Miguel Relvas vaiado em direto na TVI

Estudantes obrigam ministro a “fugir” da conferência onde iria falar 

Um grupo de manifestantes interrompeu a conferência comemorativa dos 20 anos da TVI e vaiou o ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares. Perante a agitação, Miguel Relvas não conseguiu iniciar o discurso e abandonou as instalações onde decorria a cerimónia, escoltado por seguranças. Relvas que já na segunda-feira tinha sido “vaiado” em Vila Nova de Gaia não é o único a quem milhares de portugueses prometem cantar “Grandola Vila Morena” que por estes dias é a “senha” dos protestos de Fevereiro e Março. Vítor Gaspar, amanhã, é o próximo “alvo” dos protestos. E não promete ficar por aqui… 

Alunos não deixaram Relvas falar em conferência da TVI 

Absoluto desnorte. Foi essa a sensação que Miguel Relvas viveu ontem durante os minutos em que tentava abandonar o ISCTE, em Lisboa, depois de ter sido impedido de discursar pelos estudantes, no encerramento de uma conferência da TVI sobre o futuro do Jornalismo. O ministro quis enfrentar os cerca de 50 jovens que exigiam a sua demissão e sair pela mesma porta por onde tinha entrado menos de meia hora antes. Mas, ao recusar seguir o protocolo alternativo que a equipa de segurança tinha preparado, Relvas teve de ser “resgatado” por um grupo de alunos de mestrado, que facilitaram a entrada para uma das salas mais próximas do Auditório da universidade. A intervenção – dizem alguns jornais – foi organizada por elementos do grupo “Que se lixe a troika” – como forma de promover a manifestação do dia 2 de Março – e por um conjunto “independente” de estudantes universitários. 
Logo à entrada para o auditório – e menos de um dia após ter sido confrontado com protestos em Gaia –, o ministro foi recebido com um forte “não nos calam” da assistência, cartazes de protesto e uma faixa onde se lia “Não validamos esta política, não vamos ficar parados”. Minutos depois, quando subiu ao palco para encerrar a conferência, ouviu-se a frase “estudantes, unidos, jamais serão vencidos”. Com uma expressão fechada, o ministro esperou durante cerca de três minutos para falar, mas, perante os protestos incessantes e o grito de “demissão, demissão, demissão”, Relvas acabou por desistir e voltou a sentar-se na primeira fila do auditório. 


Relvas resgatado por alunos do mestrado
 
Nesse momento, os elementos da segurança pessoal do ministro terão proposto uma saída alternativa pelo fundo do auditório, mas, segundo fontes da segurança do ISCTE, Relvas recusou virar as costas ao protesto, optando por subir as escadas e sair pela porta principal da sala, seguido para o exterior pelo conjunto de manifestantes. Foi já fora do espaço que os estudantes rodearam o ministro, deixando o corpo de seguranças pessoal sem noção de como abandonar o edifício, abrindo e fechando portas em busca da saída. Na sala do centro de investigação para onde acabou por entrar, um dos alunos que ali se encontravam contou ao jornal I que Miguel Relvas terá dito não ter “medo” dos protestos, ao contrário do ministro dos Negócios Estrangeiros, cuja presença na conferência estava prevista para a manhã de ontem. Paulo Portas não compareceu, mas
fonte do gabinete do ministro explicou ao mesmo jornal que Portas está doente desde Domingo”, razão pela qual se viu obrigado a “cancelar toda a agenda do dia” de ontem. A ausência na conferência terá mesmo sido comunicada à organização ainda durante o fim-de-semana. 
Cerca de 20 minutos depois de ter chegado, o ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares acabou mesmo por abandonar o edifício por uma porta secundária, ao som de Grândola Vila Morena e sem ter pronunciado uma palavra. 

Passos Coelho lamenta situação 

O gabinete do primeiro-ministro reagiu com rapidez ao incidente e disse lamentar “as circunstâncias anómalas” que levaram Relvas a abandonar o auditório do ISCTE, e a garantir que “nunca se deixará condicionar” no “exercício constitucional das suas funções”. O gabinete de Miguel Relvas, apesar da subida da contestação, garante que não vai reforçar a sua segurança. 

Grândola Vila Morena é a nova senha de protesto 
Manifestações espontâneas irão continuar a existir até 2 de Março  

A canção que marcou o 25 de Abril em Portugal tem sido também usada como “senha” dos protestos dos últimos dias contra o governo. Foi assim no debate quinzenal no Parlamento, na segunda-feira num debate em Vila Nova de Gaia onde Relvas era o convidado, e voltou a ser agora no ISCTE. 
Paulo Raposo, do movimento “Que se lixe a troika”, garante que as manifestações vão continuar “até ao dia 2 de Março, mas provavelmente até depois”, e prevê que os versos de Grândola “ainda vão ecoar no coração da Europa”. 
A agenda daquilo a que alguns já chamam de “flash mob Grândola” não é revelada pelos organizadores da intervenção com o argumento de que “o segredo é a alma do protesto”. Sabe-se apenas que, no dia da manifestação – com o lema “o povo é quem mais ordena” –, está previsto que em todo o país se cantem os versos da canção de Zeca Afonso em conjunto, pelas 19 horas. 
Até esse momento, Paulo Raposo sugere que, “de cada vez que um português encontre um ministro, um secretário de Estado ou um banqueiro na rua, cante-lhe a Grândola”. A canção foi escolhida como “senha” da manifestação de Março por “apelar àquilo de que a troika se esqueceu: os valores de igualdade, de liberdade e de fraternidade”. 

Gaspar, o próximo a ouvir Grândola 
Os Indignados Lisboa, outro grupo de activistas, recordou ao longo de toda esta terça-feira, no Facebook, que Miguel Relvas iria estar no ISCTE às 17 horas, sugerindo – sem apelar directamente – a manifestação que acabou por acontecer. O mesmo colectivo, de novo na sua página naquela rede social, sugeria a "próxima paragem" para os protestos: as jornadas que o PSD dedica ao tema "Consolidação, crescimento e coesão", na quinta-feira, num hotel de Lisboa. Isto porque o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, integra o programa. "Vamos continuar", escrevem, num outro post.

Agência de Notícias 

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