos de horários que se estão a verificar agora", disse.
De acordo com a Comissão de Utentes, os reforços anunciados agora são "claramente insuficientes" para o número de pessoas que usam aquele transporte fluvial.
"Nós verificámos, durante esta semana, os constrangimentos que isto acarretou. Sabemos que foi posto um barco a circular anteontem e que hoje estão mais dois a funcionar. A nossa questão é: Estes barcos estão operacionais? Estão efetivamente a funcionar? Se não havia na segunda-feira porque é que hoje já há? Se vem do Seixal e do Montijo para o Barreiro, vão os utentes do Seixal e Montijo ficar sem barco?", questionou.
Antonieta Fortunato lamentou os acontecimentos do início da semana, salientando que as pessoas estavam desesperadas.
"De repente, depois dos desacatos, em que as pessoas desmaiaram, em que houve feridos, em que tiveram de pôr a polícia de intervenção e a polícia marítima com cães - parecia que estávamos noutro país -, anunciam o reforço", frisou.
Segundo Antonieta Fortunato, a administração da Soflusa não pode pedir às pessoas que evitem as deslocações entre as oito e as nove da manhã, porque estas precisam de ir trabalhar.

BE quer oferta de meios alternativos de transporte
Durante toda a semana, ficaram ao serviço apenas quatro dos oito navios que fazem esta travessia, estando os restantes em manutenção ou reparação. A situação não é nova, sendo as queixas de atrasos e supressões sem aviso de carreiras uma constante dos últimos meses. Na sexta-feira, mais dois navios "normalizaram" a travessia entre as duas margens.
A indignação e revolta dos passageiros que utilizam diariamente os barcos da Soflusa, tendo muitos, pago antecipadamente esse serviço por via dos passes mensais foi agravada pelo “apelo” do Conselho de Administração da Soflusa/Transtejo “para que as pessoas evitassem deslocações do Barreiro para Lisboa entre as 8 e as 9 horas”. Quem pagou antecipadamente o seu titulo de transporte ou quem o quisesse fazer dentro do seu horário normal de deslocação, esta recomendação soou como um verdadeiro insulto, disse o Bloco de Esquerda, em comunicado enviado à ADN-Agência de Notícias.
"O Conselho de Administração da empresa em vez de cumprir com o contrato que tem com os seus passageiros, ou, pelo menos, proceder ao fretamento de navios para suprir as falhas ou disponibilizar transportes alternativos por forma a garantir que as pessoas com falta de lugar nos barcos, fossem conduzidas ao seu local de destino dentro do horário previsto, exime-se aparentemente de qualquer responsabilidade, tentando transferir essa responsabilidade para as pessoas para que (estas) ajustassem os seus horários”, lamenta o Bloco.
"Na Soflusa esta situação é o reflexo da estratégia da anterior Administração, mandatada pelo Governo do PSD/CDS-PP para privatizar o serviço de transportes, que levou à venda de um navio 'Augusto Gil' – que agora faz falta – e à recusa em realizar investimentos de manutenção nos restantes, nomeadamente garantindo os indispensáveis Certificados de Navegabilidade", explica o BE
Na Transtejo," tal situação pode vir a ocorrer em breve uma vez que o governo anterior vendeu ao desbarato o navio 'Martim Moniz' e também deixou caducar vários certificados de navegabilidade, no âmbito da mesma estratégia de preparação para a privatização", sublinham os bloquistas.
O Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda já endereçou uma pergunta ao Governo questionando a atuação do Conselho de Administração da Soflusa, "a falta de oferta de meios alternativos de transporte, a estratégia prevista para evitar a repetição destes casos, tanto na Soflusa como na Transtejo e a disponibilidade do Governo para aprovar um Programa de Modernização e Reforço de Meios para as atuais travessias do Tejo".

PSD qualifica a anulação de carreiras da Soflusa como “inqualificável” e “vergonhoso”
“Todos sabem que é impensável fazer este serviço com apenas quatro navios. É inconcebível que a empresa e o governo deixem chegar a situação a este ponto. Já era mau para os utentes a supressão de carreiras em hora de ponta decididas pela administração, ao que agora se junta este problema”, refere o deputado, eleito por Setúbal, do PSD, Bruno Vitorino.
Para o social-democrata, os utentes deste serviço estão a ser “gravemente prejudicados, tendo em conta que são “supressões atrás de supressões”.
“Neste momento, são muitos os problemas que esta situação causa aos milhares de pessoas que têm que chegar a horas aos seus emprego e às aulas”, acrescenta.
Bruno Vitorino mostra-se ainda incrédulo por a empresa apelar aos utentes que não viajem entre as oito e as nove horas, “como se os trabalhadores ou estudantes pudessem alterar os horários do trabalho ou das aulas”.
“É uma falta de respeito pelas pessoas, ainda para mais quando não são criadas redes de transporte alternativo. O utente paga o passe, sem poder usufruir do serviço”, sublinha
O deputado do PSD diz ainda ser “inaceitável” que o Governo, uma vez que se trata de uma empresa do estado, está “impávido e sereno” a assistir a esta situação sem na prática nada fazer.
“Como já se percebeu, os anúncios de milhões para a reparação de embarcações das Transtejo/Soflusa, feitas três meses antes do ato eleitoral autárquico pelo primeiro-ministro António Costa, não passaram de meras promessas para atirar areias aos olhos da pessoas, como se comprova”, acrescenta.
Bruno Vitorino exige que o governo resolva esta situação o mais rapidamente possível, pois “o tempo passa e os problemas agudizam-se”.

Agência de Notícias 

Comentários