Autoeuropa pode suprimir um turno de produção

Redução da produção pode levar a despedimentos em 13 empresas

A fábrica do Grupo Volkswagen em Palmela está a debater um novo modelo de flexibilização laboral que permita manter um "fluxo de produção estável", referiu uma fonte oficial da empresa. Neste sentido, está a decorrer um processo de diálogo com a Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa que ainda não chegou a posições consensuais. Um dos cenários em aberto não exclui, segundo alguns trabalhadores, "a supressão de um turno fabril", embora a fonte oficial da Autoeuropa não faça comentários. Aos trabalhadores, a administração da fábrica da Volkswagen garantiu também que não há postos de trabalho em risco. Já os trabalhadores dos fornecedores da Autoeuropa receiam que esta medida possa provocar a redução de postos de trabalho. É que das 13 empresas do parque industrial, 10 têm como cliente exclusivo a fábrica da Volkswagen.
Queda na produção pode levar a despedimentos noutras fabricas 

"A administração da Volkswagen Autoeuropa está neste momento em diálogo com a Comissão de Trabalhadores, no sentido de se encontrar um entendimento sobre um modo de funcionamento que garanta o volume de produção da empresa no corrente ano, sem colocar em causa a empregabilidade dos seus colaboradores", refere um comunicado da empresa.
"Tratando-se de um processo normal na vida de uma empresa, e por respeito a todas as partes envolvidas, a Volkswagen Autoeuropa não comentará qualquer aspeto até o processo estar concluído”. adianta o mesmo comunicado.
Actualmente, a Autoeuropa está a produzir os modelos Volkswagen Scirocco e Sharan e o Seat Alhambra. Em 2014 e 2015 saíram das linhas de montagem da fábrica 102 mil veículos, mas para este ano não estão previstos mais de 80 mil. A produção de um novo modelo só deverá começar a partir de meados de 2017. Até lá, admite-se que a produção de Palmela se reduza dos actuais 460 veículos dia para cerca de 315, uma redução de mais de 30 por cento.
A Autoeuropa é uma das principais empresas exportadoras nacionais, encontrando-se entre as cinco primeiras, a par da Galp ou da TAP. Um dos grandes mercados dos carros produzidos em Palmela, depois da União Europeia, tem sido a China, para onde foram expedidos no ano passado mais de 30 mil unidades. O abrandamento da economia chinesa pode estar a ter reflexos no consumo de automóveis produzidos em Palmela.

Empresas que trabalham para a Autoeuropa podem ter de despedir 
Além da importância para as exportações, a Autoeuropa também tem uma importância enorme, muitas vezes capital, para empresas que fabricam componentes automóveis para a Volkswagen. A decisão de reduzir a produção para um turno diário poderá obrigar muitas dessas empresas, sobretudo as que trabalham em exclusivo para a Autoeuropa, a despedir funcionários.
Daniel Bernardino, porta-voz das comissões de trabalhadores destas fábricas, explica que a maior parte das empresas tem como único cliente a construtora de Palmela e que, por isso, a redução para um turno diário pode implicar a dispensa de funcionários ou a não renovação de contratos.
A Autoeuropa justifica a possibilidade da redução de um turno com a crise económica que diminuiu a procura e com a necessidade de preparar o investimento de cerca de 700 milhões de euros que vai ser efetuado no próximo ano pela Volkswagen.
Já na Autoeuropa, que emprega 3600 pessoas, a administração comprometeu-se, no âmbito do acordo de empresa, a não fazer nenhum despedimento colectivo até Setembro deste ano.
Actualmente, a Autoeuropa, que iniciou a produção em 1995, conta com 47 fornecedores de peças em Portugal, dos quais 19 no parque industrial de Palmela e 28 noutros locais do país.

Governo está a acompanhar situação 
"O Governo reconhece como prioridade estratégica a atracção e retenção de investimento directo estrangeiro, razão pela qual acompanha de perto todos os investimentos estruturantes em Portugal", disse ao Jornal de Negócios fonte oficial do Ministério da Economia na quarta-feira. "O investimento na Autoeuropa, pela sua importância, não poderia ser excepção.O Ministério da Economia está em contacto com a administração da Autoeuropa que assegurou que os trabalhos decorrentes do investimento de 677 milhões de euros estão em curso e de acordo com o planeado", segundo a mesma fonte. 
Desta forma, a tutela "tem a expectativa que os pressupostos do investimento são para manter".O Governo tem razões para estar preocupado com este investimento, pois dos 677 milhões de euros uma fatia de 36 milhões corresponde a apoios públicos. Este dinheiro vai servir para dotar a fábrica de Palmela de tecnologia que vai permitir construir mais um, ou dois, modelos: a plataforma MQB que vai possibilitar à fábrica construir em Palmela qualquer modelo do grupo Volkswagen. O novo modelo deverá começar a ser produzido no segundo semestre do próximo ano. É esta a expectativa de António Chora da Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa que aponta a Agosto de 2017 como a data provável para o início de produção. Até lá, o novo modelo vai ter que ser submetido a vários testes de produção, para assegurar que cumpre todas as regras. "A Volkswagen é bastante conservadora", disse António Chora ao mesmo jornal, apontando que a marca alemã quer ter a produção bem preparada, antes de passar à fase de produção em massa.

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