Tragédia do Meco mergulhada em suspeitas

Pais das vítimas avançam com queixa contra sobrevivente

Familiares das vítimas mortais no Meco vão avançar com uma queixa contra João Gouveia, líder da comissão de praxes da Universidade Lusófona de Lisboa que, juntamente com seis colegas, se dirigiu para Alfarim, em Sesimbra, para realizar uma espécie de ritual da praxe. Em declarações ao jornal "i", elementos da Polícia Marítima de Setúbal afirmam não compreender também este silêncio. Ao mesmo tempo há a suspeita de que uma segunda pessoa terá estado no areal no momento da tragédia: um ex "Dux" da Lusófona. A denúncia de uma familiar das vítimas é confirmada por alunos da universidade. Por seu lado, a Universidade diz que é preciso trabalhar no sentido do "cabal esclarecimento" do que se passou. 

Famílias regressaram no passado sábado à praia para lembrar tragédia 

Alguns membros da família das vítimas acreditam que o jovem, único sobrevivente na madrugada de 15 de Dezembro, não quer dirigir-se aos pais nem às autoridades, por ter presente um sentimento de culpa.
Uma fonte policial próxima à investigação explica que "houve já casos aparentemente mais complicados em que quem presenciou o acidente acabou por contar todos os episódios à comunicação social e aos familiares das vítimas".
Os familiares admitem ainda a possibilidade de ter estado outra pessoa presente no areal. Carla Rocheta, prima de Joana Barroso (vitima da tragédia), afirma que obteve informação através de alunos da Universidade Lusófona de que "houve uma segunda pessoa na praia para além do sobrevivente. Ao que parece um jovem também ligado às praxes". Esta pessoa seria um antigo coordenador e representante das comissões de praxes da universidade, que terá ajudado João Gouveia naquela madrugada.
Carla Rocheta afirma ainda que os familiares "não sabem nada do que se passou", compreendendo que o sobrevivente possa estar "psicologicamente afetado", mas salientam a necessidade em que este esclareça todos os factos sobre aquela noite que permanecem silenciados.
A mãe de Catarina Soares, Fernanda Cristóvão, também quer perceber o que se passou na noite do acidente. “Preciso de saber o que se passou com a minha filha desde que ela saiu de casa até ao momento da tragédia”, admite. Até agora, não falou com os amigos da filha, nem tentou investigar o que se passou. “A única coisa que tentei saber era se conseguia aceder ao código ético das praxes”, revela Fernanda Cristóvão, que se recusa a fazer especulações sobre o que aconteceu naquela noite ou a apontar o dedo a alguém.

Silêncio perturbador
Mariana Barroso confessa-se confusa e lamenta que haja “tanta coisa misteriosa” neste caso. “Estranho que eles não tenham levado pijamas. Também não percebo porque sem a nossa autorização deixaram tirar os objectos pessoais deles do apartamento onde ficaram e os levaram para a Lusófona”, exemplifica a mãe de Joana.
Não saber o conteúdo das praxes que se terão realizado naquele fim-de-semana também a incomoda. E queixa-se que os colegas da faculdade da filha não falam. “Está tudo envolvido em secretismo”, critica. “Dizem só que eram tudo brincadeiras para elas se tornarem mais mulheres”, refere Mariana Barroso, que não sabe especificar bem o teor das praxes, que passariam por provas de resistência.
Quem poderá retirar algumas das dúvidas sobre o que se passou é o único sobrevivente do acidente, explicando nomeadamente porque os sete estudantes foram para a praia de traje académico, percorrendo cerca de sete quilómetros a pé.
Segundo algumas notícias, João Gouveia “tem estado a receber apoio psicológico, considerando o técnico que o acompanha que ele ainda não está em condições de falar sobre o que aconteceu no Meco”.

Polícia Marítima vai ouvir testemunha em breve
Familiares apenas querem saber como tudo aconteceu no Meco 
João Gouveia, Dux que liderava na altura [já foi substituído por um colega] a comissão de praxes, vai ser ouvido em breve pela Polícia Marítima (PM) de Setúbal em quem o Ministério Público delegou a audição. “Já recebemos a solicitação e já nomeamos um agente da secção de Justiça para a realizar”, explica fonte oficial da PM de Setúbal, que não sabe se o interrogatório já está agendado. “Não foi apresentada qualquer queixa por parte dos familiares dos jovens falecidos, tendo apenas um familiar efectuado um requerimento solicitando que o jovem sobrevivente fosse inquirido a fim de relatar o que aconteceu no dia dos factos. O Ministério Público ordenou a inquirição, na qualidade de testemunha, do sobrevivente”, refere a Procuradoria-Geral da República, que adianta que "não existem, por enquanto, quaisquer elementos que indiciem a prática de crime".

Estado dos corpos inviabilizou colheita de amostras
O elevado estado de decomposição dos corpos de cinco dos seis estudante da Universidade Lusófona que morreram numa praia no Meco, Sesimbra, em Dezembro passado, não permitiu que fossem colhidas amostras para fazer testes de despistes de droga e álcool, que poderiam trazer mais alguma luz sobre o que se passou naquela madrugada trágica.
Tal só foi possível no caso de Tiago André Campos, estudante do curso de Comunicação Aplicada ao Marketing, Publicidade e Relações Públicas, que foi a primeira vítima mortal a ser encontrada, umas horas depois do acidente.
“Foram colhidas amostras e os exames estão em curso, mas ainda não temos resultados”, escreve a edição do jornal Público, citando uma fonte do Instituto de Medicina Legal que garantiu que todos os dados serão remetidos para o Ministério Público.

Lusófona manda abrir inquérito 
Único sobrevivente continua em silêncio absoluto 

Esta segunda-feira, a Universidade Lusófona anunciou, através da agência Lusa, que vai abrir um inquérito interno para "aclaração dos factos" ocorridos na praia Moinho de Baixo, no Meco, em Sesimbra, e "lançar luz sobre a génese do acontecimento" que vitimou os seis estudantes daquela instituição de ensino superior.
Num despacho conjunto do reitor da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Mário Moutinho, e do administrador Manuel Damásio, datado desta segunda-feira, a universidade determinou "abrir um inquérito para aclaração dos factos que tiveram lugar durante o fim-de-semana em que ocorreram as mortes dos estudantes".
No despacho da Lusófona considera-se que "decorrida esta etapa de gestão da dor que atingiu tão fortemente as famílias das vítimas", e que teve também "acentuada intensidade no país", este é o momento em que "se impõe lançar luz sobre a génese do acontecimento", pelo que importa trabalhar no sentido do "cabal esclarecimento do que aconteceu naquela noite na praia do Meco".

Comissão da Praxe em silêncio

Antes, nem a Universidade Lusófona nem a associação académica da instituição comentaram as notícias várias que têm vindo a público, nomeadamente as avançadas pelo Jornal de Notícias e pelo Correio da Manhã, de que esteve mais uma pessoa na praia além do sobrevivente e de que na sexta-feira o Dux da Comissão de Praxes foi “destituído” pelos colegas, na sequência deste caso. Fábio Jerónimo, um Dux Honorário, estará agora a substitui-lo na comissão de praxe.

Agência de Notícias
Leia outras notícias do dia em www.adn-agenciadenoticias.com 

Comentários