Demitiram-se chefias do Hospital do Litoral Alentejano

Hospital do Litoral Alentejano e de Almada trabalham com chefes de urgência demissionários 

Dois dos maiores hospitais do distrito de Setúbal - Almada e Santiago do Cacém -  estão com chefes de urgência demissionários. Ontem, os chefes da equipa de urgência do Hospital do Litoral Alentejano, demitiram-se em bloco, alegando que a "degradação das condições de trabalho". Os médicos demissionários justificam que a degradação das condições no Serviço de Urgência se traduz tanto na falta de material como de recursos humanos, dando ainda conta de "desconformidades sistemáticas da escala de urgência, nomeadamente do Atendimento Geral e do Atendimento Pediátrico". Dizem ainda que esta degradação verifica-se desde Novembro e coloca "em risco a segurança dos doentes", segundo justificaram os clínicos numa carta enviada ao Conselho de Administração que, em resposta, nega as acusações. Este caso surge no mesmo dia em que o Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos explicou que os problemas no Hospital Garcia de Orta, Almada, se mantêm, após a demissão de sete chefes de equipa de urgência, em Janeiro passado. Câmara de Almada e Comissão de Utentes reuniram ontem com a administração do Garcia de Orta sem resultados práticos. 
Chefes das urgências do hospital de Santiago do Cacém demitiram-se

Os chefes de equipa do serviço de urgência do Hospital do Litoral Alentejano, em Santiago do Cacém, demitiram-se na quinta-feira em bloco, alegando que as condições de trabalho se têm vindo a degradar desde Novembro e que “põem em risco a segurança dos doentes”. 
Em carta enviada ao director clínico, os médicos que têm assumido a chefia de equipa da urgência deste hospital alegam que são "sistemáticas" as "desconformidades" na urgência, “sendo frequente existir um só elemento escalado para o Atendimento Geral durante o dia e a noite”.
"A degradação das condições de trabalho no serviço de urgência, quer em termos de falta de material quer em termos de falta de pessoal, tem vindo a ser progressiva, com desconformidades sistemáticas da escala de urgência, nomeadamente do Atendimento Geral e do Atendimento Pediátrico", sustentam os médicos.
"Há dias em que doentes com pulseira amarela [urgente] e verde [pouco urgente] chegam a aguardar nove horas para serem atendidos", descreveu um demissionário, pedindo para não ser identificado. Em média, este serviço atende cerca de 120 pessoas por dia, mas tem tido "picos", com afluências diárias que chegam "aos 150 e aos 200 doentes", acrescentou.
Os 14 médicos que assinam a carta recordam que já em Novembro enviaram um primeiro alerta ao Conselho de Administração do hospital, em que elencavam as “condições mínimas” para o serviço poder funcionar. Em Dezembro, voltaram a avisar o Conselho de Administração que, segundo afirmam, “nunca se mostrou realmente interessado em discutir a problemática" do serviço de urgência.
Como a situação não se alterou, mesmo depois de em Janeiro “ter havido orientações da tutela “ para o reforço das equipas das urgências a nível nacional, decidiram demitir-se do cargo durante uma reunião realizada esta quinta-feira, embora continuem em funções, explicam os médicos que não querem "ser responsabilizados" por eventuais problemas que se venham a verificar.
Na carta, avisam que se prevê ainda "a redução da capacidade de internamento do hospital", devido à passagem da unidade de cuidados paliativos para a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, o que, temem, "virá a agravar a capacidade de escoamento" do serviço de urgência.

Conselho de Administração nega acusações
O Conselho de Administração já reagiu à demissão dos 14 médicos e "recusa a existência de falta de material, bem como a alegada degradação do serviço".
Em comunicado enviado às redações, a administração "considera que existem problemas resultantes, entre outros, da falta de médicos na instituição, o que se reflete no funcionamento do Serviço de Urgência mas também nos restantes serviços".
"Ainda hoje o Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano efetuou uma reunião com alguns médicos subscritores do abaixo-assinado, onde foram avançadas algumas eventuais soluções para melhoria do Serviço de Urgência" do hospital de Santiago do Cacém,  acrescenta o comunicado.

Hospital serve 200 mil pessoas em cinco concelhos 
Integrado na Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano (ULSLA), este hospital serve uma população de cerca de 200 mil pessoas espalhadas por uma extensa área geográfica, que inclui os concelhos de Santiago do Cacém, Alcácer do Sal, Sines, Grândola e Odemira. Na ULSLA (que inclui os cinco centros de saúde da região), só os centros de Odemira e o de Alcácer do Sal funcionam 24 horas.
As demissões em bloco em vários hospitais do país têm-se sucedido ao longo dos últimos meses. Pediram para sair direcções de serviços clínicos e de urgências, alegando falta de condições de trabalho e falhas na qualidade assistencial dos doentes.
Este mês, 28 dos 33 directores do serviço de urgência do Hospital de Amadora-Sintra colocaram o lugar à disposição, argumentando que a direcção clínica e a a administração "não têm conseguido defender os interesses das populações que esta serve”. A administração nomeou uma nova directora clínica e os médicos mantêm-se em funções interinas, mas continuam demissionários.

Problemas das urgências do Garcia de Orta continuam na ordem do dia 
Chefes das urgências do Garcia de Orta ainda estão demissionários 
Entretanto, o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos defendeu esta quinta-feira que os problemas no Hospital Garcia de Orta (Almada) se mantêm, após a demissão de sete chefes de equipa de urgência, em Janeiro passado.
Acompanhado pelo presidente da Câmara de Almada, Joaquim Judas , e por elementos da comissão de utentes, Jaime Mendes reuniu-se com a administração do hospital e, no final, declarou à Lusa que a situação "não é culpa dos profissionais nem da administração". "A responsabilidade é do ministério e da ARSLVT [Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo], porque são eles que decidem. Apenas aumentaram mais 16 camas, o que é muito pouco, o resto está tudo na mesma", lamentou.
Jaime Mendes enfatizou que é preciso contratar médicos sem recorrer às empresas de prestação de serviços (os chamados "tarefeiros") e afirmou que a radiologia da urgência do Garcia de Orta "continua a não funcionar depois das 20 horas, o que é grave para os doentes". Segundo descreveu, no primeiro andar da urgência, que esta quinta-feira tinha um tempo médio de espera de seis horas, estavam "mais de 50 macas [ocupadas] à espera de um destino" para os doentes.
Sobre os responsáveis dos serviços que se demitiram, Jaime Mendes referiu que a informação que tem é que estes estão a trabalhar mas continuam demissionários.

Agência de Notícias

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