Comerciantes históricos despejados da Rua Augusta


Habitação de luxo na principal rua de Lisboa

Os sete comerciantes de um edifício da Rua Augusta, em Lisboa, receberam no final de Janeiro uma carta de cessação de contrato e têm até Agosto para saírem. Mas não se conformam com as indemnizações propostas pelo senhorio. Uma imobiliária alemã adquiriu o edifício para lojas e habitação de luxo.

Alemães tiram comerciantes históricos da Rua Augusta 

O prédio vai ser alvo de obras de reconstrução para dar origem a uma loja de dois andares e habitação de luxo.
A lei do arrendamento urbano, aprovada em Agosto do ano passado, prevê "para demolição ou realização de obra de remodelação ou restauro profundos" o pagamento de uma indemnização correspondente a um ano de renda nos contratos cessados.
A Ourivesaria Granada, que desde 1975 faz esquina com a Rua da Vitória, é gerida por Horácio Zagalo, que não esconde o seu descontentamento. "Temos um Governo que, em vez de nos defender, nos asfixia." Em causa está o valor proposto pelo senhorio para a indemnização relativa ao fim do contrato de arrendamento: 3300 euros. "Não paga os vidros que pusemos nas montras", diz.
No primeiro andar fica o Cabeleireiro Style, de Anabela Azevedo e Maria Isabel Oliveira. Em 35 anos que já levam na casa, "o investimento do senhorio foi zero, nem um prego pregou", dizem. Segundo as duas sócias, o investimento no salão - que existe desde 1942 - foi grande, devido a constantes inundações.
Com 61 e 55 anos, respectivamente, nem Anabela nem Maria Isabel pensam mudar-se para outro sítio e não têm esperanças de encontrar facilmente um novo trabalho. "Nem ao subsídio de desemprego temos direito. Com a nossa idade, já temos dificuldade em arranjar emprego", diz Anabela.
Na porta ao lado da ourivesaria, já na Rua da Vitória, fica o Oculista Pereira, fundado em 1943 pelo pai de Joaquim Pereira. "Quero é sopas e descanso, mas não com esta indemnização", que diz andar perto dos quatro mil euros. Também ele partilha da opinião que "o senhorio deixou o prédio totalmente degradado".

Imobiliária alemã transforma edifício  
O edifício faz gaveto entre a Rua Augusta e a Rua da Vitória e, por estar inserido na Baixa pombalina, não pode sofrer alterações na fachada. O rés-do-chão e o primeiro andar - além da ourivesaria, do oculista e do salão de cabeleireiro - são ainda ocupados por uma sapataria, uma casa de câmbios e uma loja de souvenirs. Os andares superiores estão ao abandono e o telhado tem uma cobertura plástica para prevenir inundações.
A partir de Agosto, se o processo terminar aqui, o prédio - que pertence a uma holding da imobiliária alemã Centrum - entrará em obras para passar a ter uma loja única no rés-do-chão e primeiro andar, de 450m2, e habitação de luxo nos restantes. Os lojistas já contactaram advogados e estão a estudar cenários.

Agência de Notícias 

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