Autoeuropa pode perder investimento da Volkswagen

Alarmes começam a soar na Fábrica de Palmela 

O grupo Volkswagen  vai rever todos os investimentos previstos e “cancelará ou adiará os que não sejam estritamente necessários” após o escândalo da manipulação das emissões poluentes. A informação foi avançada ontem pelo novo presidente do grupo alemão, Matthias Müller, que não quis adiantar quais os países afectados, dizendo apenas que “tudo isto vai ser doloroso”. Para já, ainda não se sabe se a Autoeuropa vai ser afectada, apesar de a fábrica de Palmela ter previsto um investimento de quase 700 milhões de euros para serem aplicados até 2018, a fim de receber a produção de um novo modelo. A ideia seria receber um carro da chamada nova plataforma, ou seja, que possa ser produzido em Portugal ou noutro país. Ao mesmo tempo, é quase certo que alguns dos milhões de carros da Volkswagen com o software que manipula as emissões de gases poluentes podem ter passado pela Autoeuropa. O coordenador da Comissão de Trabalhadores da empresa, António Chora, admite que a montagem de viaturas com os motores alterados na fábrica de Palmela "é uma forte possibilidade". O Jornal de Negócios descobriu um proprietário de um Scirocco, um carro que só é produzido em Portugal, com o motor fraudulento. 
Grupo Volkswagen anunciou recuos nos investimentos  

A verdade é que estas notícias não estão a deixar os trabalhadores da Autoeuropa e todas as empresas à volta de Palmela "num estado de nervos" e muito intranquilo. Daniel Bernardino, admite ao Jornal I, que todas as empresas que dependem da Autoeuropa “estão muito apreensivas” porque ainda não sabem se a produção vai ou não ser afectada. E recorda o episódio que ocorreu em Julho passado, quando a fábrica de Palmela deixou de produzir o modelo Eos.
“Assistimos ao encerramento de uma empresa, a Webasto, e ao despedimento de 300 trabalhadores, dos quais 100 eram trabalhadores temporários da Autoeuropa que não tinham vínculo com a empresa e que foram dispensados com a redução de produção.” Se o investimento for cancelado ou adiado poderá, no seu entender, pôr novamente em causa a sobrevivência dos fornecedores que estão dependentes quase em exclusivo da produção da fábrica de Palmela. 
A fábrica produz a segunda geração de MPV, Sharan, Seat Alhambra e o Scirocco, modelo que foi lançado em 2014. Conta actualmente com 3600 trabalhadores nos quadros e fabrica cerca de 500 carros por dia.
O ministro da Economia, Pires de Lima, já tinha admitido que não existem garantias nenhumas em relação à fábrica de Palmela, mas frisou a importância de “proteger um grande investidor em Portugal, responsável por milhares de postos de trabalho directos e indirectos, e que tem sido um modelo de gestão que merece ser valorizado e respeitado em Portugal”. Apesar de não ter “nenhuma notícia de alteração de posições”, reconheceu que “as fábricas existem para vender automóveis e, para isso, é preciso ter clientes”.
Matthias Müller reconhece que o escândalo da manipulação de carros que afecta 11 milhões de veículos em todo o mundo vai ter consequências financeiras pesadas: “As acusações são significativas e potencialmente muito graves” após a admissão de culpa, revelou o responsável.
O novo líder do grupo alemão salientou ainda que já foi feita uma provisão de 6,5 mil milhões de euros, no terceiro trimestre, que cobrem os custos para actualizações dos veículos afectados, mas reconhece que essa verba “não é suficiente”, prevendo “grandes penalidades para resolver acordos de indemnização à Volkswagen”. O valor incorpora pouco mais de um terço da potencial multa nos EUA, que é de 18 mil milhões de dólares (cerca de 16 mil milhões de euros), não considerando as acções de outros governos. Segundo o responsável, “as consequências financeiras e comerciais ainda são impossíveis de prever”, pelo que há que rever os investimentos. 

Motores fraudulentos montados em carros da Autoeuropa
Carros produzidos em Palmela apanhados nos escândalo da VW
Alguns dos milhões de carros da Volkswagen com o software que manipula as emissões de gases poluentes podem ter passado pela Autoeuropa. O coordenador da Comissão de Trabalhadores da empresa, António Chora, admite que a montagem de viaturas com os motores alterados na fábrica de Palmela "é uma forte possibilidade".
António Chora, que está na Alemanha para acompanhar o encontro dos trabalhadores, admitiu à TSF que uma vez que na Autoeuropa recebem os motores já completos é possível que estes já viessem "alterados".
Segundo o Jornal de Negócios, a possibilidade é real já que um proprietário de um Volkswagen Scirocco, um carro que só é produzido em Portugal, descobriu através do site da marca que o seu carro era um dos afetados.
A SIVA admite que entre todos os modelos afetados existem Scirocco e Sharan, que são fabricados em Portugal.  A Volkswagen prepara-se para recolher à oficina 11 milhões de veículos em todo o mundo. Em Portugal serão mais de 100 mil.


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