Grupo macaense investe 250 milhões em Setúbal

Projeto turístico revoluciona zona ribeirinha e cria 3 mil postos de trabalho 

A Macau Legend, do empresário macaense David Chow, está a preparar um investimento de 250 milhões de euros num projeto turístico que pretende estreitar a ligação entre Setúbal e Tróia, aproveitando a baía de Setúbal, que passa pela construção de um resort e poderá incluir a entrada no capital do Casino de Tróia, detido pela Oxy capital e pela Amorim Turismo. Este é o primeiro investimento da Macau Legend em Portugal (e na Europa) e a expetativa da Câmara de Setúbal é que a construção arranque em 2017. Numa primeira fase, o projeto vai gerar três mil postos de trabalho. Para a presidente da Câmara de Setúbal este novo projeto vai projectar Setúbal como "destino turístico de renome mundial". Mas ainda não há acordo com o Clube Naval Setubalense que se recusa a sair de onde está. 
Investimento de 250 milhões vai mudar a zona ribeirinha de Setúbal 

A Câmara de Setúbal assinou no dia 7 de Julho, em Macau, um memorando de entendimento com investidores daquela região administrativa especial chinesa no qual se prevê a construção de uma marina e dois hotéis de luxo de quatro e cinco estrelas na zona onde hoje se situa a Doca de Recreio.
O projeto inclui um edifício com sessenta apartamentos, um yacht club, uma gare de embarque para Tróia, um Retail Village, um Hot Market e Grocery Store, estacionamento e um equipamento cultural, além de novas instalações para o Clube Naval Setubalense, que será relocalizado na mesma zona.
O pré-projecto elaborado para Setúbal prevê ainda um terminal de ferries e táxi marítimo, com o objetivo de articular a operação turística entre a cidade e a Península de Tróia, onde se localiza o casino do grupo Amorim Turismo, que o empresário macaense pretende integrar no investimento. No conjunto dos vários equipamentos, está prevista a criação de cerca de três mil novos postos de trabalho.
O investidor Macau Legend [um dos maiores operadores de jogo e entretenimento de Macau] será a responsável pelo projeto que qualificará a zona ribeirinha de Setúbal, num importante "contributo para devolver ainda mais o rio à cidade, uma das principais orientações de trabalho assumidas pelo executivo da Câmara de Setúbal no atual mandato autárquico", explica uma nota da autarquia sadina. 
Maria das Dores Meira, presidente da Câmara de Setúbal, afirma que a assinatura deste acordo constitui o “um passo de enorme importância para alcançar o objetivo estruturante e estratégico de promover uma histórica requalificação da zona ribeirinha de Setúbal e de criar emprego na nossa região”.
Esta operação, assegura a autarca, configura uma “transformação profunda nos usos da nossa zona ribeirinha e lançará, definitivamente, a cidade na rota do turismo e dos investimentos turísticos de qualidade e qualificadores da cidade, capazes de atrair também turistas chineses e asiáticos”.
Maria das Dores Meira salienta que o memorando agora assinado “é muito mais do que um mero conjunto de intenções”. Resulta, “acima de tudo, da incessante procura de investidores para a nossa cidade que temos feito nos últimos anos, sempre com dois objetivos primordiais: qualificar Setúbal e a sua zona ribeirinha, potenciando o turismo, e gerar emprego no nosso concelho”, acrescenta a autarca.

Clube Naval Setubalense não aceita a deslocalização
Os terrenos para a implantação do novo complexo turístico são propriedade pública, sob administração portuária, mas a autarca garante que esse aspecto não constituirá impedimento ao negócio. “Há coisas por resolver, os terrenos de uso portuário têm de passar para domínio municipal, mas o Governo está a acompanhar as negociações e vai haver cedência de uso com toda a urgência, talvez em Julho ou Agosto”, adianta Maria das Dores Meira.
Além disso, o processo de abordagem e negociação com a empresa chinesa tem sido desenvolvido com base num dossiê preparado pelo município em conjunto com a Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra.
Na doca de recreio de Setúbal, local de implantação do investimento chinês, está instalado desde 1934 o Clube Naval Setubalense, o segundo maior da cidade depois do Vitória de Setúbal. Tem 94 anos de existência, dez mil associados e cerca de mil praticantes, sobretudo de modalidades ligadas à água e ao rio, como natação, vela ou canoagem.
O Naval tem a posse do espaço, vedado há muitos anos, onde hoje se localizam as piscinas e o pavilhão gimnodesportivo do clube. A autarquia garante que os associados não têm nada a temer, porque serão construídas, pelo promotor macaense, novas instalações para o Naval, a alguns metros das actuais.
“Os sócios do Naval podem ficar descansadíssimos”, assegura Dores Meira. A autarca acrescenta que o investidor macaense “vai dar uma sede nova, descida para a água [acesso à utilização do rio], tudo novo”, e que a autarquia vai acompanhar a elaboração do projecto definitivo com uma equipa especificamente “criada para isso”.
Apesar destas garantias, a direcção do Clube Naval Setubalense tem dúvidas e parece não querer sair de onde está. “Está fora de questão o clube sair daqui, do local onde se encontra desde 1934”, disse o presidente do clube ao jornal Público. Hugo O’Neill disse ainda “desconhecer” o projecto, embora tenha já conhecimento da “ideia”. Segundo o dirigente, a eventual deslocalização “prejudica o clube” pelo que a direcção está em “completo desacordo” com essa hipótese e, “se assim for, o Naval é contra”.

 Setúbal como destino turístico de renome mundial
Novo projeto turístico criará 3 mil empregos na cidade  
A Macau Legend é uma empresa macaense com atividades nas áreas do entretenimento e lazer, cotada desde 2013 na Bolsa de Valores de Hong Kong. Concretizou, em 2012, a fusão com a Macau Fisherman’s Wharf International Investment Limited, operação que garantiu a propriedade do maior complexo de lazer e entretenimento na Península de Macau. 
O investimento em Setúbal é o terceiro grande projecto de internacionalização da Macau Legend, no espaço de um ano, depois da aquisição, em Maio, do casino Savan Vegas, no Laos, e do início da construção, em Fevereiro, no ilhéu de Santa Maria, em Cabo Verde, de um empreendimento turístico, no valor de 250 milhões de euros, idêntico ao agora previsto para Portugal.
Para a Câmara de Setúbal este novo projeto vai projectar Setúbal como “destino turístico de renome mundial”. Maria das Dores Meira revela ainda que o município tem outros investimentos turísticos em curso, designadamente a construção de um hotel junto ao Forte de Albarquel, cujo pedido prévio “já deu entrada na câmara”, a recuperação do Forte, a “começar em Setembro” e a hasta pública para utilização privada da Bateria do Outão, que “vai ser lançada”.

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